Autor Tópico: Uma foto se sustenta sozinha?  (Lida 4790 vezes)

Kika Salem

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Online: 02 de Agosto de 2009, 15:42:19
Esse texto é uma resposta ao tópico abaixo, mas como fugi do assunto central, criei um novo tópico para se discutir a construção da imagem.
http://forum.mundofotografico.com.br/index.php?topic=34539.0

Uma imagem descolada de uma série de fatores não é capaz de se sustentar sozinha. Ao contrário, ela dialogo com uma série de linguagens - visual, obviamente, mas também a narrativa e a poética -, além de uma gama de informações - de natureza sociológica, histórica, biográfica, técnica e estética.

Baseado nesse conjunto de elementos, a análise da fotografia não se sustenta apenas no que vemos de imediato (a informação visual direta), mas também no que está ali representado, mas que nem todos têm dimensão que existem (elementos implícitos, por exemplo).

Portanto, a análise de uma fotografia requisita uma abordagem interdisciplinar. Como afirmou Charles Perrone, num livro de análise sobre o registro musical, a análise de uma obra por apenas um viés (seja ele estético, técnico, biográfico, histórico etc.) pode ser válida em muitos casos, mas será sempre arbitrária e incompleta. O autor referia-se aos trabalhos que separam letra e música, aqui podemos pensar nas análises que supervalorizam a técnica em detrimento de outros elementos como a composição ou vice-versa.

A fotografia, por sua vez, não deve ser reduzida ou submetida ao contexto que a gerou, pautando-se por esquemas reducionistas e simplistas do tipo ação/reação, como se fosse uma conseqüência direta e sem mediação do contexto de produção simplesmente.

Portanto, o registro fotográfico, enquanto conjunto e complemento, deve ser analisado de acordo com os parâmetros visuais, poéticos e narrativos, aliados ao sentido cultural, social, estético e tecnológico.

No entanto, penso que a separação de tais vetores pode ser consentida para fins didáticos ou comunicativos.

Sem nenhum rigor, selecionei exemplos aleatórios para tratar de alguns desses parâmetros.

Vou dizer uma coisa aqui que pode parecer polêmica, embora pra mim não seja.
No meu modo de ver, a foto que deu origem ao tópico não teria nenhuma relevância se não estivesse atrelada ao contexto histórico, não fosse considerada as limitações técnicas da época assim como as especificidades da fotografia de guerra, nem tivesse inserida num conjunto maior que é a obra de Robert Capa. Uma análise dela, portanto, deveria eleger como elementos importantes, entre outros: o contexto, a técnica, o fotógrafo e a especialidade.


A foto abaixo é outro exemplo. Quando eu folheei um livro do autor dela, eu destaquei-a como uma das minhas preferidas. Se fosse eu quem a tivesse feito, uns iam gostar, outros iam achar sem graça, alguns até iam me chamar de saudosista porque estaria empregando uma técnica que não condiz com o meu tempo. De todo modo e apesar das opiniões divergentes, ela com certeza não entraria para a história da fotografia, por um simples motivo: se feita por mim, ela não faria parte de um conjunto de fotos importantes nem seria de um autor com uma trajetória destacada.

É por isso que eu não vejo sentido quando alguém pega uma foto aleatória, sem indicar o autor da imagem nem outro elemento qualquer, e pergunta aos colegas do fórum o que eles vêem de interessante naquela imagem, baseando-se ora na crença de que uma foto se encerra em si mesma, ora na tentativa de se autoafirmar. Em alguns casos, soa como se dissesse: "- Vejam vocês, como minhas fotos são superiores a esta (e às vezes podem até ser dependendo do que elegemos como "superior"), mas, no entanto, eu não integro a história da fotografia, mal consigo manter-me com o que eu ganha com ela" (quando ganha obviamente).

Não quero, ao dizer isso, constranger alguém (falo genericamente), mas mostrar o quão inconsistente é a iniciativa porque uma foto, assim como outras representações, está intrinsecamente relacionada ao universo que a compõe, um universo extremamente rico em se tratando de magia/arte/técnica/política (trocadilho com o livro do W. Benjamin), nem um pouco limitado a um único fator.


A foto abaixo, ao meu ver, é parente próximo da música "Samba de uma nota só" ou então da "Desafinado", pra fazer a analogia com a música novamente, embora seus autores fossem de nacionalidades diferentes e nem se conheceram.
Esta foto pode ser bonita para uns, feia para outros e não representar nada para muitos, do mesmo jeito que a canção não significou nada para aqueles que nunca ouviram falar ou ouviram vagamente sobre metalinguagem. (Só pra lembrar, já vi uma análise bem interessante desta foto neste fórum, se não me engano).


A imagem abaixo também não significaria nada, nem pra mim nem pra ninguém, se não soubéssemos sobre que circunstâncias ela foi produzida, sobre as dificuldades técnicas, o caráter experimental e, principalmente, sobre a importância do seu autor na história da fotografia. Portanto aqui elementos como técnica, contexto e fotógrafo são imprescindíveis para validar a importância dela num contexto mais amplo.


A foto abaixo talvez não representasse nada se fosse de uns bêbados comuns, feita por mim aqui no bar da esquina, mas como se trata de grandes nomes da MPB, feita num momento de descontração, por um importante fotógrafo brasileiro, ela adquire outro significado.


Enfim, nem vou tocar no assunto das intenções do trabalho (se visa lucro, não visa, se foi feito por encomenda, não foi) nem do público receptor que também são importantes, mas tenho a sensação de que comecei a fugir do assunto, como sempre.

Antes de concluir, gostaria de dizer que, mesmo considerando todos os elementos expostos acima, dificilmente a análise de uma fotografia será igual para mais de uma pessoa. O caráter polissêmico de uma foto, de uma imagem, pode sugerir múltiplos sentidos, dependendo de como é percebido e observado, por um determinado indivíduo, o entrelaçamento das instâncias que a compõem. Conseqüentemente, várias interpretações podem ser realizadas a respeito de um mesmo fotógrafo ou de uma mesma fotografia.

***

Devo lembrar que isso é apenas um exercício de análise, não é resultado de um amplo conhecimento da área nem tampouco de leituras realizadas com algum rigor/disciplina, apesar de ter algum embasamento por ter, outrora, abordado um assunto afim.
« Última modificação: 02 de Agosto de 2009, 19:04:33 por Kika Salem »


rafaelfrota

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Resposta #1 Online: 02 de Agosto de 2009, 19:45:49
Olá Kika...vc, como sempre, criando tópicos de conteúdo.
Deixa eu me meter nesse meio:

Citar
A construção de uma imagem não se realiza por si só, isto é, uma imagem descolada de uma série de fatores não é capaz de se sustentar sozinha.

Isso me faz lembrar da frase de Stanley Kubrick, em relação ao seu filme 2001:

"How could we possibly appreciate the Mona Lisa if Leonardo had written at the bottom of the canvas: 'The lady is smiling because she is hiding a secret from her lover.' This would shackle the viewer to reality, and I don't want this to happen to 2001."

De fato, sim, uma imagem pode (e até em alguns casos deve) se sustentar sozinha.  Isso faz parte do proprio contexto do trabalho.
Uma imagem é boa, independente de quem a fez e do contexto a qual ela pertence, salvo se o proprio autor faz questao de atrelar algum sentido a ele. Durante quase toda historia da arte o significado das obras não tinham nenhuma ligação com a obra. A unica relaçãio textual que se ligava a imagem era o título, e quando havia.
Nao quero dizer com isso que os outros aspectos sejam totalmente irrelevantes. Eles podem funcionar como camadas, mas quando eles se sobrepõem a propria peça, é significante que ela nao tem poder em si e nao cumpre seu dever enquanto linguagem visual (sendo apreciada apenas em questões historicas ou semióticas).

Destaco aqui o texto de Luli Radfahrer:
http://www.luli.com.br/2008/04/23/delacroix-e-layers-sem-photoshop/

A fotografia, porém, tem uma ala que trabalha bastante o cognitivo: o fotojornalismo.  Essa está tão enraizada com o conhecimento do fato que é impossivel separá-lo da propria figura.  Por exemplo, a fotografia de Che Guevara feita por Korda seria apenas mais uma foto de um maluco barbudo qualquer se nao tivessemos conhecimento quem é o retratado. O que nao quer dizer que seja boa ou ruim. Eu, particularmente acho péssima.


São 2 caminhos muito diferentes e cada um tem seu cada um. Mas o que nao pode ser dito é que TODA fotografia nao se encerra em si mesmo, pois aí estariamos tirando do métier os fotografos que conhecidamente fazem trabalhos estéticos, sem nenhum dado cognitivo relevante.

Podia ser uma foto de qualquer um daqui. E não é porque é da Irina Ionesco que é boa. Aliás, é boa? Depende...

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Baseado nesse conjunto de elementos, a análise da fotografia não se sustenta apenas no que vemos de imediato


No filme "o sorriso de Mona Lisa", a professora de história da arte apresenta uma foto de sua mãe e pergunta se é arte. Uma aluna responde "é apenas uma foto". Ela responde: "faria diferença se foi tirada por Ansel Adams?"

De fato acho muito conveniente apreciar algo que é unânime. Do tipo "foi feita por fulano" ou "quis dizer tal coisa", como em uma prova de titulação. Por que uma fotografia nao pode se sustentar em si mesma? Porque se for assim vale muito mais a pena investir no proprio nome do que em fazer algo bom. Por que investimos anos e anos em conhecimento se no final o que importa é o contexto que está inserido e o valor do seu nome?
Em meu caso pessoal, raraemnte eu me questiono sobre quem, quando, como e onde uma obra de arte visual foi feita. Porque confio no poder de uma imagem se sustentar por si só. Em nenhum momento analises semióticas ou historicas sobre meus idolos artisticos fazem diferença, nem elevam a experiencia do que vejo, nem agregam qualquer valor.

Obvio que alguns casos fogem a regra. Mas pra mim trabalho bom é trabalho bom e trabalho ruim é trabalho ruim. Pra mim é pra muita gente.

Pra mim, depender de uma analise semiotica de uma fotografia para poder dar um parecer, em muitos casos, é tao estéril quanto saber quem está cantando uma musica pra poder falar dela. Cucurucucu paloma não é boa só porque caetano regravou. Que por sinal ficou um lixo  :hysterical:

Falo por mim sem a menor culpa: nao tenho muita simpatia por Cartier-Bresson, poucas as fotos do Ansel Adams me agradam e detesto Sebastião Salgado.
aí poderia ouvir: "ohhhhhhhhhh mas são ícones da fotografia, com trabalhos reconhecidos mundialmente, e pertencem ao contexto tal". No que eu respondo: "f¨%$#-se!!!".

Foto by Ansel Adams

Coloque no Corredor Polonês e choverão críticas. Aliás já consigo imaginar a frase "o corte na perna desvalorizou a foto"


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a análise de uma obra por apenas um viés (seja ele estético, técnico, biográfico, histórico etc.) pode ser válida em muitos casos, mas será sempre arbitrária e incompleta.

Qualquer análise é arbitrária e incorreta se não for fornecido todos os dados pelo próprio autor. E mesmo assim, é bem possível estar incompleto e é absolutamente arbitrário. É como análise de um texto na escola: vc analisa o que a tia quer e não necessariamente o que está escrito. Queria ver analisarem o Finnegans Wake.


riverrun, past Eve and Adam's, from swerve of shore to bend
of bay, brings us by a commodius vicus of recirculation back to
Howth Castle and Environs.


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aqui podemos pensar nas análises que supervalorizam a técnica em detrimento de outros elementos como a composição ou vice-versa.

Estive esses dias olhando o corredor polonês. Vejo algumas coisas que honestamente me dão arrepios, mas que retratam bem como as coisas funcionam.
Ficaria melhor "mais claro", "mais escuro", "mais pra lá", "mais pra cá". Tecnicidades sempre acabam caindo pq é o que mais chega perto do "discutivel". Lembro de uma vez que eu comentei com uma professora se, em determinado trabalho dela, não teria sido melhor adicionar tal elemento. Ela respondeu: "o trabalho é meu e eu faço nele o que eu quiser. Se fosse melhor da forma que vc disse, seria o seu trabalho e não o meu".

Seu sobrinho desenha MT melhor!


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A fotografia, por sua vez, não deve ser reduzida ou submetida ao contexto que a gerou, pautando-se por esquemas reducionistas e simplistas do tipo ação/reação, como se fosse uma conseqüência direta e sem mediação do contexto de produção simplesmente.

Esse esquema "reducionista e simplista" foi defendido por Immanuel Kant no tratado "a crítica do Juizo". Se certa forma as coisas mais complexas têm origem na simplicidade. E o ato de analisar criticamente tem essência simples.

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a foto que deu origem ao tópico não teria nenhuma relevância se não estivesse atrelada ao contexto histórico, não fosse considerada as limitações técnicas da época assim como as especificidades da fotografia de guerra, nem tivesse inserida num conjunto maior que é a obra de Robert Capa.

Não, não teria. Seria uma foto como qualquer outra porque É como qualquer outra. Se fizer uma analise historica, terá muito o que ser dita. mas enquanto figura, analise plastica, é como qualquer outra. Tem relevancia pra uns, pra outros não. Assim como qualquer obra visual. Se fosse pra saber sobre historia, eu prefiro ler um livro.
Uma coisa é analisar umam imagem outra coisa é analisar a historia dela. da mesma coisa que saber filosofia nao é saber da história da filosofia.

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Esta foto pode ser bonita para uns, feia para outros e não representar nada para muitos, do mesmo jeito que a canção não significou nada para aqueles que nunca ouviram falar ou ouviram vagamente sobre a metalinguagem. (Só pra lembrar, já vi uma análise bem interessante desta foto neste fórum, se não me engano).

A foto abaixo talvez não representasse nada se fosse de uns bêbados comuns, feita por mim, aqui no bar da esquina, mas como se trata de grandes nomes da MPB, feita num momento de descontração, por um importante fotógrafo brasileiro, ela adquire outro significado.

Sem medo de parecer burro: pra mim a foto dos 3 nao vale nada, assim como a música. Conhecer metalinguagem, conhecer os dados semioticos da foto e da musica nao me faz agregar nenhum valor. É pessoal...assim como boa parte das analises são. Alias, a bossa nova pode ter o valor que for para o brasil, mas eu acho um verdadeiro PORRE.
Em compensação, a foto da modelo, pra mim, independente de quem, como e onde, é magnifica. É tudo uma questão MT pessoal e universalizar esses aspectos não é possível.


Pra concluir, eu tenho um artigo mais ou menos sobre esse assunto no portal Aguarrás: http://aguarras.com.br/2009/07/20/segundas-intencoes/. Acho que diz mais ou menos como raciocino sobre o tema.

E você, Kika, sempre de parabéns por levantar a bandeira dos tópicos com conteúdo


pedro_raythz

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Resposta #2 Online: 03 de Agosto de 2009, 00:44:19
 :clap: Vou acompanhando lendo, já que não tenho nada de útil a acrescentar...
Engraçado que sempre que vejo a foto da modelo, lembro do quadro "As Meninas", de Velasquez rs


Marcelo Favero

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Resposta #3 Online: 03 de Agosto de 2009, 08:38:37
Não sei... tenho comigo uma visão simplória de que o autor tem obras. A obra pode ser uma foto, pode ser um ensaio, pode ser um conjunto, pode ser uma vida. Então sempre haverá contexto, mesmo que o contexto seja a foto isolada do autor, o contexto seja "qualquer contexto".
Eu, particularmente, num conceito que aprendi em propaganda, acho que melhor é a imagem quando pode se explicar sozinha. Acho que deve chegar às pessoas. Gosto do obra fluída. A arte pode e é em muitos casos um reflexo do espectador. O toca pela sua leitura individual, e não pela mensagem do autor. E seu valor estará em poder despertar a arte dentro de quem a vê.
Acredito, ainda muito particularmente, que o contexto pode e deve acrescentar. Mas se for sustentar, pela obra como um todo, pelo momento sociocultural, político ou pessoal, pela essência do autor e etc, então a imagem estará sempre sujeita ao seu conhecimento, à sua virtude, às redescobertas, à alternância de valores e às releituras.


Belo tópico, mas minha visão é simplória, eu sei.

Abraços
Marcelo dos Santos

Associado Fototech


Kika Salem

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Resposta #4 Online: 03 de Agosto de 2009, 09:13:04
:clap: Vou acompanhando lendo, já que não tenho nada de útil a acrescentar...
Engraçado que sempre que vejo a foto da modelo, lembro do quadro "As Meninas", de Velasquez rs

Pedro:

Numa análise antiga, acho que o Ivan fez uma analogia entre a foto e o quadro. Vou procurar o link para indicar a fonte.
« Última modificação: 03 de Agosto de 2009, 10:36:36 por Kika Salem »


Kika Salem

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Resposta #5 Online: 03 de Agosto de 2009, 09:57:51
De modo geral, vou fazer a mea-culpa.

Hoje tenho a lúcida sensação de que não só fugi do assunto como confundi as estações ao tratar de duas abordagens diferentes, sob o mesmo prisma. Ainda bem que têm vocês pra me sintonizar.

Se eu tivesse me concentrado na análise da foto como registro histórico como foi a intenção inicial a partir da foto do Capa e dos exemplos do Niépce e do Teixeira não teria misturado tanto as coisas. Mas como selecionei outros exemplos aleatórios como o Brandt e o Helmut fiz uma salada mista. Também não devia ter tratado como sinônimos os termos imagem e fotografia, complementares, porém distintos.

Uma coisa que ficou claro depois desse tópico é que a análise também se desdobrada em muitas abordagens. Uma coisa é a análise do registro que depende de fatores externos, inclusive, outra é a análise artística cuja foto pode se sustentar em si mesma, embora também possa tornar-se um registro.

Acho que separando as coisas desse modo, eu atendo aquilo que o Marcelo disse.
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Acredito, ainda muito particularmente, que o contexto pode e deve acrescentar. Mas se for sustentar, pela obra como um todo, pelo momento sociocultural, político ou pessoal, pela essência do autor e etc, então a imagem estará sempre sujeita ao seu conhecimento, à sua virtude, às redescobertas, à alternância de valores e às releituras.

***

De modo particular, vou entrar na questão do gosto, que cada um tem o seu, então não deve ser necessariamente um critério para análise.

Eu, particularmente, gosto do retrato do Che Guevara, nele vejo força, embora tecnicamente pareça subexposto.

A foto da Ionesco não sei dizer se é boa, só penso que bonita não é, mas beleza nem importa nesse caso, afinal imagino que a foto não foi feita para a capa de uma revista comercial.

Sobre Cartier-Bresson, Ansel Adams, Sebastião Salgado e Bossa Nova eu gosto, já devo ter dito isso aqui, mas se não gostasse também seria um direito meu. No entanto, o fato de eu não gostar não anula a qualidade artística das suas fotografias ou das músicas nem tampouco minimiza a importância deles num determinado cenário.

Do Kant eu nem vou tratar porque hoje eu acordei com juízo, ao contrário de ontem. (trocadilho tosco)

Rafael, ri muito aqui das seguintes passagens:

Citar
"o trabalho é meu e eu faço nele o que eu quiser. Se fosse melhor da forma que vc disse, seria o seu trabalho e não o meu".

Citar
Se fosse pra saber sobre historia, eu prefiro ler um livro.

Citar
Sem medo de parecer burro

Bem, independente das minhas incongruências iniciais e dos seus gostos pessoais, acho a discussão sempre válida não só para exteriorizar perpectivas distintas, mas não deixa de ser uma forma de troca, embora eu não te influencie quando digo que a música do Tom é de excelente qualidade nem você quando diz que a foto dos três não vale nada porque desconsidera o valor documental. De todo modo, nós concordamos em dois pontos: Caetano Veloso é, de fato, um chato de galocha e discussões com conteúdo não são só necessárias como imprescindíveis.

Obrigada Rafael, Pedro e Marcelo por sempre estarem atentos aos meus devaneios.

Que a discussão continue se alguém mais se interessar por ela.

Abração.




« Última modificação: 03 de Agosto de 2009, 11:27:19 por Kika Salem »


Kika Salem

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Resposta #6 Online: 03 de Agosto de 2009, 10:39:09
Pedro:

Numa análise antiga, acho que o Ivan fez uma analogia entre a foto e o quadro. Vou procurar o link para indicar a fonte.


Achei:
http://forum.mundofotografico.com.br/index.php?topic=9174.0


rafaelfrota

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Resposta #7 Online: 03 de Agosto de 2009, 14:17:38
Kika, só complementando algumas coisas:

Citar
De modo particular, vou entrar na questão do gosto, que cada um tem o seu, então não deve ser necessariamente um critério para análise

Eu fui extremamente pessoal em algumas analises até de propósito. Acredito, não empiricamente, que o juizo analitico de obras visuais esta até certo ponto atrelado ao juizo de gosto, sendo este boa parte fruto da experiência pessoal. Por isso citei Kant.
O fato do gosto pessoal estar em análise foi mais uma provocação do que qq outra coisa  >:D mas de certa forma serve bem para deixar claro o meu ponto de vista.  E só quero deixar claro que uma analise pessoal nao invalida o objeto dentro de um contexto universal. Por exemplo, o fato de eu nao gostar muito das fotos de Bresson obviamente nao significa que não tenham valor artistico (ou seja lá o que for) para a humanidade. A unica coisa que eu quis frisar é que não é porque o artista é uma autoridade mundial que ele tem que ter o mesmo valor para cada pessoa e que irrelevar o trabalho de um "Mestre" é algo natural ao processo analitico e que, no final das contas, só serve mesmo para conectar o trabalho a um contexto historico e não "pictografico".
Uma vez no atelier de litografia da UFRJ foi comentado que quando Picasso quis aprender litografia, ele entrou num atelier e saiu com 300 trabalhos. Meu professor interveio e disse: "todos ruins".
Aliás, esse papo me lembra de Affonso Romano de Sant´Anna no livro "desconstruir Duchamp", onde ele fala de como ficamos presos a analises textuais e "titulares" onde deveriamos apenas contestar alguns valores. Algo como "a nova roupa do imperador", que vestiu o manto que só os inteligentes poderiam ver.

http://www.germinaliteratura.com.br/artes_abr2005.htm

E de fato trocar opiniões, mesmo que divergentes, só aumenta a qualidade das discussões aqui. Por isso que quando vejo um tópico com seu nome, já abro logo pq sei que lá vem coisa boa...hahahahahaha


Kika Salem

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Resposta #8 Online: 03 de Agosto de 2009, 15:45:48
só quero deixar claro que uma analise pessoal nao invalida o objeto dentro de um contexto universal.
Foi assim que eu entendi Rafael, mas é sempre bom acentuar.

E de fato trocar opiniões, mesmo que divergentes, só aumenta a qualidade das discussões aqui. Por isso que quando vejo um tópico com seu nome, já abro logo pq sei que lá vem coisa boa...hahahahahaha

Rafael, imagina, eu é que agradeço a sua disposição em participar das discussões, em situar algumas questões e expor o seu ponto de vista. Assim como agradeço aos demais colegas, o Marcelo e o Pedrinho que estiveram presentes aqui conosco. Seria muito triste se eu ficasse falando sozinha.
Não concordamos é um mero detalhe, aliás não é de hoje que demonstramos ter gostos diferentes, até sobre foto de nu, :hysterical: mas isso nunca nos impediu de interagir com respeito um pelo outro.

Coisa boa, diria que nem sempre, mas sempre procuro oferecer um ponto de partida para quem se dispõe a viajar sem destino certo. Além disso, o fato de eu não levar a fotografia "a sério", no sentido de transformá-la numa obrigação, tem seu aspecto positivo e negativo também. O negativo é que acomoda, tem que estar em constante alerta. Estou numa fase de estagnação que está me incomodando bastante. O positivo é que me dá certa leveza pra vir aqui e falar de algo que não tenho muita certeza, nem quero ter certeza e nem busco ter razão.

Seria legal se mais pessoas se dessem essa liberdade também, mas entendo que é difícil fazer isso quando se expõe publicamente, quando tem nome a zelar, um patrimônio a preservar. Eu, como na fotografia não tenho nada disso, sinto-me livre para tratar de certos assuntos com vocês e, inclusive, falar besteira até de brincar quando acho que o momento é oportuno.

Enfim, o assunto aqui fez curva, é mais pra me situar como membro do fórum. Se alguém puder retomar o fio da meada, acho que vai ser válido.
« Última modificação: 03 de Agosto de 2009, 15:54:26 por Kika Salem »