Mas nós não temos sobre isso qualquer capacidade de impedir ou coisa assim. A língua é viva. Outro dia joguei fora um livro do Carl Sagan onde ele tinha essa ilusão de ser a ciência uma "vela acesa na escuridão", exatamente essa ilusão de haver uma esfera do pensamento humano que se distingue das demais pelo rigor, pela não poluição, etc. Esse é uma visão neo-positivista, somente. A cultura humana é assim mesmo, misturada, ambígua, interpenetrada em suas partes por conceitos vindos de outras partes, ou, dizendo muito mais simplesmente: não existe chão firme algum.
O problema é acreditar que existe chão firme. Uma crença consoladora, de fato, mas não muito mais que uma crença. Seria de fato sensacional se o homem dispusesse de uma vela acesa na escuridão. Mas não há. Tudo que há é um bando de indivíduos em intersção, construindo formas de cooperar para sobreviver e unidos por laços libidinais, em um universo que é gentil e hostil ao mesmo tempo.
Este livro é "O mundo assombrado pelos demônios" não é Ivan?
Ele tem realmente uma perspectiva bastante radical da ciência, baseada em uma perspectiva totalmente focada na perspectiva cartesiana-newtoniana, esquecendo-se que a visão dialética e a visão fenomenológica também possuem um tipo de abordagem bastante útil para várias atividades reflexivas humanas. A frase que abre o primeiro livro do Descartes dá uma idéia do que é esta visão de ciência como verdade: "Os estudos devem ter por meta dar ao espírito uma direção que lhe permita formular juízos sólidos e verdadeiros sobre tudo que se lhe apresenta."
Formal temos que tomar um cuidado extremo com as implicações da física quantica. O prin´cípio da incerteza não nega a lógica e a razão, assim como ele não confirma o indeterminismo, como muitos filósofos tentam colocar, de forma equivocada, para justificar as nossas incapacidades de conhecer o estado atual do universo. A incerteza tem exatamente o sentido de incerto, que remete à nossa incapacidade de estar certo sobre algo e está associada a um determinado momento histórico que é varíável como sempre foi. A mecânica Newtoniana não era do espaço de conhecimento daquele momento histórico e foi em um momento que aquilo tornou-se determinado. Não se pode esquecer também que a própria mecânica quantica é determinista, ao passo que utiliza-se de equações precisas, capazes de sere comprovadas empiricamente, a própria hipótese de compenhaguem é uma hipótese determinista para a física quantica.
Então temos que tomar cuidado com certas abordagens epistemológicas. A ciência (em um aspécto amplo, porque considero a dialética, o positivismo e a própria fenomenologia como ciência) não é dona da verdade e nós descobrimos sérias limitações em nossos mecanismos para conhecer o universo durante o século XX, mas isso não quer dizer que temos uma certeza da incerteza.
A incerteza que temos hoje se deve basicamente a limitações de nossos próprios meios de observação do universo, assim como já tivemos as mesmas limitações no passado, mas isso não afirma ser a razão insuficiente, muito pelo contrário, ela continua sendo a base da reflexão humana e foi a própria razão que desenvolveu a visão quantica da incerteza. Ai remeto a Gaston Bachelard, que afirma que o espírito, assim como a ciência estão em constante transformação, e a própria razão deve ser reformada e reconstruída constantemente para que possamos dar conta das descobertas que a própria razão nos mostra.
Ivan a matemática também não é totalmente exata. A própria estatística já não é totalmente exata, é em base probabilística. A própria linguagem matemática está em constante transformação. A diferença é que seus significados acabam por ser mais universais e estruturados.
PS: Também acho que não precisa dividir.