Ângelo me desculpe, mas estas colocações que desfazem o digital como fotografia demonstram total falta de conhecimento sobre o que é fotografia, tanto como arte e significado como em termos de técnica. Até em termos técnicos o que é feito em uma câmera fotográfica digital é fotografia. O processo ser químico ou elétrico não muda a característica de registro feito com a luz sobre uma superfície plana.
Além disso a fotografia digital é, em termos artísticos, a continuidade de algo que existiu no passado. Não estamos falando de cinema e fotografia (coisas absolutamente distintas em termos artisticos e que não faz sentido algum colocar em confronto como substitutos), estamos falando de novos instrumentos tecnológicos para se fazer FOTOGRAFIA, assim como o próprio filme de celulose substituiu o Colódio Úmido, abrindo todo um novo universo de possibilidades para a fotografia, o digital está fazendo o mesmo por agora com relação ao filme.
Veja que a substituição do colódio tirou o controle do fotógrafo sobre uma etapa do processo (elaboração da mídia), mas mesmo assim o filme produziu fotógrafos bem melhores que os pioneiros do colódio. Isso porque, mesmo perdendo-se uma parte do controle, o filme trouxe para época novas possibilidades, muito mais importantes dentro do que consiste a arte da fotografia do que o controle sobre aquela etapa do processo. A preocupação dos fotógrafos se voltou mais para explorar o que era oferecido por este novo meio, compacto e cheio de possibilidades e levaram isso ao extremo.
O digital é uma nova realidade, ele abriu para o mundo uma parte importante do processo, que era dominada por poucos fotógrafos (que era o pós-processamento, que na era da química poucos de fato dominavam). Também trouxe novas possibilidades, com equipamentos mais rápidos e coisas do tipo. Vou te dar só um exemplo da minha área. No passado a fotografia de passarela era feita apenas com corte americano, foi o AF e, principalmente, o digital que possibilitaram o crescimento da fotografia de eixo de passarela. Os pioneiros ainda faziam com filme, mas baseados no AF (sem AF não vi ninguém até hoje que conseguisse fotografar eixo). O AF (evolução em cima da idéia do "artesanato" antigo) trouxe a eficácia necessária para que o instrumento conseguisse capturar o tipo de imagem que se buscava, mas não a inclusão. O fotógrafo precisava ter pelo menos 3 câmeras com assistentes trocando filmes, o que limitava o acesso a este tipo de fotografia por pessoas com menores condições financeiras. Hoje, com o digital, o fotógrafo pode fotografar por conta própria sem perder nada, com uma câmera até intermediária. Ele não sabe menos por isso, muito pelo contrário, é um tipo de fotografia que tem sido cada vez mais bem feita, com maior precisão e cuidado e é extremamente valorizada. Isso se deve exatamente ao fato do fotógrafo pode se concentrar na tarefa e poder esperar respaldo do instrumento para realizar funções necessárias para registrar a idéia dele. Esta fotografia, filha da era do AF, é muito mais difícil de se fazer do que as fotografias de corte americano dos tempos do foco manual. Muito mais difícil em todos os aspectos, porque até conhecer as características de seu AF você tem que conhecer. Mas esta era também não perde os elementos do passado, se você quiser fazer a fotografia de corte americano, que se fazia na década de 1960, você pode, inclusive usando o foco manual, ao simples apertar de um botão. Então na verdade o que vem sendo abertas são mais possibilidades.
A grande questão do digital é que ele democratizou a qualidade, democratizou os processos, democratizou os acessos, assim como o filme fez parte disso quando superou o colódio úmido. Um fotógrafo que começa no digital não tem nada de menos do que um fotógrafo que começa no filme, assim como um do filme não tem nada a menos do que um que começou na era do colódio. Absolutamente NADA, muito pelo contrário, é um fotógrafo com maior liberdade nos processo e que pode se concentrar em questões do "artesanato", como chama o Ivan, muito mais profundas e com muito mais liberdade. Na verdade eu diria que o fotógrafo da era digital, aquele bom fotógrafo, tem muito mais potencial a libertar do que nós da era do filme. Porque nós ainda estamos prezos em questões e técnicas incompatíveis com uma ferramenta muito mais eficaz, como a que temos hoje. É claro que para isso estes fotógrafos não poderão renegar o passado. Mas quando digo não deverão renegar, digo que deverão se preocupar com a arte e a forma de se expressar daquele período, ou seja, a fotografia feita e não necessariamente com as técnicas, porque o compromisso que temos com o passado é com o resultado que eles produziam e não com a técnica utilizada. As técnicas, mudam, se adaptam, melhoram junto com as ferramentas. Cada período pode ter e desenvolver a sua própria técnica (se posso usar fotômetro porque não? O que me faz pior por usar um fotômetro? Absolutamente nada, na verdade me torna mais eficaz e aumenta o número de processos, tornando a fotografia até mais difícil), mas via de regra quanto mais sofisticada a ferramenta maior a técnica necessária para dominá-la. Até hoje eu vi poucos fotógrafos digitais que de fato dominam uma parca parte do processo digital.
Para finalizar retomo a frase que falei acima:
Não é no passado, ou copiando o passado que faremos o futuro. O futuro se faz pensando no futuro, mas sem se esquecer dos legados que o passado nos logrou.