Autor Tópico: The Washington Ballet - fotografias de Cade Martin  (Lida 5549 vezes)

Ivan de Almeida

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Resposta #15 Online: 11 de Janeiro de 2010, 11:35:11
Bom, eu não sou tão bom nas palavras quanto o Ivan, mas ele começou dizendo que é melhor desenhar ao invés de fotografar, caso a sua intenção seja produzir fantasia. Eu discordo.

Não é que eu não entendi nada, talvez você que não tenha entendido o que eu quis dizer.

Gui, essa é uma discussão muito interessante. Eu apresentei uma razão para não achar que tal abordagem seja legitimamente fotográfica.

Fotografia não é meramente usar uma cãmera. Fotografia é uma prática humana que tem uma história, e que se referencia nessa história.

Minha forma de identificar a essência ou o fundamento de uma prática envolve responder à seguinte questão: "o que essa prática tem de diferente das demais?" Ora, a produção de fantasia não é traço distintivo da fotografia, a invenção de imagens oníricas não é também. Pode ser feita de muitas maneiras, até mesmo fotográficamente se dor mais pratico, mas a intenção não é fotografar e sim registrar imagens que poderiam igualmente ser ciradas de inúmeras outras maneiras. O que a fotografia faz que nenhuma outra faz é depor sobre o mundo.



Alex Biologo

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Resposta #16 Online: 11 de Janeiro de 2010, 11:40:27
Vejo isso de outra forma.

Vc precisa ter bem claro o que te leva a produzir algo de determinada forma. Isso vale tanto pro mais real quanto pro mais fantasioso. Se a produção é aleatória, significa que vc não tem uma certeza estética do que está fazendo.

Por outro lado, quando vc assume uma linha, os julgamentos a serem feitos sobre a sua produção serão muito mais fortes, pq as pessoas encontram onde questionar e isso torna a discussão mais rica.

O Ivan disse achar cafona dentro de determinada linha de pensamento e esse é um direito dele, tem gente que vai ver e adorar, dentro das leituras que fizer das obras. O que o autor da foto vai fazer é simplesmente deixar claro o porquê de suas escolhas.

Eu curto desvirtuar a realidade, ou pelo menos criar uma realidade mais próxima do que eu sinto do que do que eu vejo, acho que usar técnicas diversas poderiam me ajudar nessa reconstrução, o problema é ter medo de a técnica aparecer muito mais do que a linguagem. A grosso modo, penso naqueles filmes em que só aparecem os efeitos especiais pq as mensagens são nulas.

Dentro desse aspecto, eu costumo me perguntar se o que eu vejo é necessário ou exagerado para passar a mensagem. Se for exagerado vejo como cafona, se for necessário a discussão morre ai. O que pega é que os limites podem variar na leitura de cada um.

Usando de novo o que o Ivan disse, dentro do que ele postou como sendo o seu mote na fotografia, a foto vai sim ser cafona e a Anie Leibovitz também (o que não tira a qualidade do assunto). Se vc por outro lado, vê a foto como ferramenta apenas (e não como arte) para a expressão de seu pensamento, amplia a linha, pq o valor da mensagem vai ser maior do que o resultado. O cuidado que se deve tomar no caso é o de não achar que qualquer coisa que se faça vale só pq tem uma mensagem interessante. Saber as regras e onde e pq quebrá-las é importante para não criar algo exagerado.
Alex Martins dos Santos - São Paulo/SP
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rafaelfrota

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Resposta #17 Online: 11 de Janeiro de 2010, 14:23:45
Independente do fato do que é arte ou não, porque isso é um assunto bem complexo, uma das melhores coisas que podemos desfrutar da arte é o livre arbítrio que ela proporciona. Para alguns a fotografia tem um caráter naturalista, outros necessitam de uma abordagem surreal, e, contanto que não se tenda a impor universalmente que uma delas é mais "correta" que a outra, está tudo lindo.
Foi até engraçado o Ivan falar do desenho, porque eu fiz exatamente o contrário, eu saí do desenho para experimentar a fotografia porque ele não cabia nas minhas necessidades mais, digamos, esquisitas (essa foi pra Kika... :hysterical:)
No mais, aspectos como feio, brega, ruim são abordagens quase sempre empíricas - graças a Deus - que só refletem como vemos alguma coisa e não o que ela é realmente (até porque ser alguma coisa é algo que também é muito complicado de se estabelecer). E não há mal nenhum nisso.
A Anais Nin costumava dizer algo que eu acho muito certo na arte: "não vemos as coisas como elas sao, as vemos como nós somos".
« Última modificação: 11 de Janeiro de 2010, 14:25:50 por rafaelfrota »


Ivan de Almeida

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Resposta #18 Online: 11 de Janeiro de 2010, 17:06:12
Veja bem, Rafael, eu não estou discuntindo se é arte ou não, mas sim se é fotografia em seu aspecto maior, ou somente ilustração feita com fotografia.

Por exemplo, você pode pegar uma tela e fazer sobre ela uma colagem. Não será pintura, será colagem. Pode ser até mais artística que uma pintura, mas não será pintura.


dondon

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Resposta #19 Online: 11 de Janeiro de 2010, 18:35:51
Não há dúvida que se tratam de imagens extremamente cafonas e bregas, e até concordo com a máxima do Ivan "Para produzir fantasia, é melhor desenhar."

Porém, no caso específico, segundo o texto superficial que acompanha as imagens, tratam-se de fotos de uma companhia de dança encenando suas apresentações. Sendo assim, as fotos têm um caráter de realidade (representação de) que as remete sim ao que o Ivan chama de "crônica da vida". Trata-se da representação dos movimentos, da estética e da personalidade da tal companhia de dança, e não de pura fantasia.

Se as fotos são cafonas e fantasiosas, é pq a companhia é.

Abraço.
« Última modificação: 11 de Janeiro de 2010, 18:40:44 por dondon »


Leandro Rodrigues

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Resposta #20 Online: 11 de Janeiro de 2010, 18:45:27
Eu divido a mesma opinião do Ivan (obviamente, não tão fundamentada quanto a dele). Acho que existe um limite pra fotografia. Claro, com a fotografia digital esse limite aumentou, mas tem coisas que não podemos chamar de foto. Por exemplo, ouço o termo "foto publicitária" com cuidado. Será mesmo uma foto? Não seria apenas uma imagem a partir de um foto?

No caso do The Washington Ballet, até onde entendi, são fotos. Pra mim, de gosto duvidoso, mas são fotos.


rafaelfrota

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Resposta #21 Online: 11 de Janeiro de 2010, 22:40:17
Citar
Veja bem, Rafael, eu não estou discuntindo se é arte ou não, mas sim se é fotografia em seu aspecto maior, ou somente ilustração feita com fotografia.

Sim, nem eu estou dizendo que você discutiu que é arte. Só comentei sobre arte para que o assunto não cambasse pra esse lado seja com quem fosse. E entendi o fato da fotografia em seu aspecto maior, obvio que não concordo em absoluto, mas como eu disse, a beleza da arte está nisso mesmo  :ok:

Citar
Por exemplo, você pode pegar uma tela e fazer sobre ela uma colagem. Não será pintura, será colagem. Pode ser até mais artística que uma pintura, mas não será pintura.
Isso entra num aspecto muito perigoso,pelo menos a meu ver, pois certas nomenclaturas são complicadas de definir. Existe muito problema em classificar uma aquarela ou uma aguada de nanquim como pintura ou desenho, uma monotipia como pintura, gravura ou desenho, se a pintura da capela sistina é uma pintura ou uma ilustração, e por aí vai. Quanto ao fato de uma colagem sobre tela, é fácil pensar que é colagem, pois só estamos usando uma superfície não convencional. O problema é quando as linguagens se misturam a certo ponto que fica impossível tomar partido de um lado só. Como já tinha até comentado em algum post, as fotografias da epoca do pictorialismo conceitualmente não tinham nada de diferentes das photoshopadas de hoje, mas ainda assim são respeitadas como fotografia.


Ivan de Almeida

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Resposta #22 Online: 11 de Janeiro de 2010, 22:55:19
as fotografias da epoca do pictorialismo conceitualmente não tinham nada de diferentes das photoshopadas de hoje, mas ainda assim são respeitadas como fotografia.

Não são poucos os fotógrafos que consideram o pictorialismo um ramo degenerado da fotografia.


Ivan de Almeida

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Resposta #23 Online: 11 de Janeiro de 2010, 22:57:56
Porém, no caso específico, segundo o texto superficial que acompanha as imagens, tratam-se de fotos de uma companhia de dança encenando suas apresentações. Sendo assim, as fotos têm um caráter de realidade (representação de) que as remete sim ao que o Ivan chama de "crônica da vida". Trata-se da representação dos movimentos, da estética e da personalidade da tal companhia de dança, e não de pura fantasia.

Acho que não é exatamente assim. Observe o trecho:
Citar
mas também nos dão algumas imagens encenadas e muito humorísticas


dondon

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Resposta #24 Online: 11 de Janeiro de 2010, 23:24:46
Acho que não é exatamente assim. Observe o trecho:

Sim, Ivan, eu li este trecho. Eles encenam suas apresentações, assim como encenam no palco. Se há ou não um trabalho maior de cenografia e produção para as fotografias não vem ao caso, é a estética da companhia de qualquer jeito. Brega e cafona. Eu não gostei das fotos e provavelmente não gostaria dos espetáculos, por serem bregas e cafonas. Nesse caso o clima de fantasia é emprestado à fotografia.

E considero que todas as fotografias são encenadas.

Abraço.


rafaelfrota

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Resposta #25 Online: 11 de Janeiro de 2010, 23:42:15
Citar
Não são poucos os fotógrafos que consideram o pictorialismo um ramo degenerado da fotografia.

Sim, e também não são poucos que acham o expressionismo um ramo degenerado da pintura.


Ricardo Lou

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Resposta #26 Online: 11 de Janeiro de 2010, 23:58:55
Como gosto pessoal, eu particularmente não gostei. Mas nem por isso, não posso dizer que não sejam fotografias, estas no sentido mais puro ao qual o Ivan defende, pois aquelas fotos representam um trabalho, uma arte e portanto, registram cenas desse mundo (não somente o da dança), ainda que poucos vão assistir a espetáculos de dança (pelo menos no Brasil);

Vejo com certo medo esta moda de rotular trabalhos aliados ao gosto pessoal, é o que fazem os críticos de artes, não gostam, muitas vezes do artista e descem a lenha no trabalho dele.

Também não me sinto confortável em dizer que não é fotografia pura, ou seja, elas fogem da intenção primária de sua invenção, se asseim pensamos, deveríamos estar fotografando ainda com  daguerreótipos e não com cameras de filme ou digitais.

Neste diapasão ouso discordar do Ivan, ainda que entendo sua postura.
Que a arte (me) aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Oswaldo Montenegro (adaptação nossa)


Alex Biologo

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Resposta #27 Online: 12 de Janeiro de 2010, 00:54:47
O que eu vejo nisso tudo é o peso que se dá a uma forma particular de produzir.
Cada um tem o seu ponto de vista e é ele que delimita o que vai ou não ser aceito. Se é a pureza da técnica ou importância da mensagem. Sou daqueles que acredita que desde que vc deixe claro o que fez vale qualquer ferramenta, até por não enxergar limites racionais que delimitem com clareza uma forma de expressão artística e principalmente por acreditar que esses limites são menores. É claro que é preciso ter conhecimento das ferramentas que se utiliza, mas prefiro não me prender aos limites que se criaram nelas.
Alex Martins dos Santos - São Paulo/SP
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Ivan de Almeida

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Resposta #28 Online: 12 de Janeiro de 2010, 08:59:26
Como gosto pessoal, eu particularmente não gostei. Mas nem por isso, não posso dizer que não sejam fotografias, estas no sentido mais puro ao qual o Ivan defende, pois aquelas fotos representam um trabalho, uma arte e portanto, registram cenas desse mundo (não somente o da dança), ainda que poucos vão assistir a espetáculos de dança (pelo menos no Brasil);

Vejo com certo medo esta moda de rotular trabalhos aliados ao gosto pessoal, é o que fazem os críticos de artes, não gostam, muitas vezes do artista e descem a lenha no trabalho dele.

Também não me sinto confortável em dizer que não é fotografia pura, ou seja, elas fogem da intenção primária de sua invenção, se asseim pensamos, deveríamos estar fotografando ainda com  daguerreótipos e não com cameras de filme ou digitais.

Neste diapasão ouso discordar do Ivan, ainda que entendo sua postura.

Bem, eu não conheço pessoalmente quem fez as fotos, Ricardo, então não há nenhuma motivação pessoal exceto a cafonica.

Apresentei razões que formam uma visão sobre fotografia. Podem ser aceitas ou não, mas hora ou outra cada fotógrafo precisa deixar a coisa vaga de "tudo é fotografia " e, tendo meditado sobre a prática, ter dela uma visão. Não necessariamente a minha. A minha foi exposta e é sempre essa, tenho insistido nessa visão mesmo por vezes encontrando resistência. Por outro lado, encontro em escritos de pessoas com importância na fotografia visão semelhante, o que se não garante que eu estou certo pelo menos me diz estar em boa companhia -risos.


Kika Salem

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Resposta #29 Online: 12 de Janeiro de 2010, 15:02:13
Desculpem-me não ter mais escrito aqui, não postei mais porque não tenho muito a dizer sobre as questões, mas a discussão está bem interessante mesmo com a pulverização das idéias.

***

A concepção de fotografia do Ivan, já tenho acompanhado há algum tempo através de textos e imagens. A dos demais é nova pra mim, talvez por isso tenha me perdido no desenvolvimento do tópico.

***

Rafael, não entendi bem, eu já falei que você é esquisito? Se falei, perdoe-me a falta de noção. kkkk

« Última modificação: 12 de Janeiro de 2010, 15:04:26 por Kika Salem »