Na música, por exemplo, não existe canção (letra e música numa sinfonia perfeita) mais "cafona" pra mim do que uma do Amado Batista "No hospital, na sala de cirurgia pela vidraça eu via você sofrendo a sorrir e seu sorriso aos poucos se desfazendo então vi você morrendo, sem poder me despedir" (primeiro lugar) e uma do Odair José "Pare de tomar a pílula porque ela não deixa o nosso filho nascer" (segundo lugar).
Mas, na música, mesmo que não se conheça teoria musical nem se perceba as nuances dos acordes, ritmos, melodia, harmonia, já se convencionou dizer que tais intérpretes e compositores integram a "música brega" brasileira, ainda que exista público até hoje (tá aí minha tia, meu tio que não me deixam mentir) e que nos últimos tempos tentaram resgatá-la chamando-a de música legítima do povo brasileiro ( sem considerar os problemas o que é legítimo e o que é povo?) e, por conseqüência, tirando-lhe a pecha de "brega" e introduzindo-a no consumo "cult". Pra mim, a maior expressão desse fenômeno recente é o livro "Eu não sou cachorro não".
Em todo caso e ainda assim também na música é difícil definir por que essa música é tida "brega" enquanto outras não são. Por exemplo, por mais que Carlos Lyra seja reconhecido como um grande melodista na história da música e nunca tenha visto ninguém chamando-o de brega (ao contrário, Bossa Nova, mesmo próxima do protesto, é sempre "chique"), não foi feliz quando regravou a música "Ciúme" porque a canção é uma conjunção de elementos, logo, não basta apresentar uma sofisticação da música e reiterar a pobreza da letra.
Pois bem, penso que quando alguém caracteriza a música como sendo brega, refira-se à pobreza tanto musical quanto da letra, por maior que seja o público.
Na fotografia, não sei bem como pensar a questão. Lembrei agora de um fotógrafo aqui que, quando apresentado no fórum, achei as fotografias lindas, porém, olhando bem e lembrando hoje, considerei o tratamento "brega" até o infinito, mas não sei bem como explicitar os motivos disso. Só criar uma situação artificial não deve ser o motivo por que há tantos fotógrafos que criam e nem por isso são assim rotulados.
Enfim, por enquanto, quis apenas complementar o post anterior.
P.S.: Ivan, postamos simultaneamente.