Autor Tópico: Como buscar/criar um estilo hoje em dia?  (Lida 7026 vezes)

Ivan de Almeida

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Resposta #15 Online: 31 de Dezembro de 2009, 15:47:26
Obrigado, Kika, era esse mesmo, e está até melhor dito que agora.

O problema maior é que as pessoas não fazem o dever de casa e ficam esperando que o Espírito Santo as guie em novos rumos. Isso não vai acontecer mesmo. Pode crer.

E ir buscar significa enfrentar a si mesmo, jogar o jogo de ser e de negar-se, negando-se pela ampliação, sendo pela incorporação do que se ampliou.


thiagolara123

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Resposta #16 Online: 31 de Dezembro de 2009, 17:25:27
Por isso falo que o problema não é reconhecer o que já se sabe, mas aprender a criar. Dominar o processo criativo, mas não falo só da parte técnica que considero ser muito mais simples por ter uma base para estudar.

Leandro, com relação a isso, não sei se vc chegou a ver pois aqui são muitas salas e nem sempre a gente consegue olhar o que está rolando em todas. Mas tem um tópico (tb sobre um texto do Rodrigo) com uma das milhões de discussões "técnica" vs "outras coisas", onde eu falo bastante da criatividade num sentido proativo, tanto no sentido do exercício criativo em sí quanto do seu desenvolvimento.

http://forum.mundofotografico.com.br/index.php?topic=39256.0

As questões de estilo não têm uma base tão "sólida" disponível pra ser estudada quanto as questões técnicas exatamente porque quem vai pautar os seus caminhos nesse sentido é vc, a sua experiencia, as coisas que vc fez. O caminho é só seu, e a graça é descobri-lo. É por isso que é pra poucos.

A dica do Ivan, mais do que procurar aspectos técnicos ou estéticos — pois esses eu concordo com vc, são detectáveis ao longo do exercício fotográfico — é mais no sentido de que quando vc agrupa o todo, acaba percebendo questões que vc estava desenvolvendo meio que inconscientemente, vendo que certos acidentes que deram certo não são tão acidentes assim, etc... É vc se olhar de fora.

É meio que assim: Todas as mulheres que a gente teve na vida a gente foi apaixonado, né? Eram sempre a melhor mulher do mundo. Mas quando vc pára e coloca uma do lado da outra, estabelece um comparativo que te permite discernir não só quais eram as melhores e em quê elas eram melhores, mas tb quais dessas características que se destacavam em cada uma são mais importantes pra vc e te fazem mais feliz.

(Desculpem aí que eu sei que ficou meio machista, mas antes um machista sincero do que um disfarçado! :D )

Acho que o que o Ivan quer dizer é que uma vez que vc dominou a parte técnica e consciente da sua fotografia, agora é a hora de procurar aprofundar as questões inconscientes, aquelas que se desenvolvem no seu trabalho mesmo quando vc não presta atenção, mesmo quando dá errado, aquelas coisas que vc não consegue deixar de fazer, aquelas questões que vc sem querer acaba abordando sempre.

Enfim, mergulhar no vazio de dentro de vc, se conhecer, já que vc já conhece e esgotou o vazio do lado de fora, da técnica e tal...

São as questões que são inerentes a vc, inevitáveis, que constroem um "estilo". Se vc "fechou" a técnica, então são elas que tem que ser desenvolvidas agora. Aí vc descobre alguma questão legal e entra num novo ciclo de aprendizado técnico pra executá-la, até as coisas se amalgamarem e vc conseguir estar sempre estudando e produzindo ao mesmo tempo.

Enfim, lê lá que eu acho que tem umas coisas que têm a ver com essa conversa aqui.
« Última modificação: 31 de Dezembro de 2009, 17:44:15 por thiagolara123 »
http://www.thiagolara.com <<<Não me odeie, não me inveje, TRABALHE!

O Brasil somos eu e vc, não é só os outros não. Então samba aí: "Se gritar pega ladrão / não fica um meu irmão / se gritar pega ladrão / não fica um..." http://www.youtube.com/watch?v=2WQtQwRHD6k


Ivan de Almeida

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Resposta #17 Online: 31 de Dezembro de 2009, 17:55:18
é mais no sentido de que quando vc agrupa o todo, acaba percebendo questões que vc estava desenvolvendo meio que inconscientemente, vendo que certos acidentes que deram certo não são tão acidentes assim, etc... É vc se olhar de fora.

Exatamente!

Para nos olharmos de fora é preciso nos afastarmos de uma produção específica e olhar toda a produção. Todo mundo, bem ou mal, tem um eixo. Aliás, não todo mundo, mas todo fotógrafo tão logo deixa de fotografar "de um tudo" e passa a ter preferências.

E são esses acidentes que são recorrentes aquilo que é mais interessante notar.

Muitas vezes aconteceu de eu postar uma foto que sabia não ser boa em muitos aspectos, mas nela eu vi desvelado um desses acidentes, eu o notei, eu me apropriei dele e o elevei à consciência. Então essa foto onde aconteceu isso é importante, muito mais importante do que uma foto boa que é mera repetição.

Insisto nisso, que é preciso reparar a pepita no meio do cascalho. Quando o fotógrafo quer acertar sempre ele não vai valorizar essa foto onde a pepita está no meio do cascalho e assim não poderá adonar-se do aprendizado nela contido. "Gotei desta foto minha... não sei bem a razão, porque ela nem é tão boa!". Aí está a chance. Olhar para ela e compreender por que gostou é o caminho para identificar uma tendência.


thiagolara123

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Resposta #18 Online: 31 de Dezembro de 2009, 18:32:27
Só pra complementar, tem um texto do Ivan que realmente mudou a minha vida, que é esse aqui:

http://fotografiaempalavras.wordpress.com/2009/05/24/a-segunda-captura-agora-sem-a-camera/

Trata exatamete dessa parte proativa do processo, a de escolher com o que vc quer caminhar no trabalho, escolher qual é a sua onda dentro do que vc tem de mais forte, e o que vc vai mostrar pros outros.

A Annie Leibovitz tb sempre fala nos livros dela, e naquele filme que a irmã dela fez sobre ela: "Always edit your own work!" no sentido de vc escolher o que sai e o que fica. Tem aquele outro fotógrafo que nego cita muito mas que eu esqueci o nome: "O objeto mais importante do meu laboratório é a lixeira", que as pessoas acham que é sobre exercitar muito, mas pra mim tb é sobre o fato dos "nãos" que vc diz pra sua fotografia acabarem sendo muito mais delineadores do que os "sims".

Isso é um processo muito importante mesmo de ser sacado. Aliás, eu amo o Lightroom por isso: Por mais que seja aquele demosaico "estilo adobe" ele te permite editar o trabalho tanto no sentido de "escolher" como de "modificar", tudo na mesma plataforma e ao mesmo tempo, podendo experimentar novos arranjos e relacioná-los apenas criando um novo catálogo sem necessidade de ficar remanejando os arquivos fisicamente nem entupindo o HD com cópias para cada coleção, de uma maneira parecida com a seleção que se fazia com as cópias de contato no caso do filme. Inclusive quem gosta de papel ele tem uma função pra imprimir uma "contact sheet", ou seja, várias fotos pequeninhas uma do lado da outra pra vc olhar agrupadas e relacionar o conjunto.
« Última modificação: 31 de Dezembro de 2009, 18:44:54 por thiagolara123 »
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Kika Salem

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Resposta #19 Online: 01 de Janeiro de 2010, 11:59:19
Um caminho é ter essas tarefas definidas por outra pessoa. É mais fácil, porque se a outra pessoa tiver argúcia ela definirá uma tarefa que deixará voc~e frente a frente com um problema, uma maneira de fazer, etc. A desvantagem é que não são tarefas "suas", e isso provoca certa resist~encia psicológica em cumpri-las.

Outro caminho é definir uma tarefa fotográfica para si mesmo. Esta tarefa é mais exigente psiquicamente em seu início e exige uma impiedade consigo, pois a pessoa deve obrigar-se, deve, sozinha, analisar os resultados, deve saber separar o joio do trigo e deve saber distinguir nos resultados o que é aprendizado e desenvolver.

Desculpe-me pessoal por ler o tópico à prestação, mas é que só assim eu consigo fazê-la.

Destaquei esses dois parágrafos porque atende a modos de produzir diferenciados: o primeiro para quem assume um compromisso com o outro e o segundo para quem assume um compromisso consigo mesmo.

Eu produzo mais e funciono melhor quando assumo um compromisso com alguém que não seja eu mesma. Por exemplo, meu orientador (que tornou-se meu melhor amigo, aliás, muito mais que isso) veio com a família passar o reveillon conosco. Ontem, entre a preparação da ceia e os cuidados com as crianças, a gente sentou no escritório para falar do que eu já tinha feito, traçar um plano para o trabalho em geral e para a confecção de um relatório para julho. Traçar um plano e assumir um compromisso (com datas, metas e páginas) renovou meu ânimo de trabalho. Faço assim desde sempre e nunca entreguei nada atrasado nem mal feito. Agora, se fosse assumir um compromisso comigo, talvez não tivesse a mesma disposição. Eu só assumo um compromisso comigo mesma de cumprir algo quando eu sei que daqui a dois meses, por exemplo, eu tenho tal coisa pra entregar e tal prazo para cumprir.

É por isso que eu elogio as iniciativas de exercício coletivo porque para o meu modo de produção funciona bem. Mas é claro que, além de disposição, a adesão a tais exercícios carece de tempo.

Fiz um curso com o Emídio Luisi em S. Paulo, cujo processo de edição de um conjunto de fotos tem relação com o plano traçado pelo Ivan.
http://forum.mundofotografico.com.br/index.php?action=post;quote=235370;topic=24663.0;sesc=c1dca57b626561d889acba48af5740d8

Eu adoro o Emídio, já declarei isso várias vezes, aprende-se muito com a convivência com ele. Uma das coisas que lamentei muito ter saído de S. Paulo foi ter que abrir mão de participar de um grupo de estudos com alunos que ele seleciona dos cursos regulares para discutir semanalmente questões correlatas à fotografia. Nesses encontros, as atividades são diversificadas. Fotografa-se, obviamente, mas também assiste-se vídeos, documentários, lê-se textos, artigos, ouve-se palestras de fotógrafos convidados, faz-se exercícios individuais e coletivos, enfim, pensa-se a fotografia de modo mais amplo.

Tais atividades tem como objetivo ampliar a percepção sobre a fotografia que não se restringe tão-somente à prática frenética, dissociada de outras instâncias, embora esta (a prática) seja imprescindível, condição primária. Como disse o Ivan, "quem não tem o mínimo de vivência e desenvolvimento não tem estilo nenhum".

Agora vou ler cuidadosamente o tópico do José Azevedo que é sempre bom tê-lo entre nós. Já li o tópico todo na diagonal, agora estou na fase de detalhamento.

Abraços gente e bom ano pra todos, de coração.
« Última modificação: 01 de Janeiro de 2010, 12:04:57 por Kika Salem »


Kika Salem

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Resposta #20 Online: 01 de Janeiro de 2010, 13:28:00
Estava relendo as considerações de Peter Gay sobre estilo, que postei há tempos aqui, e julguei interessante postá-las de novo porque reli de outra maneira, complementar, porém diferente, e as dividi por tópicos.

1) O estilo como algo maior que a genética de cada um. O estilo não é somente algo restrito à natureza do indivíduo, mas algo mais amplo surgido do cruzamento de instâncias diversas, tais como as relações entre indivíduo e sociedade, público e privado, costume e cultura, herança e continuidade, tradição e modernidade. O estilo, portanto, não é apenas uma manifestação espontânea do criador, mas uma construção social que agrega vários elementos.

2) O estilo como parte de um processo. O estilo é uma construção, resultado dum processo, ou seja, não se nasce com ele, mas se adquire, se refina, se aprimora.

3) Etapas do desenvolvimento. Na construção de um estilo (construção aqui é empregada para demonstrar, não traços de artificialidade, mas sim como parte de um processo), existe um caminho a ser percorrido. A admiração por trabalhos alheios assim como as tentativas de imitá-los são fases importantes no processo de autodescoberta.

Sobre esse assunto, Peter Gay lançou uma idéia da qual compartilho integralmente, isto é, a manifestação artística não provém inteiramente do coração, mas do contato com a produção precursora. Justamente por isso que questiono quando alguém diz que fotografa com a alma, que demonstra sentimento, que extravasa emoção, pois se são expressões que causam empatia no leitor distraído, não tem nada de concreto para a produção fotográfica, nem minha, nem sua, nem de ninguém. Afinal, pergunto de novo, como se identifica sentimento na fotografia? Pergunta para qual até agora não obtive resposta convincente. Veja bem, não quero com essa indagação tornar a fotografia fria, amorfa nem apática, mas sim tornar o processo de aprendizagem paupável, sem depender dos deuses do Olimpo, do gênio de Aladim nem tampouco do Espírito Santo como bem lembrou o Ivan. Aliás, eu gosto do Ivan porque ele diz as coisas que precisam ser ditas assim, sem meandros, evasivas ou chorumelas.

4) Trabalho, trabalho, trabalho. Não se constrói um estilo nem uma carreira sólida sem dar duro, pegar no pesado, dormir pouco, acordar cedo, sem viver, comer, dormir com a fotografia. Como escreveu Peter Gay, numa frase que eu adoro, "a singeleza mais elevada surge mais tarde, fruto de uma faina que oculta a faina" e, noutras duas frases, sintetizou todo o processo: o estilo é “ato da vontade e exercício da inteligência", "o estilo, além de dote, é conquista e o estudo do estilo empreende a crônica e a análise dessa conquista”. Sem vontade, sem inteligência e sem consciência de tudo isso, graças a Deus resta-nos o Espírito Santo.

5) Ninguém cria nada a partir do nada. Gênios não existem, são personagens da ficção, ninguém me convence do contrário. Justamente por isso podemos reconhecer uma linguagem recorrente que permeia um determinado contexto. Ninguém precisa me dizer, por exemplo, que determinada fotografia foi feita nos anos 1950 ou inspirada nessa época, porque existe uma linguagem comum que une a produção do período, seja ela técnica (aqui refiro-me ao sentido de técnica do dicionário e não a tudo e todos como vi noutro tópico), seja outro elemento.

Lembro que postei a foto "Nude", de Edward Weston, e o Ivan sublinhou a semelhança com o "Abaporu", da Tarsila do Amaral, quando ambos não se conheciam, provavelmente nem se conheceram, mas cujas obras, de universos distintos, não tinham nem uma década de diferença. Tarsila Amaral pintou o Abaporu no final dos anos 1920 e a foto é de meados dos anos 1930.

Enfim, existe uma espécie de vocabulário que permeia a produção de uma época. Se eu quiser fotografar como Cartier-Bresson, posso tentar e até ser elogiada na galeria, mas não serei reconhecida por caminhar por um caminho já caminhado, digo, consagrado, nem serei reconhecida "gênia", também porque o conceito de genialidade, além de atrofiar os meros mortais como eu, você e todos nós (desculpem-me os "gênios", estes estão excluídos da assertiva por natureza), é restrito ao universo masculino, afinal nunca vi ninguém se referir a alguma mulher como "gênio", até a palavra não tem flexão de gênero.

6) Não se define estilo fotografando no automático. No automático, não com a máquina no automático, esse é tema de outro debate, mas ao reproduzir uma linguagem padronizada, permeada por chavões fotográficos. Como disse Peter Gay sobre a "balcanização" da produção literária, que aqui associo à automatização da fotografia, que “divide fatalmente o que se deveria unir; os produtos que tais métodos lançam no mercado são, como todos sabemos, mercadorias com embalagens atraentes, enfeitadas com trocadilhos obsessivos, superlativos gastos, episódios falsos. O estilo, aqui, é um subproduto do empreendimento comercial não é de forma alguma o homem, e sim o sistema”.

Discussão derivada desse tópico: http://forum.mundofotografico.com.br/index.php?topic=23910.msg228621#msg228621
« Última modificação: 01 de Janeiro de 2010, 13:40:58 por Kika Salem »


pontabranca

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Resposta #21 Online: 01 de Janeiro de 2010, 16:10:59
estilo é uma compilação de tudo que você viveu na vida, o tipo de criação que você teve, da cultura adquirida.. acredito que a descoberta  do seu próprio estilo acontece naturalmente, é só ficar atento.. e também acho que olhar+técnica=estilo é extremamente particular. Você tem suas referências: cineastas, fotógrafos, músicos, escultores, pintores, desenhistas, arquitetos, etc..  pessoas e obras que você admira. Como por osmose você incorpora vários fragmentos dessas obras, durante a vida.. aí, sem perceber, bate tudo no liquidificador, junta com a técnica- pra você obter o resultado imaginado, com a criatividade e uma pitada de falta de medo de fazer diferente (se prestar atenção vai ver que "tem muito do mesmo", por aí).
Concordo com o Ivan quando ele diz: "... para reconhecer seu estilo, que basicamente significa reconhecer a si mesmo..."
Na minha opinião, não existe guia melhor do que seu próprio tesão ao realizar determinada foto.
Banzai


LeandroFabricio

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Resposta #22 Online: 01 de Janeiro de 2010, 19:45:05
Muito bom.
Creio que já aprendi bastante até aqui... :)

Vou dar uma olhada em minhas fotografias e criar pequenos projetos para realizar.

----

 Eu sempre gosto de ter uma opinião sobre o que produzo, até porque um dos meus objetivos é a fotografia comercial na área de moda e publicidade. Onde não basta apenas eu gostar e compreender o que faço. Tenho que produzir imagens que as pessoas apreciem.
 Sendo assim, será que não poderia ser interessante compartilhar essa tarefa com outro fotógrafo que tenha a mesma intenção em relação ao estudo do estilo. Algo cada um analizar a produção que o outro está realizando e discutir sobre o assunto para compreender se o caminho está sendo trilhado corretamente de acordo com uma proposta pré estabelecida.

 O que acham?
São Paulo - SP


pontabranca

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Resposta #23 Online: 01 de Janeiro de 2010, 20:09:29
Oi Leandro,
bom, eu não tenho intimidade com longas discussões sobre fotografia, mas já que vc disse que um dos seus objetivos é moda e publicidade (e tbm é o meu), tenho uma lista de links de fotógrafos brasucas e gringos nesta área pra vc se deliciar.. se você tiver interesse posso te mandar por mp.
ver bons trabalhos é um baita caminho pra aprimorar seu estilo :)


Banzai


LeandroFabricio

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Resposta #24 Online: 01 de Janeiro de 2010, 20:36:17
Oi Leandro,
bom, eu não tenho intimidade com longas discussões sobre fotografia, mas já que vc disse que um dos seus objetivos é moda e publicidade (e tbm é o meu), tenho uma lista de links de fotógrafos brasucas e gringos nesta área pra vc se deliciar.. se você tiver interesse posso te mandar por mp.
ver bons trabalhos é um baita caminho pra aprimorar seu estilo :)

Referências nunca são demais, agradeço muito por compartilhar.
Se eu conhecer outros fora da sua lista eu te passo tb.
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joseazevedo

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Resposta #25 Online: 01 de Janeiro de 2010, 23:47:15
Oi Leandro,

o que você quer - educar o olhar, aprender a criar e dominar o processo criativo - não é fácil, nem rápido e muito menos existe uma fórmula para isso. Falo por experiência própria de quem é supostamente criativo desde 1981, oficialmente - sou diretor de arte em propaganda.

Eu acho que isso é o resultado de todo um conjunto de experiências que começa a aparecer em algum momento. Eu me lembro de, desde criança, ficar fascinado pelas fotografias de catálogos do Charles Jourdan que minha mãe trazia de Paris - fotografados pelo incrível Guy Bourdin - e também pelo que via em revistas como Vogue, Bazaar, National Geographic, Photo francesa e outras. Era o trabalho de gente como Richard Avedon, Jeanloup Sieff, Irving Penn, William Albert Allard e muitos outros que deixarm seu nome na história e, mais ainda, imagens na memória de muita gente.

A faísca foi lançada e eu me fascinei. Fui atrás de tudo que podia devorar de fotografia. Não a parte técnica pois eu já sabia o básico e aquilo era o mais que suficiente para mim na época:
- abertura grande, menos profundidade de campo = fundo desfocado
- abertura pequena, mais profundidade de campo = fundo mais focado
- filme de baixa ASA = menos grão, cores mais saturadas
- filme de alta ASA = mais grão, cores menos saturadas
- dentro disso, procura acertar a agulha dentro da bolinha e pronto, click! - eu só fui ter máquina minha em 1988, antes pegava emprestado dos amigos e seus pais. Usei bastante uma Canon FTB que tinha um fotômetro desses agulha/bolinha.
Mesmo tendo lido muito sobre técnica, não são muitas as coisas que eu adicionaria a essa lista básica para ser feliz.

O melhor investimento que eu acho que fiz foi nos livros de fotógrafos QUE ME INTERESSAVAM, que eu achava que me acrescentavam coisas. Por exemplo, David Hamilton. Sempre achei as fotos dele muito bregas, aquela atmosfera de sonho, as ninfetinhas lindas peladinhas, aquilo me parecia a princípio coisa de velhinho tarado. MAS ele tem uma coisa que é única ou, pelo menos, forte: não há vulgaridade nos seus nus. Mesmo quando é mais explícito. E aí tem uma lição a se aprender. ISSO TEM VALOR. Os catálogos de Guy Bourdin eu guardei por décadas. Na época não entendia nada daquilo, mas achava o máximo, ousado, diferente, original. Hoje eu entendo que ele só estava sendo focado comercialmente, mas com uma dosagem artística impressionante. Praticamente tinha em Charles Jourdan um mecenas para sua arte. Sensacional a relação de confiança de um no outro. Hoje ele foi redescoberto, houve até uma boa exposição de seus trabalhos no MUBE.

Isso tudo vai contribuindo para a sua cultura fotográfica. Educar o olhar requer um pouco mais de dedicação. E é um trabalho pessoal. Olhe para uma foto clássica que você gosta. O que te atrai nela? A composição? As cores? O olhar da modelo? A sua pose? Os tons do P&B? A textura do papel usado? Quando você olha para aquela foto, qual a primeira coisa que atrai a sua atenção? Passeando pela web, você consegue analisar porque o trabalho de um fotógrafo te chama mais a atenção do que o de outro?

Esse é um exercício que enche o saco, mas é importante de se praticar. Comece a estudar as suas reações para começar a notar as reações das outras pessoas ao seu trabalho. Pergunte o que eles acham a respeito - NUNCA da parte técnica, mas das sensações que ele provoca. São as sensações das pessoas a respeito do seu trabalho que vão fazer com que elas gostem ou não. O que você expõe já passou pelo SEU crivo técnico. As pessoas consideram que se você está mostrando aquilo a elas é porque é aquilo que você quer que elas vejam. Portanto, se há uma imagem estourada em dois pontos elas simplesmente consideram que é aquilo que você visualizou. A parte técnica é problema SEU, mas ANTES de você expôr o seu trabalho. É claro que ela é importante e minhas recomendações são:
- saiba o que você precisa
- faça experiências e ANOTE tudo para que você possa reproduzir os resultados (eu tenho um monte de cromos com as condições escritas nas molduras)

Não se preocupe em armazenar o mundo na sua memória. Exercite o seu discernimento. Guarde o que você achar que tem valor para você, sua cultura fotográfica ou seu trabalho. E deixe o seu inconsciente trabalhar por você.

Depois de muita prática nisso, você tem consciência e bagagem para ver que a campanha da Calvin Klein que a tornou uma marca conhecida - aquele primeira com corpos fantásticos usando underwear - não é original. Mas é criativa. Como assim? O que é criativo não tem que ser original? Absolutamente NÃO.

Na década de 30 um fotógrafo alemão chamado Herbert List fazia um trabalho unindo corpos masculinos nus ou semi, composições extremamente bem cuidadas, poses e cenários clássicos da Itália e Grécia. É um trabalho muito bonito, que vale a pena ser visto e deveria fazer parte da educação de qualquer olhar. Ele era o original.

No final da década de 70, Calvin Klein e Bruce Weber, que já trabalhavam juntos há algum tempo, buscavam um visual que definisse a CK como moderna, clássica, contemporânea. Aquele estilo caiu como uma luva. Bingo! A partir da definição do estilo, Bruce Weber saiu clicando e a CK tornou-se um ícone fashion, crescendo em valor de marca como poucas na história.

A criatividade foi saber achar uma solução para um problema. Criatividade, aliás, é isso - resolver problemas. Por isso, se você não tem um problema a ser resolvido, é difícil ser criativo. É preciso que ele exista e seja MUITO bem definido para que se possa focar na melhor solução. Senão, pode ser qualquer coisa pois não há um problema claro e é aí que as coisas começam a degringolar. Surgem elefantes cor de rosa voando, mulheres lutando em ringues de gelatina verde fosforescente e por aí vai. Tudo com a desculpa de que é original, nunca foi feito antes e que, por isso, é bom. Não é. Não surgiram em função de uma necessidade, foi apenas "genialidade" (sic) pura...

Um filme legal para você entender um pouco isso é O Diabo Veste Prada. Capte porque as mulheres estão maquiadas de animais no Central Park para um editorial de moda. Não é porque nunca foi feito antes. LEIA os editoriais de moda. Conhecendo o conceito original você tem uma base para poder criticar o que foi feito. Nunca fique na base do "não gostei". Procure saber o porque disso. O que você faria diferente? Como você faria diferente? Pratique o "e se". E se ele tivesse dado dois passos pra esquerda, ficaria melhor? E se estivesse num plano mais alto? E por aí vai.

Leandro, como eu disse no começo, educar o olhar e ser criativo não é fácil, nem rápido e muito menos existe uma fórmula para isso. Espero ter contribuído. O meu Flickr está aí abaixo, fique à vontade para olhar as imagens e, se quiser, discutir sobre elas ou sobre um trabalho de um fotógrafo conhecido ou não. Estou reescaneando minhas imagens e, de vez em quando, dou uma atualizada nele.

Agora, o primeiro passo que eu acho que você deveria tomar é expor as suas imagens. Acho curioso como, num forum sobre fotografia, tanta gente não exponha as suas imagens. Mas isso já é outra história.

Abraço,

José Azevedo


Kika Salem

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Resposta #26 Online: 01 de Janeiro de 2010, 23:58:41
Li com atenção o post do J. Azevedo e já ocmpartilhava das idéias antes mesmo de ler.

Lucidez é uma característica que eu admiro nas pessoas e o J. Azevedo sempre demonstrou ser bastante lúcido com suas considerações sempre pertinentes e sensatas.

Destaquei algumas passagens interessantes, serve para ressaltar idéias principais.

O que diferencia você das outras pessoas? O seu estilo. Na fotografia, é o seu olhar. Você precisa educá-lo e aprimorá-lo.
Penso que a técnica é comum a todos, a particularidade de cada um está no modo de ver as coisas.

È só a gente ficar atento para a ficha cair.
Interessante destacar isso porque é comum estudar uma determinada coisa, mas só depois de algum tempo assimilá-la de fato, como se fosse um lampejo. Se a gente não tiver consciência do percurso, pode acreditar e, pior, fazer os outros acreditarem que foi fruto de uma coincidência, do acaso ou da sorte quando na verdade é conseqüencia da dedicação.

Sem saber AONDE VOCÊ QUER CHEGAR, a técnica é informação sem função.
Dias atrás disse isso em poucas linhas. Naquele momento pensava na minha relação com os programas de manipulação de imagem, pois, por diversas vezes, peguei uma foto e nele ficava horas, testando mil opções, mas, sem saber aonde queria chegar, chegava num ponto que achava melhor dar reset e deixar a foto como estava na origem. Em suma, o problema aqui não é que eu condene o tratamento, nada disso, mas uma total falta de consciência do que eu almejo quando tomo a iniciativa de tratar uma foto porque a intenção deve se antever a sua concretização. Aqui a ordem dos fatores altera o produto final, certamente.

Você vê isso muito em faculdades/escolas de humanas. Os professores dominam as técnicas, têm o dom de ensinar (o que é realmente uma bênção) mas são incapazes de fazer algo original ou interessante com elas (claro que há exceções).
Não se isso acontece nas faculdades de Humanas, mas certamente nos cursos que tem como ponto de partida algum conhecimento técnico como os de fotografia, por exemplo.

Agora, chega um momento em que você tem que se libertar disso, senão você vira uma imitação barata de algum fotógrafo.
Libertação é a palavra ideal, mas libertação não no sentido de recuar ou de negar a tradição, mas de ultrapassar os limites entre ser um couver, um backing vocal e ser um músico consagrado, por exemplo.

A técnica está disponível a todos, em várias fontes. Mas por mais influência que ela tenha, não é ela que diferencia um fotógrafo do outro.
A técnica é genérica, o olhar é particular, ainda que seja construído a partir de diversas influências.

Como aqueles que acabam de vender o carro para comprar uma 300/2.8 de última geração e dizem que agora, sim, vão fazer as fotos que sempre sonharam. Não vão. Vão fazer as mesmas fotos de sempre, só com o fundo um pouco mais desfocado. Porque? Porque ele está mais preocupado com o que tem do que com o que vê.
É a grande diferença em TER e SER.

Da mesma forma, existe uma mitificação muito grande da técnica. Isso só serve a quem geralmente tem a lucrar com isso - por exemplo os fabricantes que inventam features que ninguém nunca irá usar, mas são uma exclusividade deles, uau!
A indústria é a mão invisível que manipula paixões em torno da fotografia. Ter consciência desse papel é fundamental.

Eu sempre bato nessas teclas. Muita gente não concorda. Mas o mundo está cheio de fotos tecnicamente perfeitas e completamente sem graça.
É aquilo que está inscrito na assinatura do Ivan, o flickr congrega não sei quantos milhões de fotos, mas e daí?

JR Duran, Pamela Hanson, Bruce Weber, Richard Avedon, Sante D'Orazio, Robert Mapplethorpe, Irving Penn, Albert Watson, Patrick Demarchelier e a lista continua.
Taí uma lista pra gente conhecer se não conhece e rever se já viu.
« Última modificação: 02 de Janeiro de 2010, 17:51:56 por Kika Salem »


Kika Salem

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Resposta #27 Online: 02 de Janeiro de 2010, 00:01:48
Eu sempre gosto de ter uma opinião sobre o que produzo, até porque um dos meus objetivos é a fotografia comercial na área de moda e publicidade. Onde não basta apenas eu gostar e compreender o que faço. Tenho que produzir imagens que as pessoas apreciem.
 Sendo assim, será que não poderia ser interessante compartilhar essa tarefa com outro fotógrafo que tenha a mesma intenção em relação ao estudo do estilo. Algo cada um analizar a produção que o outro está realizando e discutir sobre o assunto para compreender se o caminho está sendo trilhado corretamente de acordo com uma proposta pré estabelecida.

O que acham?

Leandro:

Aqui cai no problema da malha do público, que é preciso pensar com cuidado. Mas vou deixar para depois que é tarde.

Acho boa a idéia.


Kika Salem

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Resposta #28 Online: 03 de Janeiro de 2010, 10:40:49
Leandro:

Aqui cai no problema da malha do público, que é preciso pensar com cuidado. Mas vou deixar para depois que é tarde.

Acho boa a idéia.

Lembrei que aqui discutiu-se bastante sobre público.


LeandroFabricio

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Resposta #29 Online: 09 de Setembro de 2010, 04:13:04
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