Autor Tópico: Como buscar/criar um estilo hoje em dia?  (Lida 7027 vezes)

LeandroFabricio

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Online: 29 de Dezembro de 2009, 20:10:10
 Pessoal,

 Lendo o artigo do site "Câmera Obscura" http://camaraobscura.fot.br/2009/10/05/os-mitos-da-atividade-fotografica/ na parte do "O Mito da Originalidade" fiquei pensando sobre como construir um estilo nos dias de hoje.

 Vejo que é cada vez mais difícil conversas sobre fotografia onde se busca compreender a intenção do fotógrafo na hora do click. O que o fotógrafo quer mostrar é cada vez menos importante a medida em que a exposição, alinhamento do horizonte, e outras questões puramente ligadas à técnica são cada vez mais discutidas e cada vez mais importante que o ato de compartilhar um momento atravez da fotografia.

 Outra coisa que não consigo compreender é onde fica a linha entre a cópia/plágio e a releitura de grandes nomes da fotografia.
 Ou ainda a partir de que momento que um fotógrado iniciante passa de uma pessoa que copia o estilo de grandes fotógrafo e passa a ser um fotógrado experiente que tem suas influências baseadas no trabalho de outros.

 Essa divisão tem alguma lógica ou é baseada apenas no status atual de quem copia?

 
São Paulo - SP


Ivan de Almeida

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Resposta #1 Online: 29 de Dezembro de 2009, 22:24:00
Todo mundo consegue reconhecer quando está andando de bicicleta ou ainda está precisando de rodinhas...

Quando começa a andar de bicicleta, isso não deixa dúvidas.

Mas faço aqui uma ressalva... não há um só nível onde ocorre o salto, são vários saltos. Quando mudamos de nível, ficamos felizes e reconhecemos, mas logo outro degrau aparece, no início ainda nebuloso, e outro salto precisa acontecer.


joseazevedo

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Resposta #2 Online: 29 de Dezembro de 2009, 23:02:41
Oi Leandro,

o que diferencia você das outras pessoas?

O seu estilo. Na fotografia, é o seu olhar. Você precisa educá-lo e aprimorá-lo. Aí entram os grandes fotógrafos, os ídolos. Eu acho que você deve começar definindo que tipo de fotografia você gosta de fazer. A partir disso, buscar as técnicas necessárias para se desenvolver esse estilo, adaptá-las ao seu gosto, à sua visão e aí é suor, prática.

Eu, por exemplo, gosto de imagens com luz ambiente, aberturas grandes, fundo desfocado. Por isso sempre tive lentes luminosas, 1.4, 2.8. Mas com o tempo e a prática eu vi que é possível, mesmo com uma 4.5, deixar o fundo bem desfocado. Basicamente depende da sua distáncia para o objeto. Quanto mais próximo, mais desfocado, independente da maior abertura da lente. Isso está, inclusive, marcado nas lentes, é só a gente ficar atento para a ficha cair.

A técnica é importante para você chegar aonde quer e saber ir além. Mas só para isso. Se você está fotografando gente, regras como o horizonte nivelado não têm muita importância. Para paisagens, sim. É importante você chegar às suas próprias conclusões, aguçar o seu discernimento e seguir os seus instintos. Sem saber AONDE VOCÊ QUER CHEGAR, a técnica é informação sem função. Portanto, defina o que você quer antes de se enfiar nas ciladas da técnica. Senão você acaba virando um técnico em fotografia, não um fotógrafo.

Você vê isso muito em faculdades/escolas de humanas. Os professores dominam as técnicas, têm o dom de ensinar (o que é realmente uma bênção) mas são incapazes de fazer algo original ou interessante com elas (claro que há exceções).

Quanto a plágio eu penso da seguinte forma. É perfeitamente natural que você queira imitar seus ídolos, fazer o que eles fizeram e aprender com isso. Ansel Adams, por exemplo, facilitou muito a vida dos seus seguidores e estudantes ao doar seu negativos para faculdades americanas para que os estudantes pudessem partir do mesmo original que ele. Isso ilustra o quanto é válido trilhar o caminho de quem você admira.

Agora, chega um momento em que você tem que se libertar disso, senão você vira uma imitação barata de algum fotógrafo. E isso não te leva a lugar nenhum. Aprenda, tenha a humildade de reconhecer que esse processo de aprendizado nunca termina e eduque o seu olhar sempre.

A técnica está disponível a todos, em várias fontes. Mas por mais influência que ela tenha, não é ela que diferencia um fotógrafo do outro. É o olhar. E é nisso que você deve investir continuamente.

As famosas discussões sobre equipamento, quanto pontos você estourou ou não, a precisão do alinhamento do horizonte a 90 graus, se você usou ou não o filme errado, o white balance correto e por aí vai, isso, sinceramente, na maioria das vezes serve mais pra prejudicar do que pra ajudar. Como aqueles que acabam de vender o carro para comprar uma 300/2.8 de última geração e dizem que agora, sim, vão fazer as fotos que sempre sonharam. Não vão. Vão fazer as mesmas fotos de sempre, só com o fundo um pouco mais desfocado. Porque? Porque ele está mais preocupado com o que tem do que com o que vê.

Da mesma forma, existe uma mitificação muito grande da técnica. Isso só serve a quem geralmente tem a lucrar com isso - por exemplo os fabricantes que inventam features que ninguém nunca irá usar, mas são uma exclusividade deles, uau!

Eu sempre bato nessas teclas. Muita gente não concorda. Mas o mundo está cheio de fotos tecnicamente perfeitas e completamente sem graça. Viva o fora de foco, a tremida, o acaso que ainda fazem com que muitas imagens toquem a gente mais fundo. E, também, vivas àqueles que sabem usar a técnica sem que ela fique entre o que eles querem dizer e o que vemos. Os resultados, nesses últimos dois casos, são o que ajudam a deixar mais sólido qualquer estilo.

Eu gosto muito de JR Duran, Pamela Hanson, Bruce Weber, Richard Avedon, Sante D'Orazio, Robert Mapplethorpe, Irving Penn, Albert Watson, Patrick Demarchelier e a lista continua. Eles têm em comum versatilidade, que lhes permite fazer fotos fora de foco com o mesmo estilo e competência técnica que fazem stills. Mas sempre a técnica está a serviço do estilo deles, nunca o contrário.

Nossa, já escrevi demais. Espero ter contribuído. Ah, fica uma sugestão de leitura: http://www.kenrockwell.com/tech/simplicity.htm

Abraço,

José Azevedo


Ricardo Lou

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Resposta #3 Online: 30 de Dezembro de 2009, 02:22:31
joseazevedo Escreveu demais? Creio que não, mas neste pouco/muito falou o que eu sempre venho querendo ler em fóruns de discussão, ambientes onde parece não ter lugar para que não tem genialidade fotográfica, infelismente este mesmo ambiente é carecedor de detentores de genialidade fotográfica, ou seja, critcam muito as fotos, dúvidas etc dos outros, quando vemos suas galerias de fotos, não encontramos nada além daquilo que estes mesmos abominam nas outas pessoas.

Aliás um dos motivos que me distancio a cada dia destes foruns e blogs também.

Mas voltando à pergunta do amigo, Leandro, quem sabe onde podemos chegar somos nós mesmos, esteja certo que você não encontrará formulas para criar seu próprio estilo, aliás se as encontrar, será um clone de alguém.

Nestes tempos de internet, me assusta o fato de que todos querem tudo já perfeitamente construído, ninguém quer "perder" em construir.


Que a arte (me) aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Oswaldo Montenegro (adaptação nossa)


LeandroFabricio

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Resposta #4 Online: 30 de Dezembro de 2009, 23:53:55
Todo mundo consegue reconhecer quando está andando de bicicleta ou ainda está precisando de rodinhas...

Quando começa a andar de bicicleta, isso não deixa dúvidas.

Mas faço aqui uma ressalva... não há um só nível onde ocorre o salto, são vários saltos. Quando mudamos de nível, ficamos felizes e reconhecemos, mas logo outro degrau aparece, no início ainda nebuloso, e outro salto precisa acontecer.

 Analogia óbvia, mas interessante.
 Sempre teremos algo a aprender por mais experiêntes que possamos ser.
 
 Mas mesmo sem precisar de apoio podemos não ter um estilo próprio para andar de bicicleta, certo?

Oi Leandro,

o que diferencia você das outras pessoas?

O seu estilo. Na fotografia, é o seu olhar. Você precisa educá-lo e aprimorá-lo.
...


Agora, chega um momento em que você tem que se libertar disso, senão você vira uma imitação barata de algum fotógrafo. E isso não te leva a lugar nenhum. Aprenda, tenha a humildade de reconhecer que esse processo de aprendizado nunca termina e eduque o seu olhar sempre.

A técnica está disponível a todos, em várias fontes. Mas por mais influência que ela tenha, não é ela que diferencia um fotógrafo do outro. É o olhar. E é nisso que você deve investir continuamente.

As famosas discussões sobre equipamento, quanto pontos você estourou ou não, a precisão do alinhamento do horizonte a 90 graus, se você usou ou não o filme errado, o white balance correto e por aí vai, isso, sinceramente, na maioria das vezes serve mais pra prejudicar do que pra ajudar. Como aqueles que acabam de vender o carro para comprar uma 300/2.8 de última geração e dizem que agora, sim, vão fazer as fotos que sempre sonharam. Não vão. Vão fazer as mesmas fotos de sempre, só com o fundo um pouco mais desfocado. Porque? Porque ele está mais preocupado com o que tem do que com o que vê.

Abraço,

José Azevedo

 José,

 Entendo e concordo com o que diz.
 Você tocou num ponto que eu acho muito interessante e sinto falta de conversas a respeito ou até mesmo livros, artigos. Que é a parte de "educar o olhar"
 Mesmo sendo algo muito pessoal acredito que poderia ter mais informações a respeito disso. Quem sabe até mesmo cursos que tratassem do assunto. Acho que nem seria o caso de um professor, mas sim um ou mais orientadores, como ocorre com os TCC´s nas faculdades.


Mas voltando à pergunta do amigo, Leandro, quem sabe onde podemos chegar somos nós mesmos, esteja certo que você não encontrará formulas para criar seu próprio estilo, aliás se as encontrar, será um clone de alguém.

Nestes tempos de internet, me assusta o fato de que todos querem tudo já perfeitamente construído, ninguém quer "perder" em construir.

 Na verdade não esperava um tutorial completo de como fazer um estilo como se fosse um tutorial passo a passo de PS.
 Esperava... Na verdade ainda espero, uma discussão sobre os aspectos mais importantes para conseguir esse objetivo.
 Qual seria o melhor caminho? Se basear num ídolo e ir tentando alcançar resultados semelhantes? Estudar a técnica utilizada no tipo de foto que gosta? Procurar referências, conhecer a história do assunto que quer fotografar.
 Acredito que tudo isso ajuda muito no aprendizado, dá uma base. Mas também acho que isso está longe de criar um processo criativo próprio/único.


 Até mais,
 Leandro
São Paulo - SP


Ivan de Almeida

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Resposta #5 Online: 31 de Dezembro de 2009, 00:56:43
Há alguns anos postei aqui um guia para reconhecer seu estilo, que basicamente significa reconhecer a si mesmo...

Simples...

Busque nos direitórios todas as fotos que lhe agradam que você fez nos últimos três ou cinco anos. Seja generoso, não precisam ser as melhores, mas todas as que lhe agradam um pouco.

Separe as fotos por gênero ou por semelhança, melhor ainda, genero/semelhança.

Depois descreva cada gênero em dez linhas em um pedaço de papel. Diga o assunto, a abordagem, o enquadramento, a distância focal, se a foto é clara ou escura, se a luz é natural ou artificial, se é pose ou natural, etc. Diga o que que há em comum nelas. Em que uma parece a outra.

Pronto. Feito isso você poderá ter clareza do que é constante no seu trabalho, de quais caminhos de experimentação segue, etc. E saberá: "tu és aquilo". Se quiser ser outra coisa, é aquilo que terá de ser modificado.

Mas sabe qual o problema? É o problema de todas as coisas... eu disse o óbvio, mas todo mundo tem preguiça de fazer isso, então fica querendo que uma luz ilumine o caminho.
« Última modificação: 31 de Dezembro de 2009, 01:05:17 por Ivan de Almeida »


Ivan de Almeida

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Resposta #6 Online: 31 de Dezembro de 2009, 01:08:23
Analogia óbvia, mas interessante.
 Sempre teremos algo a aprender por mais experiêntes que possamos ser.
 
 Mas mesmo sem precisar de apoio podemos não ter um estilo próprio para andar de bicicleta, certo?


O que estou dizendo, Leandro, é que quando você tem um estilo você sabe disso, tanto quanto quem anda de bicicleta sabe que sabe andar.

Sempre temos algo a aprender, mas depois que já subimos na bicileta o aprendizado é de outra natureza que não importa muito aqui.


Stanke

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Resposta #7 Online: 31 de Dezembro de 2009, 03:00:02
Eu tambem sinto falta de material que "eduque o meu olhar", sempre encontro tecnicas de fotografia, nao quero ser um tecnico em fotografia quero ser um fotográfo...

Jose disse o que eu queria ler, mas até hoje não tinha encontrado.

Muito obrigado.
Abracos
Stanke - Brasil
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Nikon

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LeandroFabricio

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Resposta #8 Online: 31 de Dezembro de 2009, 10:02:59
Há alguns anos postei aqui um guia para reconhecer seu estilo, que basicamente significa reconhecer a si mesmo...

Simples...

Busque nos direitórios todas as fotos que lhe agradam que você fez nos últimos três ou cinco anos.
...
Pronto. Feito isso você poderá ter clareza do que é constante no seu trabalho, de quais caminhos de experimentação segue, etc. E saberá: "tu és aquilo". Se quiser ser outra coisa, é aquilo que terá de ser modificado.

 Eu lembro deste tópico seu. Não cheguei a fazer essa classificação exatamente como você sugeriu, mas de certo modo eu sei o que é constante no que faço. Sei dos resultados que posso produzir conscientement.
 Mas não é esse o problema, a parte que não sei bem como seria a melhor forma de buscar é exatamente nas partes que ainda não faço. Não é reconhecer o que já faço, é "aprender" a aprender.
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LeandroFabricio

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Resposta #9 Online: 31 de Dezembro de 2009, 10:22:18
O que estou dizendo, Leandro, é que quando você tem um estilo você sabe disso, tanto quanto quem anda de bicicleta sabe que sabe andar.

Sempre temos algo a aprender, mas depois que já subimos na bicileta o aprendizado é de outra natureza que não importa muito aqui.

 Ivan,

 Se for parar para pensar todos tem um estilo próprio. Se é simples ou se é único não é a questão, todos tem um modo de fotografar.

 Por isso falo que o problema não é reconhecer o que já se sabe, mas aprender a criar. Dominar o processo criativo, mas não falo só da parte técnica que considero ser muito mais simples por ter uma base para estudar.

 Acho que o que mais falta é algo para fazer com que as referências sejam apenas referências e não a base principal do trabalho.
 Eu vejo alguns fotógrafos que tem uma boa técnica ficaram felizes por conseguirem um resultado parecido com o de algum outro mais famoso. E é exatamente isso que eu não gosto.
« Última modificação: 31 de Dezembro de 2009, 10:25:45 por LeandroFabricio »
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Ivan de Almeida

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Resposta #10 Online: 31 de Dezembro de 2009, 10:57:07
Ivan,

 Se for parar para pensar todos tem um estilo próprio. Se é simples ou se é único não é a questão, todos tem um modo de fotografar.

 Por isso falo que o problema não é reconhecer o que já se sabe, mas aprender a criar. Dominar o processo criativo, mas não falo só da parte técnica que considero ser muito mais simples por ter uma base para estudar.

 Acho que o que mais falta é algo para fazer com que as referências sejam apenas referências e não a base principal do trabalho.
 Eu vejo alguns fotógrafos que tem uma boa técnica ficaram felizes por conseguirem um resultado parecido com o de algum outro mais famoso. E é exatamente isso que eu não gosto.

Não é verdade que todos tenham um estilo próprio. Quem não tem o mínimo de viv~encia e desenvolvimento não tem estilo nenhum.


Ivan de Almeida

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Resposta #11 Online: 31 de Dezembro de 2009, 11:10:17
Mas não é esse o problema, a parte que não sei bem como seria a melhor forma de buscar é exatamente nas partes que ainda não faço. Não é reconhecer o que já faço, é "aprender" a aprender.

Esta é uma questão muito mais definida!

Bem, há dois caminhos, sendo que o fundamento dos dois é o mesmo.

O fundamento é: Realizar tarefas fotográficas definidas.

Um caminho é ter essas tarefas definidas por outra pessoa. É mais fácil, porque se a outra pessoa tiver argúcia ela definirá uma tarefa que deixará voc~e frente a frente com um problema, uma maneira de fazer, etc. A desvantagem é que não são tarefas "suas", e isso provoca certa resist~encia psicológica em cumpri-las.

Outro caminho é definir uma tarefa fotográfica para si mesmo. Esta tarefa é mais exigente psiquicamente em seu início e exige uma impiedade consigo, pois a pessoa deve obrigar-se, deve, sozinha, analisar os resultados, deve saber separar o joio do trigo e deve saber distinguir nos resultados o que é aprendizado e desenvolver.

E deve ser suficientemente longa. Digamos que uma semana ou quinze dias, podendo ser maior.

E a tarefa deve, ao memso tempo, ser cumprida e dentro dela deve haver variação, busca, explorando os caminhos que a própria tarefa indicar.

Sobretudo, deve haver o reconhecimento da boa semente que uma foto menos boa pode conter. Enquanto o julgamento de fotografias for: esta é boa, esta é ruim, sem entender que em uma foto menos boa pode estar uma semente há muito buscada, tudo fica estéril. Fazer sempre fotos boas é o caminho da estagnação. Quem só faz fotos poas é porque não tenta nada.


Cotovia

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Resposta #12 Online: 31 de Dezembro de 2009, 11:27:41
Leandro

Certa vez fiz o curso "descondicionamento do olhar" do Cláudio Feijó.

Basicamente, o curso quebra todas as regras e "técnicas", mas isso tem que ser feito com muita elegância, pra

não banalizar o que se pretende ... essa elegância já deve estar atrelada ao nosso estilo, precisamos

desenvolvê-la.

O Cláudio Feijó tenta plantar um sementinha na nossa cabeça, mas ela só vai germinar se formos

persistentes e acreditarmos naquilo que fazemos.

Descondicionar o olhar, ser criativo, ter um estilo, é um exercício diário e uma longa caminhada sem um fim

determinado.




Ivan de Almeida

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Resposta #13 Online: 31 de Dezembro de 2009, 11:29:53
Quer uma ajuda, Leandro?

Defina um projeto fotográfico para ser realizado nos próximos quinze dias contendo:

O que será fotografado,
qual o elemento que você deseja conquistar no projeto;
quantas fotografias entre as centenas realizadas serão o resultado do projeto,
onde serão feitas as fotografias,
que tipo de abordagem terão,
que tipo de commprimento focal será usado,
qual o objetivo geral do projeto.

Exemplo (citando um projeto meu feito em 2004)

"Realizar pelo menos dez fotos boas em várias sessões durante vários dias nos jardins do Museu da República, em Preto e Branco, em todas elascolocando uma figura humana na foto"

Meu objetivo era desenvolver a fotografia com figura humana que na época não era fluida para mim, assim como compor com contextos externos.

Como foi...

Fiz quatro sessões ou cinco, de 17 fotos cada uma (era o que meu cartão permitia em RAW). A cada sessão voltava para casa e analisava as fotos. Ao iniciar a primeira sessaõ percebi que as pessoas ficavam incomodadas se eu apontasse a cãmera para elas, e então coloquei a câmera em grande angular (na época era uma superzoom) e comecei a compor colocando as pessoas nos cantos das fotos, ou seja, aparentemente eu não estava apontando a câmera para elas, embora estivesse rigrosamente controlando sua posição na foto. Como isso me obrigava a apontar a câmera para o chão, comecei a usar as irregularidades do chão para dotar a fotografia de texturas e desenhos, dando atenão especial aos bueiros e tampas de metal. Cada vez que voltava para casa eu abria todas as fotos e verificava onde havia acertado, em que havia acertado, qual a boa idéia que a foto continha, e voltava na sessão seguinte com esse estoque novo de idéias para desenvolver. Demorou cerca de uma semana, aprendi de montão.

Dois meses depois fiz outra série-exeercício usando um brinquedo chamado cidade das crianças que tem em um parque em frente da minha casa. Fiz várias e várias sessões, desenvolvendo a abordagem geométrica e a composição construtivista.

Mas, essencialmente, é preciso que voc~e saia de casa com uma meta definida, e não uma meta fácil, isto é, não uma coisa que já sabe fazer. Uma meta nova que precisará de abordagem por vários dias até que a compreenda.


Kika Salem

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Resposta #14 Online: 31 de Dezembro de 2009, 14:45:44
Há alguns anos postei aqui um guia para reconhecer seu estilo, que basicamente significa reconhecer a si mesmo...

Perfeito!!!

Agora esse processo de auto-reconhecimento é interessante, mas também difícil. Às vezes é mais fácil reconhecer os outros do que a si mesmo.

Numa época, não muito remota, essas questões tinham mais trânsito no fórum.

Refere-se a esse tópico/post Ivan?

Pedro;

O que posso dizer a respeito é que você não cria uma personalidade fotográfica. A palavra criar é errada, em minha opinião, porque ela implica em uma espécie de planejamento e artificialidade, e ao meu ver a personalidade fotográfica é uma mistura de 1) reconhecimento de si mesmo; 2) reforço dos elementos positivos desse reconhecimento; 3) ampliação gradativa dos elementos.

Há muitos e muitos tópicos passados, durante minha primeira estação de frqüência deste fórum, em um tópico falei sobre o método que julgava bom para dar partida nisso.

Pegar todas as fotos suas de que gosta mais e juntá-las, separando-as por tipo.

Depois escrever em um papel o que nelas é "seu", o que se repete nelas, que tipo de abordagem está sempre presente.

Com isso nós percebemos qual a nossa maneira de olhar.

De posse disso, podemos então voltar à produção é empregar conscientemente os elementos antes reconhecidos. Aí eles não farão mais parte de um fundo incosciente mas terão sido elevados à consciência, à esfera da decisão consciente, e quando empregá-los você poderá julgar sobre seu emprego. Este é o segundo passo. Fazendo isso você ganha fluência de si mesmo.

Depois, já acostumado consigo, já capaz de reconhecer-se na produção, pode ser que ela esteja parca, pouco variada, limitada. Aí será a hora de expandi-la, mas mantendo o fulcro no que em você é verdadeiro. Aí você poderá: 1) incorporar idéias de outros foógrafos, mas traduzidas à sua maneira de ser; 2) realizar projetos e ensaios nos quais se imponha formas diferentes de fazer, e verificar como sua personalidade pega essas formas diferentes e as adapta ao seu modo. Esta é a fase de crescimento do vocabulário.

Mas nunca se faz isso "inventado do nada" um estilo. O seu estilo é você, somente que não é um você inconsciente de si. Como dizia o Hegel, o ser consciente deixa de ser "em si" e passa a ser "para si".

É isso.

Pegue cinquenta fotos suas que gosta mais, separe por gêmero e escreva sobre elas, descreva como se as explicasse a alguém, não uma de cada vez, mas os grupos parecidos.

Você deve prestar atenção, entre as fotos que gosta, como usou a luz, como usou as sombras, lembrar-se, no que for possível, da circunstância da foto, como abordou as pessoas, como elas reagiram, como você se sentiu abordando, lembrar se teve pressa ou calma, se gostava das pessoas ou era indiferente, se sentia pena delas e as via como exemplos de mazelas ou como pessoas curiosas, e cada sentimento desses deve ser reconhecido na fogografia.

Você vai achar engraçado, mas eu lembro bastante da ocasião de quase todas as boas fotos que acho ter feito. Lembro até dos meus gestos e pensamento.

Isso é o que acho maravilhoso na fotografia. Ela é um caminho de autoconhecimento. Você não adquire um estilo próprio sem reconhecer-se, sem autoconhecer-se.

Ivan

Pesquisei por "Pedro Ivan borboleta". Dessa história eu não me esqueço. Depois lembrei que também tinha citado num outro tópico sobre estilo.
http://forum.mundofotografico.com.br/index.php?topic=23910.0