Marcelo, se me permite eu gostaria de acrescentar algo, talvez seja óbvio, mas não custa lembrar disso já que surgiu na discussão:
Entendo que há uma diferença entre técnica e procedimento (como eu escrevi em outra mensagem, eu sou duma linha de pensamento que acredita que técnica é mais do que saber fazer alguma coisa).
Procedimento seria a "receita" --> pra fotografar, vc precisa ajustar, abertura, ISO, velocidade do obturador... pra esculpir em mármore, vc precisa pegar o bloco, usar tal feramenta, depois outra, depois lixar pra dar acabamento... e por ai vai.
Técnica iria um pouco além... nos 2 exemplos anteriores, envolveria no caso da foto saber como vai revelar o filme antes de colocar ele na máquina, e expor de acordo com a revelação, olhar pra cena e compor, de acordo com uma idéia pré-definida, tentar prever qual vai ser o resultado com a luz da cena e por ai vai, no caso da escultura em mármore envolveria a escolha do bloco pra evitar pegar um que tenha veios, o tipo de lixa adequado pra cada lugar, como fazer com partes finas pra não quebrar e por ai vai. Ou seja técnica envolve um mundo muito maior, e muitas vezes são coisas que a pessoa precisa aprender sozinha, pela prática.
De fato isso tudo é meio que esquecido hoje em dia, em escolas de arte por exemplo. Talvez pelo imediatismo da nossa época, pulam-se muitas etapas e de fato acaba aparecendo coisas que fazem a gente se questionar se são válidas.
Mas mesmo assim, a pessoa pode dominar tanto o procedimento pra fazer algo e a técnica e o trabalho no fim sai uma caca. Acontece. O problema é quando a pessoa não domina, e faz algo "bom", ai tem que ver se há uma continuidade de coisas legais. Do contrário a gente começa a chamar a pessoa de farsante, né?
No caso do Ivars, eu arrisco dizer que ele domina a técnica pra fazer o que ele se propôs (arrisco pois não vi a trajetória dele nem nada). Mas no caso do trabalho dele, como o foco fica mais na parte não material da coisa (ou seja, no discurso, texto, ou o que o valha), a questão da técnica acaba ficando em 2o plano, dá até pra ir mais longe e dizer que a técnica nesse caso torna-se irrelevante.
Esse talvez seja um problema pra muita gente aceitar uma série de coisas que têm sido produzidas do começo do século XX até aqui. Se não precisa demonstrar domínio de técnica, o trabalho é bom?
VOltando ao Duchamp, ele foi um cara que pintou durante anos, conviveu com artistas, ele não caiu na arte de pára-quedas. Mas seus trabalhos mais conhecidos, os ready-mades, não envolviam o saber-fazer a priori: ele não esculpiu a "Fonte". Em outros trabalhos dele houve um envolvimento maior com a construção do trabalho, mas mesmo assim a parte conceitual da coisa (ou o discurso) teve um peso maior, é aquela coisa: ele poderia ter feito um projeto e encomendada a execução a outra pessoa. Eu, particularmente, não acho que isso (o discurso valer mais que o material) faça do trabalho dele algo ruim.
Quando digo que as questões estéticas não têm o mesmo peso que tinham por exemplo no século XIX, gostemos ou não isso é fato. Basta ver a produção artística especialmente a partir das Demoiselles d'Avignon do Picasso. Não adianta espernear e fazer biquinho, houve uma ruptura e paradigmas mudaram, ao invés de ficarmos indignados, poderia ser mais produtivo entender as mudanças de paradigma, até para tentar mudar tudo, se isso for a intenção.