Autor Tópico: O fotojornalismo subversivo de Ivars Gravlejs  (Lida 14768 vezes)

lsd

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Resposta #105 Online: 06 de Fevereiro de 2010, 23:30:16
O negócio que eu falei de arte com valor de uso x valor simbólico, referia-se ao uso de arte pra fins educativos ou religiosos, como acontecia na idade média, ou mesmo posteriormente no caso de objetos como ex-votos. A arte começou a ter valor simbólico depois da invenção da tela móvel, enquanto fazia-se apenas afrescos ou ícones mortuários e não podia-se vendê-los, tinha apenas valor de uso.

E entenda que dizer que algo está no passado, não o faz ser "ultrapassado", "obsoleto" ou o que o valha, isso falando de obra de arte. Pois além disso, tem uma "evolução" na maneira como se estuda arte. A questão da arte conceitual... durante anos foi ensinado que isso era bacana, o resto era lixo. Conheço gente que sobreviveu a essa época, deve ter sido duro. Uma época o pessoal achava tudo que era pré-arte moderna como "obsoleto", isso aconteceu muito no Brasil. Hoje em dia não se pensa mais assim. No caso da pintura por exemplo, tem gente que acha que ela morreu, que é uma coisa anacrônica. E tem gente que acha que é a principal forma de arte. Essas coisas variam com o tempo e o lugar, e quais autores a pessoa toma como "guia" pro pensamento dela.

E quanto a fazer arte contemporânea, eu tenho uma opinião quanto a isso, na verdade eu compartilho uma opinião, de que a arte contemporânea se faz de acordo com o seu contexto. Claro que, isso faz com que a obra não seja atemporal, mas eu pessoalmente não vejo isso como um problema.


LuizNdo

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Resposta #106 Online: 07 de Fevereiro de 2010, 14:30:21
Devo dizer que assino embaixo o que o Rafael Frota veio dizendo.]

LSD, quando você conceitua arte como simples "fazer humano", você nivela por baixo todo fazer artístico. E seu conceito do que venha a ser arte é tão vago que fica explícita na sua frase:

Citar
Esses dias eu fui numa exposição e tinha uma laje com água refletindo o céu, meu, era muito bonito, eu fiquei pensando que era um trabalho, mas não era... bem, era né, era obra dos pedreiros. Mas não tava no catálogo...

A ARTE (isso mesmo, em caixa alta, o conceito máximo) sempre foi uma demonstração de superação. Domínio ou Superação técnica e/ou estética e/ou conceitual.
Você pode pegar todos os trabalhos que são considerados icônicos na História da Arte e encontrará alguma superação desses três fatores.

Exemplo 1
Andy Warhol, que foi citado, tem um trabalho tecnicamente medíocre pois qualquer um repete, esteticamente questionável pois retratos coloridos repetidos não é lá algo tão agradável, mas rompeu uma barreira conceitual em sua época. O mesmo para o mictório de Duchamps. Marcaram sua época, são obras datadas. Não impressionam mais ninguém pois o Conceito que trouxeram já foi absorvido.
Esse é o único valor dessas obras: Terem rompido barreiras conceituais.
Por causa do Duchamps e do Warhol é que Jeff Koons pôde se considerar um artista hoje e ter investidores apoiando. Caso contrário ele ainda estaria trabalhando na bolsa pois não é tecnicamente talentoso e nem conceitualmente inovador. Mas é esteticamente interessante.

Exemplo 2
Davi de Michelangelo é uma demonstração de Domínio da técnica e da estética pois impressiona até hoje. Não há como chegar diante de tal obra e dizer: "Ah, isso meu sobrinho também faz"
As obras dos "Renascentistas" envolviam conceitos, técnicas e estéticas que são referências perenes.

Hoje a modinha é fazer "Arte Contemporanea". Essa arte "não-arte" que um monte de pseudo-artistas tentam justificar através do discurso floreado. E ficaremos soterrado desses cegos até que alguém decida não entrar nessa dança e faça algo diferente, de qualidade, e seja reconhecido como "artista de vanguarda".

Como já disse antes, fiz Escola de Belas Artes. Conheci artistas e "artistas" incluindo vários professores "artistas". E, sinceramente, havia muuuuuita picaretagem. Ao invés de esforçarem para desenvolver, eles se esforçavam para discursar.
Era mais fácil falar do que fazer. E é isso que tenho visto na maioria das exposições sendo chamado de Arte Contemporânea.

Por isso gosto do Banksy, pois ele domina a técnica e não se limita apenas a serigrafia, é esteticamente impecável e conceitualmente uma alfinetada na sociedade.

O tópico é sobre o Ivars não é? O que podemos falar dele mesmo? Ah, sim, um lixo.
« Última modificação: 07 de Fevereiro de 2010, 14:33:36 por LuizNdo »
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lsd

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Resposta #107 Online: 07 de Fevereiro de 2010, 23:12:10
Blz LuizNdo, não consegui ver sentido no que vc escreveu, mas bem, seja como vc quiser.

Se eu ganhasse algo rebatendo tudo o que vc escreveu, eu o faria, mas deixa pra lá.

Bom final de fim de semana,
« Última modificação: 07 de Fevereiro de 2010, 23:16:00 por lsd »


rafaelfrota

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Resposta #108 Online: 08 de Fevereiro de 2010, 00:08:26
Só pra dar uma descontraída no tópico  :assobi: :assobi: :assobi:

http://www.youtube.com/watch?v=LcjW2kVcpvE

Pronto..voltemos à programação normal!  :hysterical:


Marcelo Favero

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Resposta #109 Online: 08 de Fevereiro de 2010, 09:08:54
Vou me atrever a uma modesta opinião, em meio a tão enriquecedor debate que se construiu aqui, do qual quero mais ser espectador. Mas queria fazer um pequeno aparte sobre algo que penso sobre a técnica:

Não, não se trata de uma apologia a ela, pois é claro que a técnica não é fator que qualifique a arte. Mas o que penso é que mesmo que para fazer um mero garrancho é preciso ter se domínio dos pincéis, tem que se conhecer o fundamento do uso da cor, do pigmento, do suporte, para que o garrancho seja uma "escolha" e não uma "limitação". Para se jogar baldes de tinta num painel é preciso ter conhecimento e mínima noção do resultado daquilo para que a arte não seja fruto do acaso e não da intenção, senão jamais será expressão, será mero embuste.

Desculpem se estou desfolhando o óbvio!
Não reconheço trabalho de arte sem técnica. Pode não ser a técnica acadêmica, mas será a técnica do autor. Técnica representa domínio e capacidade de expressar-se por meio e forma ESCOLHIDOS. Mas técnica é mero treino e esforço, não representa talento. Mesmo assim, se o autor não tem técnica nenhuma não é um artista, é um preguiçoso e um limitado.

Abraços
Marcelo dos Santos

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lsd

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Resposta #110 Online: 08 de Fevereiro de 2010, 10:07:53
Marcelo, se me permite eu gostaria de acrescentar algo, talvez seja óbvio, mas não custa lembrar disso já que surgiu na discussão:

Entendo que há uma diferença entre técnica e procedimento (como eu escrevi em outra mensagem, eu sou duma linha de pensamento que acredita que técnica é mais do que saber fazer alguma coisa).

Procedimento seria a "receita" --> pra fotografar, vc precisa ajustar, abertura, ISO, velocidade do obturador... pra esculpir em mármore, vc precisa pegar o bloco, usar tal feramenta, depois outra, depois lixar pra dar acabamento... e por ai vai.

Técnica iria um pouco além... nos 2 exemplos anteriores, envolveria no caso da foto saber como vai revelar o filme antes de colocar ele na máquina, e expor de acordo com a revelação, olhar pra cena e compor, de acordo com uma idéia pré-definida, tentar prever qual vai ser o resultado com a luz da cena e por ai vai, no caso da escultura em mármore envolveria a escolha do bloco pra evitar pegar um que tenha veios, o tipo de lixa adequado pra cada lugar, como fazer com partes finas pra não quebrar e por ai vai. Ou seja técnica envolve um mundo muito maior, e muitas vezes são coisas que a pessoa precisa aprender sozinha, pela prática.

De fato isso tudo é meio que esquecido hoje em dia, em escolas de arte por exemplo. Talvez pelo imediatismo da nossa época, pulam-se muitas etapas e de fato acaba aparecendo coisas que fazem a gente se questionar se são válidas.

Mas mesmo assim, a pessoa pode dominar tanto o procedimento pra fazer algo e a técnica e o trabalho no fim sai uma caca. Acontece. O problema é quando a pessoa não domina, e faz algo "bom", ai tem que ver se há uma continuidade de coisas legais. Do contrário a gente começa a chamar a pessoa de farsante, né?

No caso do Ivars, eu arrisco dizer que ele domina a técnica pra fazer o que ele se propôs (arrisco pois não vi a trajetória dele nem nada). Mas no caso do trabalho dele, como o foco fica mais na parte não material da coisa (ou seja, no discurso, texto, ou o que o valha), a questão da técnica acaba ficando em 2o plano, dá até pra ir mais longe e dizer que a técnica nesse caso torna-se irrelevante.

Esse talvez seja um problema pra muita gente aceitar uma série de coisas que têm sido produzidas do começo do século XX até aqui. Se não precisa demonstrar domínio de técnica, o trabalho é bom?

VOltando ao Duchamp, ele foi um cara que pintou durante anos, conviveu com artistas, ele não caiu na arte de pára-quedas. Mas seus trabalhos mais conhecidos, os ready-mades, não envolviam o saber-fazer a priori: ele não esculpiu a "Fonte". Em outros trabalhos dele houve um envolvimento maior com a construção do trabalho, mas mesmo assim a parte conceitual da coisa (ou o discurso) teve um peso maior, é aquela coisa: ele poderia ter feito um projeto e encomendada a execução a outra pessoa. Eu, particularmente, não acho que isso (o discurso valer mais que o material) faça do trabalho dele algo ruim.

Quando digo que as questões estéticas não têm o mesmo peso que tinham por exemplo no século XIX, gostemos ou não isso é fato. Basta ver a produção artística especialmente a partir das Demoiselles d'Avignon do Picasso. Não adianta espernear e fazer biquinho, houve uma ruptura e paradigmas mudaram, ao invés de ficarmos indignados, poderia ser mais produtivo entender as mudanças de paradigma, até para tentar mudar tudo, se isso for a intenção.


Marcelo Favero

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Resposta #111 Online: 08 de Fevereiro de 2010, 10:27:47
Marcelo, se me permite eu gostaria de acrescentar algo, talvez seja óbvio, mas não custa lembrar disso já que surgiu na discussão:

Entendo que há uma diferença entre técnica e procedimento (como eu escrevi em outra mensagem, eu sou duma linha de pensamento que acredita que técnica é mais do que saber fazer alguma coisa).

Procedimento seria a "receita" --> pra fotografar, vc precisa ajustar, abertura, ISO, velocidade do obturador... pra esculpir em mármore, vc precisa pegar o bloco, usar tal feramenta, depois outra, depois lixar pra dar acabamento... e por ai vai.

Técnica iria um pouco além... nos 2 exemplos anteriores, envolveria no caso da foto saber como vai revelar o filme antes de colocar ele na máquina, e expor de acordo com a revelação, olhar pra cena e compor, de acordo com uma idéia pré-definida, tentar prever qual vai ser o resultado com a luz da cena e por ai vai, no caso da escultura em mármore envolveria a escolha do bloco pra evitar pegar um que tenha veios, o tipo de lixa adequado pra cada lugar, como fazer com partes finas pra não quebrar e por ai vai. Ou seja técnica envolve um mundo muito maior, e muitas vezes são coisas que a pessoa precisa aprender sozinha, pela prática.

De fato isso tudo é meio que esquecido hoje em dia, em escolas de arte por exemplo. Talvez pelo imediatismo da nossa época, pulam-se muitas etapas e de fato acaba aparecendo coisas que fazem a gente se questionar se são válidas.

Mas mesmo assim, a pessoa pode dominar tanto o procedimento pra fazer algo e a técnica e o trabalho no fim sai uma caca. Acontece. O problema é quando a pessoa não domina, e faz algo "bom", ai tem que ver se há uma continuidade de coisas legais. Do contrário a gente começa a chamar a pessoa de farsante, né?

No caso do Ivars, eu arrisco dizer que ele domina a técnica pra fazer o que ele se propôs (arrisco pois não vi a trajetória dele nem nada). Mas no caso do trabalho dele, como o foco fica mais na parte não material da coisa (ou seja, no discurso, texto, ou o que o valha), a questão da técnica acaba ficando em 2o plano, dá até pra ir mais longe e dizer que a técnica nesse caso torna-se irrelevante.

Esse talvez seja um problema pra muita gente aceitar uma série de coisas que têm sido produzidas do começo do século XX até aqui. Se não precisa demonstrar domínio de técnica, o trabalho é bom?

VOltando ao Duchamp, ele foi um cara que pintou durante anos, conviveu com artistas, ele não caiu na arte de pára-quedas. Mas seus trabalhos mais conhecidos, os ready-mades, não envolviam o saber-fazer a priori: ele não esculpiu a "Fonte". Em outros trabalhos dele houve um envolvimento maior com a construção do trabalho, mas mesmo assim a parte conceitual da coisa (ou o discurso) teve um peso maior, é aquela coisa: ele poderia ter feito um projeto e encomendada a execução a outra pessoa. Eu, particularmente, não acho que isso (o discurso valer mais que o material) faça do trabalho dele algo ruim.

Quando digo que as questões estéticas não têm o mesmo peso que tinham por exemplo no século XIX, gostemos ou não isso é fato. Basta ver a produção artística especialmente a partir das Demoiselles d'Avignon do Picasso. Não adianta espernear e fazer biquinho, houve uma ruptura e paradigmas mudaram, ao invés de ficarmos indignados, poderia ser mais produtivo entender as mudanças de paradigma, até para tentar mudar tudo, se isso for a intenção.

Oi Lsd, "boldei" aquele trecho para não picotar sua resposta e poder destacá-lo.

Sim, é exatamente isso. Acho que é exatamente isso que eu quis dizer. Duchamp sabia o que queria, escolheu aquele modo como representativo de sua criação. O artista, para mim, para ter credibilidade precisa ter o "como fazer" como uma opção, e não limitação. Se é (aparentemente) fácil e simples tem que ter sido pensado "fácil e simples" e o resultado deve ser previsto. Se não parece algo insustentável, como você disse, ele não criou, mas sim as circunstâncias.

Nem estava mais me referindo ao Ivars, mas posso usar o caso dele como exemplo numa suposição: Ele não pensava em fazer esse trabalho quando estava empregado no jornal Tcheco. Não acredito que tenha escolhido fazer aquilo desde o princípio (tipo, se empregado ali, e ter fingido ser um bom funcionário só para montar esta galeria de manipulações de forma "subversiva" no futuro). Ok, o fato de ter aquela matéria prima em mãos e decidir usá-la é criação... sim, concordo. Mas não sei se essa é a verdade, é só uma suposição.

Abraço!
« Última modificação: 08 de Fevereiro de 2010, 10:32:32 por Marcelo Favero »
Marcelo dos Santos

Associado Fototech