Autor Tópico: O fotojornalismo subversivo de Ivars Gravlejs  (Lida 14889 vezes)

RFP

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Resposta #30 Online: 15 de Janeiro de 2010, 00:57:09
Puxa, achei que estivesse falando comigo. Li rápido demais.

Mas supondo que estivesse, a minha resposta seria aquela. Tirando o fato que não argumentei veementemente nem pro nem contra o ocorrido.


Tudo bem, tá valendo!


Ana Adams

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Resposta #31 Online: 15 de Janeiro de 2010, 01:01:51
O fato, Marcelo, é que você foi profundamente impactado pela obra dele. Do contrário não estaria aqui argumentando veementemente. E ao fazer isso você o transforma num artista, pois é isso que artistas fazem, mexem com as pessoas.

A arte mexe com as pessoas, é certo.
Assim como a mentira, a injustiça, a canalhice, a fajutagem, o mau caratismo, e tantas outras coisas.
Não acho que julgar este falsificador o transforme em artista, de maneira alguma.
A arte acrescenta, engrandece, mesmo que seja pela provocação. O que ele faz está longe de ser arte. É apenas comércio.


Marcelo Favero

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Resposta #32 Online: 15 de Janeiro de 2010, 08:19:08
O fato, Marcelo, é que você foi profundamente impactado pela obra dele. Do contrário não estaria aqui argumentando veementemente. E ao fazer isso você o transforma num artista, pois é isso que artistas fazem, mexem com as pessoas.

Não mesmo! Um advogado exibir de forma "documentária" as provas de atitudes pouco louváveis que faz para ganhar processos e honorários vai passar a idéia de que todos os advogados são espertalhões, vai prejudicar os éticos, impactar e não será artista, mas picareta duas vezes. Um médico exibir como durante a sua passagem pelo sistema público que cobrou consultas e cirurgias da população como se fosse a mais corriqueira das práticas não vai ser artista. Vai revoltar os colegas honestos com a degradação da imagem da classe. Será apenas outro picareta.

Se algum conhecido político escrever um livro contando os bastidores de sua vida pública, incluindo detalhes sórdidos, será artista também? Ah, claro, esse não vai impactar ninguém...

O que me atinge, de certa forma, e este não é o primeiro tópico que venho defender a classe (a qual não pertenço, mas admiro como poucas), é a forma como as pessoas adoram atirar pedras nos fotojornalistas. Hora são abutres, hora são invasores de privacidades, hora são manipuladores da realidade. Mas consomem seus produtos diariamente com tremenda avidez em todos os meios, e não são capazes de imaginar a vida civilizada sem eles.
« Última modificação: 15 de Janeiro de 2010, 08:24:09 por Marcelo Favero »
Marcelo dos Santos

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Marcelo Favero

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Resposta #33 Online: 15 de Janeiro de 2010, 08:21:02
A arte mexe com as pessoas, é certo.
Assim como a mentira, a injustiça, a canalhice, a fajutagem, o mau caratismo, e tantas outras coisas.
Não acho que julgar este falsificador o transforme em artista, de maneira alguma.
A arte acrescenta, engrandece, mesmo que seja pela provocação. O que ele faz está longe de ser arte. É apenas comércio.

Ao meu ver é notoriamente um ressentido!
Marcelo dos Santos

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nonlineart

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Resposta #34 Online: 15 de Janeiro de 2010, 16:56:19
Gostei muito.
Embora eu geralmente ache uma chatice toda a pop art, o trabalho dele é bem relevante e original.
Não conhecia e adorei!


Flavio Ribeiro

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Resposta #35 Online: 16 de Janeiro de 2010, 01:46:54
O fato, Marcelo, é que você foi profundamente impactado pela obra dele. Do contrário não estaria aqui argumentando veementemente.

Em partes acho que seu comentário está certo. A manifestação excessiva contra a pessoa acaba invertendo o valor que se quer dar a ele. Se não gostei, eu critico, mas ao me exceder nas críticas acabo criando uma atenção ao trabalho dele. Em partes acho que a ação está errada. Manipular a informação para atingir metas, não acho a maneira mais ética de trabalhar. Criar uma "falsidade" deixando claro que é falso é uma coisa, criar "falsidade" falando que é a relidade é outra.

E ao fazer isso você o transforma num artista, pois é isso que artistas fazem, mexem com as pessoas.

Criticar o que o Collor fez com o país, mexendo com o povo, não valoriza os atos dele enquanto presidente. Mas tem gente que ainda acredita e acaba colocando ele no senado... E assim caminha a humanidade... Evoluindo a técnologia atômica e apostando no petróleo do pré-sal.
« Última modificação: 16 de Janeiro de 2010, 01:47:43 por Flavio Ribeiro »
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Ivan de Almeida

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Resposta #36 Online: 16 de Janeiro de 2010, 09:16:12
Essa é uma das vertentes mais interessantes da Arte Contemporânea, a inserção em circuitos ideológicos, como chama o Cildo Meireles as suas notas de zero cruzeiros. Ele inseriu no circuito midiático a sua manipulação, mas ele não quis que sua manipulação passasse por verdade, ou melhor, só deixou que passasse por verdade durante o tempo suficiente para, desvelando o truque, fazer uma obra na qual fica desnudada a verdade/mentira midiática.

A essência de sua obra é a dúvida, a denúncia do que é verdade não sendo, do que é falso apresentado como verdade, do que é falso sendo verdadeiro. Pois se congestionamentos acontecem naquele local, ele mostrou o que acontece de verdade através de uma mentira. Mostrou o entrelaçamento entre o falso e o verdadeiro, aliás, na linha do filme "F for Fake" fo Orson Welles

Sensacional.

Há algum tempo não vejo algo tão bom. Isso sim é Arte Contemporânea que usa as ferramentas do tempo, que lida com o tempo, com a mídia, que é corajosa, pois ele deixou de ser fotojornalista para ser artista. É de se respeitar isso nesse mundo de bundas-moles.
« Última modificação: 16 de Janeiro de 2010, 09:18:33 por Ivan de Almeida »


RFP

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Resposta #37 Online: 16 de Janeiro de 2010, 09:23:30
Os comentários são muito interessantes, pois a maior parte deles mostra uma resistência quase selvagem em tentar ampliar um pouco a visão sobre o que está sendo discutido.

Temos esse artista, o Gravlejs, que, com seu trabalho, mostra como se dá o funcionamento de uma determinada atividade humana. Além de descrever o processo, ele mostra suas falhas e tendenciosidades. Subverte-o de dentro e causa impacto. Portanto, provavelmente sua obra se caracteriza mais como arte do que qualquer fotografia que tenha sido feita pelos seus críticos. O artista, que não engana ninguém, uma vez que revela o processo, nos dá algo em que pensar: na fragilidade da fotografia enquanto descrição da realidade, na inevitabilidade da destruição desse conceito pelas novas tecnologias e, mais importante, na forma enviesada com as informações são produzidas. O jornal quer ter o seu engarrafamento para agradar os seus leitores e a sua linha editorial, que não raro é regida por interesses políticos e econômicos. A manipulação não está na adulteração da foto, a manipulação começa no jornal quando eles dizem ao fotógrafo: "consiga um congestionamento".

O nosso artista, então, que está na posição mais baixa da cadeia, resolve denunciar esse processo. E é claro que é em proveito próprio, como tudo que fazemos. Podemos deixar a hipocrisia de lado. Ele, então, ousa descrever o funcionamento de tudo que está acima. As pessoas, em vez de analisar o que ele está dizendo, reagem com raiva. Ele traiu a confiança, ele enganou, ele cometeu o sacrilégio de atacar os sistema ao qual ele deveria estar placidamente submetido. Sobre o trabalho em si, poucos falam. É melhor fechar os olhos e tapar os ouvidos, pedindo que ele tire da frente essa obra imoral, antiética.

E então opta-se por atacá-lo, por atribuir a ele interesses mesquinhos, por relegá-lo ao esquecimento. Dessa forma, pode-se voltar rapidamente à ignorância, a credulidade cega num sistema em que a fotografia é uma espécie de deus da verdade e a informação é sempre neutra. É muito mais confortável.

E como o Marcelo Voss disse, isso nem é uma grande coisa. A essa altura, já deveríamos entender como as coisas funcionam. Mas, ao invés, preferimos afastar esse tipo de reflexão da mesma forma que espantamos um mosquito que nos incomoda. Preferimos atacar a pessoa a gastar 30 segundos ouvindo o que ele tem a dizer. Sem perceber que, ao fazer isso, fala-se mais sobre si mesmo do que sobre o artista. Alguém aí já leu o Mito da Caverna do Platão?


RFP

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Resposta #38 Online: 16 de Janeiro de 2010, 09:25:43
Há algum tempo não vejo algo tão bom. Isso sim é Arte Contemporânea que usa as ferramentas do tempo, que lida com o tempo, com a mídia, que é corajosa, pois ele deixou de ser fotojornalista para ser artista. É de se respeitar isso nesse mundo de bundas-moles.

Como sempre, você resumiu em poucas linhas o que eu tentei dizer em parágrafos.


Ivan de Almeida

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Resposta #39 Online: 16 de Janeiro de 2010, 09:32:15
O artista, que não engana ninguém, uma vez que revela o processo, nos dá algo em que pensar: na fragilidade da fotografia enquanto descrição da realidade, na inevitabilidade da destruição desse conceito pelas novas tecnologias e, mais importante, na forma enviesada com as informações são produzidas. O jornal quer ter o seu engarrafamento para agradar os seus leitores e a sua linha editorial, que não raro é regida por interesses políticos e econômicos. A manipulação não está na adulteração da foto, a manipulação começa no jornal quando eles dizem ao fotógrafo: "consiga um congestionamento".

Penso, Rodrigo, que a obra transcende a crítica ao papel de "máquina mágico-ontológica" dado à câmera fotográfica, e atinge mais que isso. Atinge a relação dos leitores com a mídia, a nuvem de verdades midiáticas em que todos habitamos. Mas eu gostaria de apontar algo... como toda obra artística, ele é estética. Ao percebermos o que ele fez nos sobrevém uma percepção poética, um breve momento de metanóia durante o qual temos consciência da nuvem midiática antes de perdemos novamente a consciência, e perceber assim é estético.

Não consigo reduzir a obra apenas à denúncia da maquininha mágica. É mais que isso.


RFP

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Resposta #40 Online: 16 de Janeiro de 2010, 10:01:20
Com certeza. A máquina é apenas um aspecto, a denúncia da qual falo é a do funcionamento mais amplo da mídia no qual a fotografia se insere.


Ana Adams

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Resposta #41 Online: 16 de Janeiro de 2010, 11:04:36
Que a imprensa e praticamente toda a mídia é manipuladora e perigosa , isso não é novidade prá ninguém e esse sujeito não denunciou nada . Todo mundo sabe. Nós todos aqui sabemos e não estamos deixando de ver o "maior incômodo" por causa  do mentirosinho interesseiro. Como eu já disse no meu post anterior, ele não é melhor que o jornal que paga seu salário. Mas em nenhum, nenhum momento isso faz dele um artista, nem o photoshpzinho dele é arte. É simples : tira a foto dele do contexto mentiroso e coloca numa galeria. Vale alguma coisa agora? Mexe com alguém?
« Última modificação: 16 de Janeiro de 2010, 11:57:24 por Ana Adams »


Ivan de Almeida

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Resposta #42 Online: 16 de Janeiro de 2010, 12:12:30
Que a imprensa e praticamente toda a mídia é manipuladora e perigosa , isso não é novidade prá ninguém e esse sujeito não denunciou nada . Todo mundo sabe. Nós todos aqui sabemos e não estamos deixando de ver o "maior incômodo" por causa  do mentirosinho interesseiro. Como eu já disse no meu post anterior, ele não é melhor que o jornal que paga seu salário. Mas em nenhum, nenhum momento isso faz dele um artista, nem o photoshpzinho dele é arte. É simples : tira a foto dele do contexto mentiroso e coloca numa galeria. Vale alguma coisa agora? Mexe com alguém?

Ana.

Suas questões são alheias aos problemas da Arte Contemporânea. Você está julgando Arte Contemporânea com o metro da arte convencional. E está julgando o artista com o mettro do imaginário da fotografia jornalística.

Não é "denúncia". Esta palavra é errada no debate. É sim uma atitude de deslocamento poético provocada no recepetor da mídia. Por isso insito no aspecto estético-poético da obra.

Mas, julgando como fotografia, aí não se está julgando o fenômeno, mas só seu método.


AFShalders

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Resposta #43 Online: 16 de Janeiro de 2010, 12:44:51
Como eu já disse no meu post anterior, ele não é melhor que o jornal que paga seu salário. Mas em nenhum, nenhum momento isso faz dele um artista, nem o photoshpzinho dele é arte. É simples : tira a foto dele do contexto mentiroso e coloca numa galeria. Vale alguma coisa agora? Mexe com alguém?

Ana, você falou tudo. Chamar esse cara de artista realmente é demais. Para mim continua sendo apenas um oportunista e falsificador de imagens. Não merece ser tratado como mais do que isso.


pumba

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Resposta #44 Online: 16 de Janeiro de 2010, 13:12:18
É engraçado ver a reação das pessoas, e toda essa discussão sobre o que é arte ou não.
E principalmente o peso que isso tras!
"não é arte pra mim nunca, é só um falsificador"
Será que um falsificador não pode ser um artista?
O que será que o eleva ao pedestal (que já não existe mais)
Será que o tiozinho que copia fotos pro papel com grafite na feirinha é artista?

Acho que a discussão mais importante é "o que é ser artista nos dias de hoje", que pode ser compeltamente diferente de "o que é um artista para você?", pois a arte foge ao juizo pessoal, ela extrapola esse campo, converge ao social, a sociedade, aos meios em que ela se insere.