Autor Tópico: Fotografias não mentem, mas mentirosos fotografam  (Lida 6929 vezes)

Georges

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Resposta #15 Online: 14 de Fevereiro de 2006, 23:22:46
Ei Francisco e Juliana, o negócio de vocês é mesmo o filme heim? E Juliana, seja bem-vinda ao fórum, é sempre positiva a participação feminina! Sobre a "mentira" na fotografia, acho que também não podemos confundir com a interpretação individual do fotógrafo sobre imagem, mas concordo que seja possível buscar uma "verdade" alternativa e que isso ocorra em especial na fotografia publicitária. Só fiquei curioso sobre como a "mentira" possa ocorrer em fotografia de questões sociais, acredito ser possível e que possa ser usada, mas não tenho um exemplo disso em mente...
Georges Lemos
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Juliana Dedavid

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Resposta #16 Online: 14 de Fevereiro de 2006, 23:33:07
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Ei Francisco e Juliana, o negócio de vocês é mesmo o filme heim? E Juliana, seja bem-vinda ao fórum, é sempre positiva a participação feminina! Sobre a "mentira" na fotografia, acho que também não podemos confundir com a interpretação individual do fotógrafo sobre imagem, mas concordo que seja possível buscar uma "verdade" alternativa e que isso ocorra em especial na fotografia publicitária. Só fiquei curioso sobre como a "mentira" possa ocorrer em fotografia de questões sociais, acredito ser possível e que possa ser usada, mas não tenho um exemplo disso em mente...
Georges, obrigada pelas boas vindas! Espero aprender bastante por aqui! :)

Olha só, acredito que o fotógrafo possa querer passar uma idéia pré-estabelecida quando tira uma foto, mas a margem de erro que existe entre o que ele quer passar, o que ele realmente passa, e pra quem ele passa, é grande. Acho que existem mil variáveis e resultados possíveis. Ainda que a foto tenha um propósito, nem sempre o espectador enxerga aquilo.
Não tô dizendo com isso que exista uma "falha de comunicação", pelo contrário, acredito que exista uma infinitude de linhas de comunicação, conforme a experiência, a cabeça de cada um.

Isso em qualquer foto, mesmo nas de cunho social... Sei lá, de repente uma casinha de madeira, tosca e mal pintada, te passe uma idéia de pobreza, sofrimento, etc, etc. Mas se a pessoa que vir a casinha for um morador de rua, por exemplo, ela teria outros significados pra ele. Ou mesmo se tu já morou numa casinha parecida e te recorda de bons momentos, sei lá. Infinitas possibilidades.

[Não sei se foi nesse sentido o teu questionamento... Espero não ter viajado muito. Qualquer coisa, me dêem um pára-te-quieto, heheeh :P]




 
Juliana Dedavid
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Alex Biologo

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Resposta #17 Online: 14 de Fevereiro de 2006, 23:37:01
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Ei Francisco e Juliana, o negócio de vocês é mesmo o filme heim? E Juliana, seja bem-vinda ao fórum, é sempre positiva a participação feminina! Sobre a "mentira" na fotografia, acho que também não podemos confundir com a interpretação individual do fotógrafo sobre imagem, mas concordo que seja possível buscar uma "verdade" alternativa e que isso ocorra em especial na fotografia publicitária. Só fiquei curioso sobre como a "mentira" possa ocorrer em fotografia de questões sociais, acredito ser possível e que possa ser usada, mas não tenho um exemplo disso em mente...
Georges, penso que de certa forma, toda foto traz alguma mentira, pois traz o olhar de quem faz a foto e esse olhar é carregado de pré conceitos, estes pré conceitos podem alterar a mensagem a ser passada sem que isso seja proposital, mas acabam falseando a foto como um todo, independente do estilo da fotografia.
Alex Martins dos Santos - São Paulo/SP
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Resposta #18 Online: 14 de Fevereiro de 2006, 23:41:25
Alex, concordo contigo.

Nesse sentido foi que falei da "margem de erro". Cada um com seu olhar.
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Resposta #19 Online: 20 de Fevereiro de 2006, 22:39:28
Um poema do Drummond que acho que tem bastante a ver com a questão dos infinitos olhares possíveis:

A verdade dividida
Drummond de Andrade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
---------

Abraços!

Juliana
Juliana Dedavid
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Resposta #20 Online: 21 de Fevereiro de 2006, 00:02:19
Colocando lenha na fogueira: embora eu concorde com o Ivan sobre que uma fotografia pode ser facilmente usada a fim de manipular, muitas vezes não é intencional. Um bom fotografo coloca na sua fotografia o que ele vê. Brinco quando amigas dizem não serem fotogênicas para posarem, beleza nem sempre tem a ver com isso e sim como eu as vejo. Acredito que vou fotografar realmente bem quando minha foto transparecer meu olhar e não a realidade concreta. Manipulando ou não, eu parto da premissa que o olhar de um artista nem sempre é o olhar da realidade, ele pode não estar mentindo, antes ao contrário, mostrando aos outros sua visão particular. Evidentemente esse raciocínio não se aplica a fotojornalismo.

* Ah propósito, bem-vinda, Illis.
« Última modificação: 21 de Fevereiro de 2006, 00:08:09 por Gustavo RM »
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Ivan de Almeida

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Resposta #21 Online: 21 de Fevereiro de 2006, 09:26:11
Gente...

O que caracteriza a mentira é ela oferecer uma visão da realidade que induz a uma determinada convicção sem que o receptor da mensagem esteja realmente informado sobre o assunto.

Isso é é "a visão do fotógrafo" não, mas pura e simplesmente propaganda.

Estamos cansados de ver isso. O cara vai fotografar alguma coisa, por exemplo, uma favela, e fotografa exatamente a criança com catarro escorrendo do nariz e de pés descalços, e "resume" a favela naquilo. Na verdade ao lado dela tem a moça diligente que se arruma para trabalhar e mora na casa vizinha, tem o garoto que vai à escola, etc. Não se trata de não retratar o garoto do catarro, mas sim de contingenciar a fotografia, de não propô-la como resumo de algo que é bem maior, plural e que tem outros tantos aspectos provavelmente sem o mesmo apelo mas igualmente verdadeiros.

Ninguém aqui é ingênuo em relação á fotografia. Todos sabemos que podemos ir a um prédio em mediano estado de conservação e trazer tanto fotos dele belo quanto fotos dele degradado. O mesmo prédio. O problema é quando isso é usado direta ou indiretamente como peça de convencimento, pois implica em enganar o observador que não tem acesso ao prédio como ele é de fato, e assim pode ser convencido ou que ele não precisa de nada, ou que ele é inabitável.

O fundamento da mentira é querer manipular a opinião alheia através de uma mostra parcial ou deformada do contexto.
« Última modificação: 21 de Fevereiro de 2006, 11:19:27 por Ivan de Almeida »


Alex Biologo

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Resposta #22 Online: 21 de Fevereiro de 2006, 22:13:54
Ivan, mas levando a ferro e fogo o que vc diz, toda foto é mentirosa, pq só mostra o que o fotógrafo quer. Se ele enxerga a favela como algo ruim, vai pegar a criança com catarro e não os demais exemplos, se ele quiser passar a idéia de uma comunidade, vai buscar a moça arrumada indo trabalhar, crianças indo pra escola, confraternização entre vizinhos e coisas alegres.

Tudo vai depender do olhar de quem faz a foto e do que essa pessoa acredita, assim a mentura sempre vai sexistir, pq não dá pra sempre se mostrar todos os lados de cada questão, escolhemos apenas um ângulo e ele que é demonstrado.
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GRM

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Resposta #23 Online: 21 de Fevereiro de 2006, 22:41:19
Concordo, por isso fiz a distinção do fotojornalismo onde ao fotógrafo não é dado esse direito de decidir o que mostra, visto que estaria influenciando o próprio caráter da imprensa, que ao menos em teoria é o de isenção. Mas quem fotografa por diversão (e arte) mostra o que quiser sem necessariamente manipular. Na verdade nos enganamos constantemente. Enganamos a nós mesmos com crenças nem sempre corretas. Num exemplo poderia mostrar, como diz o Alex, o que eu acredito que seja uma favela, apenas crianças ranhentas (rs), não mostrar as que vão à escola. Determinado fotógrafo pode ter a visão negativa, mas não necessariamente manipuladora. Por mais isentos que possamos ser, tudo aquilo que desde que nascemos faz parte do nosso 'animus intimu', cultura, educação, meio, tudo interfere em nossos julgamentos, jamais possuiremos a isenção necessária. O que, sim, eu acredito é que somente bons fotógrafos transmitem aquilo que vêem, isentos ou não.
« Última modificação: 21 de Fevereiro de 2006, 22:46:25 por Gustavo RM »
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Ivan de Almeida

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Resposta #24 Online: 22 de Fevereiro de 2006, 15:22:43
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Ivan, mas levando a ferro e fogo o que vc diz, toda foto é mentirosa, pq só mostra o que o fotógrafo quer. Se ele enxerga a favela como algo ruim, vai pegar a criança com catarro e não os demais exemplos, se ele quiser passar a idéia de uma comunidade, vai buscar a moça arrumada indo trabalhar, crianças indo pra escola, confraternização entre vizinhos e coisas alegres.

Tudo vai depender do olhar de quem faz a foto e do que essa pessoa acredita, assim a mentura sempre vai sexistir, pq não dá pra sempre se mostrar todos os lados de cada questão, escolhemos apenas um ângulo e ele que é demonstrado.
Alex:

Toda descrição é falsa, mas a mentira começa quando o mentiroso sabe da falsidade e a usa com o objetivo de convencer errado.

A mentira tem por objetivo formar uma convicção errada ou parcial no receptor. O discurso não mentiroso também não é exato, mas não quer convencer altuém do que não é.


Leo Terra

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Resposta #25 Online: 22 de Fevereiro de 2006, 15:34:23
Acho que vc definiu bem Ivan... O mentiroso sabe que a informação é errada, enquanto o equivocado não. :)
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Angela Zec

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Resposta #26 Online: 22 de Fevereiro de 2006, 15:47:33
"Fotos tanto revelam como mentem", Suzan Sontag. Para ela, imagens serão sempre expressões políticas, conscientes ou não. Serão sempre também o inventário da finitude, composto de situações e pessoas do passado. Serão ainda uma idealização da realidade, como no caso dos álbuns familiares, que buscam construir um símbolo de coesão. Em suma, embelezam a vida.


Difícil comentar um tópico tão bem comentado... adorei as crianças ranhentas (hehehe), os OVNIs, tudo!

Fui buscar um ponto de vista de uma fotógrafa reconhecida. E concordo com ela.

Acredito que a mentira, no caso da citação de Lewis Hine, não se referia à mentira intencional, e sim na escolha sob o ponto de vista do fotógrafo, retirando o contexto onde determinada imagem estava inserida, reproduzindo somente parte de um todo. Ou, inversamente, o todo, e não a parte.

Típica foto que me vem à cabeça: São Paulo, viaduto do Chá, muitas e muitas pessoas andando...  

É real? Sim, é. Mas se estivéssemos olhando a cena real, poderíamos perceber muitas pessoas em passos lentos... apreciando a vista do Anhangabau... e o fotógrafo poderia ter escolhido só a imagem de uma pessoa andando lentamente, hiptonizado pelo Vale do Anhangabau...

Qual imagem estaria correta? Qual seria mentira? Ambas seriam verdadeiras... e também mentirosas...  
Angela Zec
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Resposta #27 Online: 22 de Fevereiro de 2006, 16:23:08
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Qual imagem estaria correta? Qual seria mentira? Ambas seriam verdadeiras... e também mentirosas...
Boa sua colocação, Angela. O bom fototografo compartilha sua visão particular de determinado assunto, não acredito em pessoas 100% isentas, ainda que sem dúvida seja possível usar uma foto para enganar.

Transmitir sua própria visão não é enganação, ao contrário é coerência, eu por exemplo não vejo muita coisa, e por n razões talvez não me interesse em ver, direito meu transmitir um ponto de vista ainda que na minha foto, afinal é minha e quem melhor para decidir o que desejo na minha obra?

Agora indo um pouco mais além, interessante é que existem formas de manipular. Quem garante que um fotógrafo da miséria, dito de caráter denuncista, realmente se preocupa com o que fotografa e não, ao contrário, apenas a use como material de comoção para se auto-promover? Considerando que não somos jamais isentos de opiniões sobre assunto nenhum, ex. miséria, o que seria mais imoral, mostrar uma pobreza existente, mas que ele não vê ou se importa, buscando sua ascenção, ou deixar de fotografar essa pobreza existente se simplesmente não dá a mínima para ela? A mim é claro que a manipulação evidente no primeiro caso, não se dá no segundo.

* Novamente alerto, isso não se aplica ao fotojornalismo onde quem deve decidir o que acha é o expectador, e não o fotógrafo que deve se limitar a documentar a realidade.
« Última modificação: 22 de Fevereiro de 2006, 16:25:29 por Gustavo RM »
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Resposta #28 Online: 22 de Fevereiro de 2006, 20:05:25
Uma das coisas mais importantes a ser dita é essa sobre o "fotógrafo da miséria". O Bresson não fotografava mi´seria, assim como o Salgado não fotografa miséria. Ambos fotografam o ser humano, sem reduzi-lo a um estereotipo na sua fotografia. Do bressom é famosa sua atitude de sempre dignificar as pessoas nas fotos, nunca tomá-las de forma degradante, nunca torná-las objeto. O mesmo faz o Salgado. Podem fotografar pobres ou ricos (o Bresson fotografou pobres e ricos) mas sempre fotografava uma pessoa, dona de sua imagem e de sua individualidade.

Faço muitos retratos, muitos familiares mas muitos de pessoas que conheço, e digo que o aspecto afetivo é essencial ao retrato. Eu tenho de querer retratar e tenho de, de alguma forma, compreender aquela pessoa. O retrato do puro desconhecido fica frio. Mesmo quando é desconhecido é preciso uma aproximação.


george

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Resposta #29 Online: 24 de Fevereiro de 2006, 17:50:10
Mas nenhum retrato é capaz de demonstrar toda a personalidade de uma pessoa. As pessoas possuem comportamentos dinâmicos, estão sempre mudando, e é só com base neles que podemos inferir como é a personalidade de alguém.

Todo retrato acaba sendo uma imagem idealizada da pessoa, justamente por causa das escolhas do fotógrafo, das quais ele não tem como escapar. Se Bresson e Salgado não mostram a miséria das pessoas, mas sim sua dignidade e "individualidade"(ponho entre aspas porque não vejo como uma mera imagem possa demostar algo tão complexo), é porque eles escolheram fazer assim.

O espectador sempre irá fazer um interpretação da interpretação do fotógrafo. E mesmo que o espectador estivesse em contato direto com o retratado, ele só podeira interpretar os comportamentos desta pessoa, as informações que ela transmitisse (consciente ou inconscientemente); sem nunca ter conhecimento absoluto da personalidade dessa pessoa. [Já dizia Peirce, nós não podemos conhecer as coisas, apenas os seus efeitos. Essa que é a essência do Pragmatismo, que foi criado pelo próprio Peirce, mas equivocadamente interpretado e popularizado por William James].

As fotos nunca mostram a verdade, apenas uma verossimilhança. Cabe ao fotógrafo escolher como essa verossimilhança será. Se ele quer mostrar a "realidade como ela é", deve tentar ser o mais imparcial possível. Mas sabemos que a total imparcialidade é impossível, e ái só nos resta confiar na boa fé do fotógrafo.
« Última modificação: 24 de Fevereiro de 2006, 17:52:22 por george »
Cidade: São Paulo - SP (Mas de vez em quando em Balneário Cmaboriú - SC)

Equipamento: Canon 300d + Tamron Zoom Wide Angle-Telephoto AF 28-80mm f/3.5-5.6 Aspherical Autofocus + 2 cartões de 512mb + Polarizador Hoya 58mm (recém adquirido)... e ainda sem tripé :P