O antigo provérbio brasileiro "A assombração sabe para quem aparece" nunca fez tanto sentido pra mim como no dia de hoje.
De férias e louco pra fotografar com minha "nova" Mamiya Super 23, fui procurar assunto em Ouro Preto.
A assombração não foi a Panmella, nossa colega do FCBH, a qual também me encontrei com a mesma se ambientando em sua nova cidade. A assombração tem nome e um maravilhoso labor:
Trata-se do Argentino Daniel Doval, fotógrafo "Lambe-lambe".
Daniel reside em Ouro Preto, construiu sua própria câmera, usando uma antiga Nikon de 35 mm. No folheto que ele me ofertou, vem escrito:
"Esta câmera foi construída pelo p´roprio fotógrafo. O primeiro modelo deste tipo data de 1905 e ficou conhecido pelo nome de "Câmera Ambulante". A revelação é feita manualmente e dura aproximadamente 10 minutos.
Daniel aprendeu os segredos da fotografia entre encontros com velhos alquimistas desta antiga profissão. O fotógrafo já passou por Paraty, Montevidéu, Buenos Aires e Bariloche.
Seu objetivo com este trabalho é fazer um resgate cultural: continuar com o ofício respeitando o processo de revelação com agentes químicos."
Pois bem, nessa surpresa tão boa não pude deixar de pesquisar os pormenores da câmera de Daniel. Trata-se de uma caixa com tudo o que é necessário para a revelação do negativo e a ampliação, gerando uma cópia oriunda de um fotolito de alto contraste. O revelador e interruptor se localizam dentro de pequenos tubos, o qual o papel é enrolado e mergulhado no interior de cada um. Esses dois tubos ficam presos na tampa, que por sua vez serve de moldura a uma grande e desconjuntada capa preta.
Dentro da caixa encontra-se uma antiga Nikon desmontada e engenhosamente disposta a receber o fotolito e um pentaprisma direciona a imagem da objetiva até o seu plano focal. Um flash oferece a luz para a devida ampliação da foto. Tudo dentro da caixa.
É óbvio que eu não poderia deixar essa oportunidade passar e pedi ao colega que tirasse uma foto minha.
E rapidamente, em menos de 10 minutos, foi me entregue o negativo e a cópia, numa simpática moldura de cartolina que ele mesmo produz. Todo esse trabalho artesanal por R$ 20,00.
Juntamente ao objeto de sua arte, Daniel ainda oferece um outro folheto, acompanhando a moldura, onde ao fim, lê-se uma gostosa explicação:
"(...) As circunstâncias do Saudoso Fotógrafo exigiam tempo mínimo de lavagem e mínima quantidade de água. Portanto, para garantir a qualidade do trabalho, eles tocavam a língua nas fotos durante a lavagem para avaliar a qualidade da fixação e da própria lavagem. Os clientes que viam aquela cena não podiam entender por que aquele homem a cada instante "lambia" as fotografias."