C'est l'artiste qui est véridique et c'est la photographie qui est menteuse : car dans la réalité, le temps ne s'arrête pas.
August RodinEssa frase de Rodin se destacou, pra mim, no excelente texto de Peter Galassi, no livro "Henri Cartier-Bresson - Tempos Modernos", o qual não pude me conter em compartilhar um excerto, onde ele analisa essa famosa foto de Bresson:
Segue infra:
"A excelente foto feita em um campo de deportados em Dessau, Alemanha, em 1945, durante a filmagem de
The Return é um bom exemplo. Em um interrogatório improvisado ao ar livre, uma mulher que havia sido delatada à Gestapo denunciou veemente a informante que o fizera. (...) Na foto, a mulher delatada está no ato de agredir a informante, cuja abjeta humilhação habita o corpo inteiro, até o polegar nervosamente enfiado em seu punho. Como nas antigas fotos de parada do movimento de Hyères e na Gare Saint-Lazare, tudo está imóvel exceto pelo pedacinho vital da ação. Nesse caso, porém, um elenco de personagens de apoio emoldura e amplia o evento. O interrogador fecha a cena à direita; à esquerda está um prisioneiro parado em seu uniforme listrado; entre eles, um friso de observadores compõe um coro grego.
(...)
Opondo-se à autoridade de que era creditada às sequências de Muybridge e a outras fotos
stop-action, Auguste Rodin clamava: "É o artista que é fiel e a fotografia que mente, pois, na realidade, o tempo não se imobiliza". É por isso que a foto de Cartier-Bresson do confronto em Dessau é muito mais poderosa que o breve surgimento do mesmo incidente em
The Return - que mostra que o incidente em movimento, mas se esvai tão abruptamente quando chega. A força da imagem não se deve a ela ser muito real, mas à sua extrema artificialidade, conforme corretamente salientava Rodin.
Em tal foto, há dois momentos decisivos totalmente distintos, conforme sugeriu Cartier-Bresson em sua famosa observação: "Pra mim, a fotografia é o reconhecimento simultâneo em uma fração de segundo, do significado de um evento". O primeiro moemnto é o Climax do confronto - a raiva da protagonista, a culpa da outra, e entre elas, o golpe que está prestes a ser dado. Nos termos da definição de Cartier-Bresson, esse era um evento significativo. Esse significado não dependia em nada da presença do fotógrafo.
(...)
Nesse sentido, a foto de Dessau é muito rara. Em grande parte do tempo, o assunto não oferece nenhum momento decisivo; o climax de significado é criado pela foto e existe somente nela."
Aqui você poderá ver o momento, filmado em
The Return, e conferir o que fala o texto acima.
http://www.youtube.com/watch?v=XCwvTGVCOJE