Autor Tópico: Por que só quero saber de filme?  (Lida 10881 vezes)

meletti

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Resposta #45 Online: 03 de Janeiro de 2011, 20:38:43
Gostei muito do que vc disse, GuiSimões. Vc foi no centro da questão e matou a pau! Parabéns!


spiderman

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Resposta #46 Online: 03 de Janeiro de 2011, 20:51:44
Smera,

eu não te conheço, mas leio sempre o que você escreve aqui na área de filmes. Só não entendo o "porque" você escreve aqui...

Acho que se existe um espaço e ele é publico (como esse), todo mundo pode usa-lo, portanto acho que você pode fazer o que bem entender. Mas tenho achado que suas mensagens tem desencorajado as boas mentes dessa sala a se expressar.

Vou ser muito sincero com você, como toda a educação do mundo, mas eu não abro essa área do fórum para ler o que você escreve ou suas opiniões sobre o mundo digital. Eu venho aqui para ler o que o Elmo, Braga, Afshalders e outros escrevem sobre FILMES. Só que eles tem desistido de habitar essa área por causa de textos sem sentido e desnecessarios como esses seus.

Todos aqui somos fotografos digitais, experientes e contentes com nossos equipamentos. Mas estamos aqui para encher a bola dos filmes, das cameras antigas e do processo artesanal. E queremos fazer isso em paz e entre pessoas que gostam disso. Por favor, respeite esse espaço que também é seu e passe a falar de analogico (que é o intuito da sala).

Obrigado,
Guilherme Simoes - Fotografo Publicitário


:ok:

Campanha de crowdfunding pra lançamento do livro - Retratos pra Yayá

Acesse e apoie: www.catarse.me/retratosprayaya


GuiSimões

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Resposta #47 Online: 03 de Janeiro de 2011, 22:36:39
smera,

reintero que falo apenas por mim e a respeito da sala de Fotografia Analogica. O forum é grande, publico e democratico. Tenho certeza que você pode contribuir tanto aqui, como em outras areas desse site. Não há motivos para decisões radicais, apenas entender que o mundo da fotografia analogica diminuiu demais nos ultimos anos e somos poucos pra conversar a respeito.

Se perdermos mais esse espeço e as boas mentes que nele habitam, ficará ainda mais dificil manter um hobby cada vez mais desencorajador.

Abraços e se quiser, saimos pra clicar qualquer hora! (com filme, obvio)  :D


Braga.SP

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Resposta #48 Online: 03 de Janeiro de 2011, 23:29:12
smera,

Não sei se você já viu. Se já, esqueça. Se nunca, por favor, procure ver ao vivo, em mãos, um negativo feito em 4x5. Iria sugerir 8x10, mas aí eu já acho que seria forçar a barra. Se ao invés de negativo você puder ver um cromo (ou slide, ou diapositivo) nesse tamanho, depois nos conte o que viu.

Eu tenho uma foto feita em P&B, em grande formato, cuja película é de 8x10' (polegadas). Imagine, cara, esse troço mede cerca 203x254mm. Quase o tamanho de um A4 e não é ampliação, é a própria imagem capturada tal como ela é. A foto P&B que tenho é uma prova de contato, não é ampliação. Você sabe como é isso, né?! Pois bem, com a película encostada direto no papel, faz a exposição de luz, e transfere-se para o papel tudo, mas tudo o que a lente viu e conseguiu registrar.

Conte-nos, algum dia você já teve alguma experiência com filme. Eu tambémn uso digital, não me nego a usufruir da tecnologia. Aliás, eu sou um consumidor voraz de tecnologia. Mas falar de filme não é viver um saudosismo desmedido, é conhecer um mundo que... ah! deixa pra lá.

Fale da sua experiência.
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Diogo A.

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Resposta #49 Online: 03 de Janeiro de 2011, 23:56:37
Smera,

A minha intenção não é de denegrir o sistema digital, eu estou apenas expressando a minha preferência pelo filme, é um gosto pessoal, para mim não importa o quanto o digital evolua, eu sempre irei preferir o filme, assim como muitas outras pessoas também irão.

Não sou fotógrafo profissional, a praticidade do digital não é vantajosa para mim, por isso acho mais interessante e fascinante fotografar com filme. Admiro todo o processo da fotografia com película, adoro câmeras antigas e gosto muito de ouvir nomes divertidos como: Kodachrome, Reala, Ektar, Neopan, Velvia, Tmax, Rolleiflex, Voigtlander e etc...

O mundo é muito grande, ambas as tecnologias podem coexistir normalmente, felizes para sempre. E todos podem escolher a que acharem melhor. Eu escolhi o filme.

Abraço
 
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GuiSimões

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Resposta #50 Online: 04 de Janeiro de 2011, 00:48:50
Voltando ao tópico,

estou trazendo alguns rolinhos de ADOX de um fornecedor do Canadá. Se eu revela-los no processo tradicional aqui com o senhor Ogava vou ter alguma perda de qualidade ou preciso de quimicos especificos (ADONAL/RODINAL)? No site eles tem informações um pouco contraditorias.

Se alguém se comprometer a me arrumar bobinas vazias, podemos negociar uma doação de parte dos 30 metros, que tal? Aí rebobinamos aqui em SP. :D

Deve vir:
ADOX CHS 25 Art Series
ADOX CMS 20 Premium Line

Provavelmente o escolhido para 120 será o ASA 20, o 25 será 35mm

[]'s

PS: Eles chegam dia 13
« Última modificação: 04 de Janeiro de 2011, 00:51:22 por GuiSimões »


Diogo A.

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Resposta #51 Online: 04 de Janeiro de 2011, 01:33:51
GuiSimões,

Acho que você só vai conseguir toda a resolução que esses filmes prometem se forem revelados com a química deles, e também é claro com o uso de lentes super claras e nítidas. Pelo menos é o que diz no site da Adox. http://www.adox.de/english/ADOX%20Films/Premium/ADOX_Films/ADOX_CMS_Films.html
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AFShalders

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Resposta #52 Online: 04 de Janeiro de 2011, 01:38:39
Voltando ao tópico,

estou trazendo alguns rolinhos de ADOX de um fornecedor do Canadá. Se eu revela-los no processo tradicional aqui com o senhor Ogava vou ter alguma perda de qualidade ou preciso de quimicos especificos (ADONAL/RODINAL)? No site eles tem informações um pouco contraditorias.

Se alguém se comprometer a me arrumar bobinas vazias, podemos negociar uma doação de parte dos 30 metros, que tal? Aí rebobinamos aqui em SP. :D

Deve vir:
ADOX CHS 25 Art Series
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Provavelmente o escolhido para 120 será o ASA 20, o 25 será 35mm

[]'s

PS: Eles chegam dia 13


Tem q usar a quimica recomendada


GuiSimões

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Resposta #53 Online: 04 de Janeiro de 2011, 02:00:33
Pois é, eu li onde eles recomendam o uso da quimica especifica, mas tem alguns paragrafos onde eles "deixam" vc usar até cafenol.

vejam:

"...If developed in non dedicated low contrast developers (HC 110, cafenol etc) it can be exposed at 6-12 ASA..."


"...20 and sheetfilms should be prewatered in order to dissolve the supercoating equally and prevent streaks
1) Can be developed in almost any B/W developer
2) Stop with water only (do not use strong stopbath)
3) Fix in any fixer.
4) Water for 30 Minutes under running water with 20 deg C. ..."

Informação tirada daqui: http://www.adox.de/english/ADOX%20Films/Art/ADOX_Films/page1/page1.html


joseazevedo

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Resposta #54 Online: 04 de Janeiro de 2011, 02:38:57
Tentando refocar no assunto do tópico:

O que o Diogo argumenta é que o filme é uma coisa física, o digital é virtual, não existe fisicamente. Este é um dos pontos "mágicos" do filme pois, sendo físico, pode ser admirado. Cultuado. Mas isto (culto) eu deixo para os fanáticos, que não é o caso de ninguém que esteja lendo isto.

O grande lance do filme é que ele é analógico. A mesma coisa que LP e CD. Na década de 70, pra ganhar uma graninha, eu era DJ, dava festas. Tudo com LPs, claro. Quando o CD apareceu numa grande feira aqui em São Paulo, eu corri pra ouvir esta maravilha da qual todo mundo falava. Dois stands da feira tinham filas enormes para suas salas de audição: Sony e Philips, os criadores do CD. Fiquei na fila; chegou a minha vez; entrei na sala; as portas se fecharam e começou uma música clássica, depois um jazz, uma MPB - faltou Disco. Depois da audição eu dei uma olhada no equipamento para checar a equalização. A minha conclusão, após ouvir nos dois stands e conferir que as equalizações estavam ok, permanece até hoje: mas que m@#%*! Falta grave! Não tem chiado, mas falta grave.

O LP está de volta, a cerca de R$ 150,00 cada, e vendendo bem! O número de títulos só aumenta, podem conferir na Livraria Cultura, por exemplo.

A diferença das tecnologias é básica: um é uma linha reta de um ponto a outro, o outro é uma escadinha que tenta simular a linha reta. Um é o corrimão, o outro os degraus da escada. E a melhor definição que ouvi até hoje é: "Quando o digital for capaz de simular todas as nuances do analógico, ele será analógico". Você terá um corrimão numa rampa.

São duas mídias diferentes, com capacidades diferentes e ponto final. Já vi excelentes trabalhos em digital que me fizeram pensar que haviam sido feitos em filme.

Mas nunca vi um trabalho em filme que parecesse feito em digital. E é isso que me atrai para o filme. Ele é ele. Ele tem personalidade. Tanto que a tecnologia moderna o tenta simular. A imitação é a mais sincera forma de admiração, diz o ditado inglês numa tradução livre.

O rital do filme me agrada mais. Tem o mistério e a gratificação. Envolve uma conquista, um sentimento de realização que o digital não apresenta.

O grão do filme me agrada mais que o pixel. É orgânico, aleatório, único, inimitável. Se você gastar um filme tirando fotos de uma parede com um motor drive, todas sairão iguais, mas nenhum grão de nenhuma imagem estará na mesma posição. Cada imagem tem sua impressão digital - sem trocadilhos...

Eu não gosto de me comunicar com mensagens gravadas; nem por e-mail ou MSN. Prefiro ligar para a pessoa. Falar com uma pessoa. Acho mais humano.

Por isso eu prefiro filme. Tenho que sair de casa, ir até uma lojinha, ter contato com outro ser humano. E novamente, depois de 1 ou 2 horas, me relacionar com outro ser humano novamente para obter minhas imagens.

Comece a prestar atenção: a modernidade e todos os seus recursos e facilidades de comunicação serviu para nos afastar mais uns dos outros, criar novas tribos, nichos, grupos isolados que ficam olhando para os seus umbigos e achando que a vida é aquilo.

Como isto é altamente sem graça, o que acontece? O culto ao passado onde a vida era mais que apertar botões. O culto ao vintage. As pessoas se vestem vintage, usam penteados vintage, relógios vintage, carros vintage, máquinas (de filme ou digitais com look) vintage, compram motos vintage, mas continuam no seu isolamento, apertando botões, fazendo de conta que estão vivendo a vida.

Hoje chegam ao cúmulo de ir a um show, ficar filmando no celular pra assistir em casa e curtir DEPOIS!!! C A R A C A ! ! ! !  Ao invés de verem os fogos de reveillon na varanda ficam vendo pela TV. As pessoas estão se tornando virtuais.

É por isso que eu curto filme.

Nada contra o digital, que é uma mídia que tem suas qualidades, seu valor, sem dúvida nenhuma. Mas, pra mim, não dá pra curtir. O processo não tem nenhum charme, nenhum grande desafio. Para mim, é trabalho, é retoque de imagem. Dependendo da sua capacidade no Photoshop, os resultados são ótimos.

Para ilustrar, uma historinha:
tem um "fotógrafo" aqui em São Paulo, muito famoso no Brasil inteiro, que se vangloria de clicar as maiores celebridades, ter as câmeras mais modernas, os computadores mais top que você possa imaginar. Ele realmente acredita que é o máximo.
Um cliente (uma universidade) o contratou direto para fazer fotos dos seus Campus. A diretora de arte encarregada do trabalho começou a receber as imagens. Depois da quinta vez que ela pediu alterações e nada dava muito certo ela veio me pedir auxílio pois sabe que eu curto muito fotografia.
Os retoques eram esquisitos, as luzes não batiam. Perguntei se ela havia acompanhado as fotos. Ela falou que sim. Perguntei como foram feitas as fotos. Olhem só: a criatura chega lá, sem luz NENHUMA, faz uma foto com tripé e pronto. Ela comentava com ele que estava escuro, ia perder muitos detalhes. A resposta: "Ah, o resto a gente arruma no computador". Eu falei que não dá pra retocar uma foto se você não tem a foto, melhor fazer em 3D.
OITO (8) meses depois eu saí da agência e o processo de retoques continuava.

Outra historinha para ilustrar o oposto:
a foto mais tranquila que eu já fiz na vida foi com o Luis Crispino. Chegamos ao Estúdio Abril, o set já estava armado conforme o layout. Ele perguntou se queríamos alterar alguma coisa. Não, estava ok. Um Polaroid 4x5 para checar a luz. Perfeito. Click! 1 hora depois saíamos de lá com o cromo 4x5 debaixo do braço felizes da vida. É a prova de FILME PODE SER BEM MAIS RÁPIDO QUE DIGITAL. Quem sabe, sabe.

É por isso que eu CURTO filme.

Espero não ter entediado vocês.

Abraços,

José Azevedo


nakinha

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Resposta #55 Online: 04 de Janeiro de 2011, 07:20:41
Prezado José Azevedo,
que comentário,hein?
Disse tudo aquilo que muitos pensavam mas não tinham palavras para descrever.
Parabéns !!!
 :worship: :worship: :worship:
NAKINHA
Canon EOS 600D
Canon EF-S 18-200mm  f/3.5-5.6 IS
Yongnuo EF 1.8/50mm
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Lente Sony E 18-55mm f/3.5-5.6 OSS
Lentes Manuais: Helios 44-3 2.0/58mm,  Promaster Spectrun 7 - 28-80mm. f/ 3.5-4.5, Kiron 2.0/28mm, Porst Color Reflex 1.8/50mm, Rollei Tele-Tessar 4.0/135mm.
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irado

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Resposta #56 Online: 04 de Janeiro de 2011, 07:31:25
karakoles.. mano jose azevedo, sua "cronica" merece ser transformada, plotada e pendurada na parede da sala. Sem mais palavras, não tenho mais o que dizer.
saudações,
irado furioso com tudo
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"Antigamento o homossexualismo era coibido, depois passou a ser tolerado, agora já está sendo completamente aceito e eu vou me embora antes que se torne obrigatório." [Arnaldo Jabor]
"infelizmente no brasil quem decide não é quem le jornal, mas sim quem limpa a bunda com ele." [encontrado no Orkut]


Braga.SP

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Resposta #57 Online: 04 de Janeiro de 2011, 07:45:38
Espero não ter entediado vocês.

Meu caro JERA,

Já manifestei outras vezes a admiração que tenho por ti. Faço-o novamente, sem me cansar disso.

É impressionante a sua capacidade de raciocínio tão claro acerca desse tema. Mais ainda, a sua intimidade com as palavras deixa claro o quanto você já "ralou" na vida pra chegar onde está: consciente, ponderado, tranquilo, intelectualmente moderno sem se esquecer do passado, e, acima de tudo, dono de uma nobreza de carater tão grande que não há como mensurar isto.

Entendiado?!!! Você só pode estar de brincadeira com a gente, né?! Tá bom, se é assim, então, continue a nos entendiar quando quiser.

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Mr. Hyde

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Resposta #58 Online: 04 de Janeiro de 2011, 09:40:17

Uma das demonstrações mais claras e ponderadas de um ponto de vista pessoal que eu já vi ser expressa aqui no MF.

É sempre bom conhecer a experiência de quem já tem uma longa estrada percorrida. Quanto essa narrativa vem acompanhada de bom senso ecoa forte na mente das pessoas e nos faz refletir. Bom saber que temos companheiros de fórum que ainda pensam o fazer fotográfico.

Parabéns, Zé, pela lucidez. Abç,

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"Deus perdoe o Mal que habita em mim" M. Nova


agalons

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Resposta #59 Online: 04 de Janeiro de 2011, 10:31:07
Tentando refocar no assunto do tópico:

O que o Diogo argumenta é que o filme é uma coisa física, o digital é virtual, não existe fisicamente. Este é um dos pontos "mágicos" do filme pois, sendo físico, pode ser admirado. Cultuado. Mas isto (culto) eu deixo para os fanáticos, que não é o caso de ninguém que esteja lendo isto.

O grande lance do filme é que ele é analógico. A mesma coisa que LP e CD. Na década de 70, pra ganhar uma graninha, eu era DJ, dava festas. Tudo com LPs, claro. Quando o CD apareceu numa grande feira aqui em São Paulo, eu corri pra ouvir esta maravilha da qual todo mundo falava. Dois stands da feira tinham filas enormes para suas salas de audição: Sony e Philips, os criadores do CD. Fiquei na fila; chegou a minha vez; entrei na sala; as portas se fecharam e começou uma música clássica, depois um jazz, uma MPB - faltou Disco. Depois da audição eu dei uma olhada no equipamento para checar a equalização. A minha conclusão, após ouvir nos dois stands e conferir que as equalizações estavam ok, permanece até hoje: mas que m@#%*! Falta grave! Não tem chiado, mas falta grave.

O LP está de volta, a cerca de R$ 150,00 cada, e vendendo bem! O número de títulos só aumenta, podem conferir na Livraria Cultura, por exemplo.

A diferença das tecnologias é básica: um é uma linha reta de um ponto a outro, o outro é uma escadinha que tenta simular a linha reta. Um é o corrimão, o outro os degraus da escada. E a melhor definição que ouvi até hoje é: "Quando o digital for capaz de simular todas as nuances do analógico, ele será analógico". Você terá um corrimão numa rampa.

São duas mídias diferentes, com capacidades diferentes e ponto final. Já vi excelentes trabalhos em digital que me fizeram pensar que haviam sido feitos em filme.

Mas nunca vi um trabalho em filme que parecesse feito em digital. E é isso que me atrai para o filme. Ele é ele. Ele tem personalidade. Tanto que a tecnologia moderna o tenta simular. A imitação é a mais sincera forma de admiração, diz o ditado inglês numa tradução livre.

O rital do filme me agrada mais. Tem o mistério e a gratificação. Envolve uma conquista, um sentimento de realização que o digital não apresenta.

O grão do filme me agrada mais que o pixel. É orgânico, aleatório, único, inimitável. Se você gastar um filme tirando fotos de uma parede com um motor drive, todas sairão iguais, mas nenhum grão de nenhuma imagem estará na mesma posição. Cada imagem tem sua impressão digital - sem trocadilhos...

Eu não gosto de me comunicar com mensagens gravadas; nem por e-mail ou MSN. Prefiro ligar para a pessoa. Falar com uma pessoa. Acho mais humano.

Por isso eu prefiro filme. Tenho que sair de casa, ir até uma lojinha, ter contato com outro ser humano. E novamente, depois de 1 ou 2 horas, me relacionar com outro ser humano novamente para obter minhas imagens.

Comece a prestar atenção: a modernidade e todos os seus recursos e facilidades de comunicação serviu para nos afastar mais uns dos outros, criar novas tribos, nichos, grupos isolados que ficam olhando para os seus umbigos e achando que a vida é aquilo.

Como isto é altamente sem graça, o que acontece? O culto ao passado onde a vida era mais que apertar botões. O culto ao vintage. As pessoas se vestem vintage, usam penteados vintage, relógios vintage, carros vintage, máquinas (de filme ou digitais com look) vintage, compram motos vintage, mas continuam no seu isolamento, apertando botões, fazendo de conta que estão vivendo a vida.

Hoje chegam ao cúmulo de ir a um show, ficar filmando no celular pra assistir em casa e curtir DEPOIS!!! C A R A C A ! ! ! !  Ao invés de verem os fogos de reveillon na varanda ficam vendo pela TV. As pessoas estão se tornando virtuais.

É por isso que eu curto filme.

Nada contra o digital, que é uma mídia que tem suas qualidades, seu valor, sem dúvida nenhuma. Mas, pra mim, não dá pra curtir. O processo não tem nenhum charme, nenhum grande desafio. Para mim, é trabalho, é retoque de imagem. Dependendo da sua capacidade no Photoshop, os resultados são ótimos.

Para ilustrar, uma historinha:
tem um "fotógrafo" aqui em São Paulo, muito famoso no Brasil inteiro, que se vangloria de clicar as maiores celebridades, ter as câmeras mais modernas, os computadores mais top que você possa imaginar. Ele realmente acredita que é o máximo.
Um cliente (uma universidade) o contratou direto para fazer fotos dos seus Campus. A diretora de arte encarregada do trabalho começou a receber as imagens. Depois da quinta vez que ela pediu alterações e nada dava muito certo ela veio me pedir auxílio pois sabe que eu curto muito fotografia.
Os retoques eram esquisitos, as luzes não batiam. Perguntei se ela havia acompanhado as fotos. Ela falou que sim. Perguntei como foram feitas as fotos. Olhem só: a criatura chega lá, sem luz NENHUMA, faz uma foto com tripé e pronto. Ela comentava com ele que estava escuro, ia perder muitos detalhes. A resposta: "Ah, o resto a gente arruma no computador". Eu falei que não dá pra retocar uma foto se você não tem a foto, melhor fazer em 3D.
OITO (8) meses depois eu saí da agência e o processo de retoques continuava.

Outra historinha para ilustrar o oposto:
a foto mais tranquila que eu já fiz na vida foi com o Luis Crispino. Chegamos ao Estúdio Abril, o set já estava armado conforme o layout. Ele perguntou se queríamos alterar alguma coisa. Não, estava ok. Um Polaroid 4x5 para checar a luz. Perfeito. Click! 1 hora depois saíamos de lá com o cromo 4x5 debaixo do braço felizes da vida. É a prova de FILME PODE SER BEM MAIS RÁPIDO QUE DIGITAL. Quem sabe, sabe.

É por isso que eu CURTO filme.

Espero não ter entediado vocês.

Abraços,

José Azevedo
E isso dai Ze
no fundo da historia se trata de nao deixar de ser humano,
a babaquice mortal da globalizaçao,
e o monstro da despersonalizaçao,
a perca total de identidade, por isso tanto "vintage",
para nao deixar de ser humano.
tenho uma amiga que,
uns anos atras ganhou um micro do irmao,
depois de um tempo no orkut, me disse que tinha ja 2346765 amigos,
que era o massimo aquilo.
Coitada nunca se tocou que se cai a força , fica sem "amigos".
Passaram na tv estes dias um show no japao, num estadio, sei la, o artista era UM HOLOGRAMA!!!!!!!
em fim,
Grande abraço, otima tua colocaçao, verdadeira, real!!!!