Texto completo:
Movimento Fora Haole demarca mar de Floripa
Surfistas nativos reforçam campanha contra forasteiros e fazem uma reserva de mercado onde há as melhores ondas
ARIADNE NIERO
Conquistar um lugar ao sol, nas areias de Florianópolis, é fácil. No mar, a coisa muda de figura. Se for um surfista de fora, então, a disputa pode ser bem árdua. Quem quiser pegar onda em alguns pontos da Ilha tem que seguir algumas regras, sob o risco de não conseguir nem molhar a prancha. Há uma demarcação invisível no mar, com locais onde os nativos têm prioridade. Para os desavisados, basta prestar atenção aos adesivos colados nos carros estacionados nessas áreas, indicando que o local não é para forasteiros.
Com o slogan Fora Haule, surfistas nativos tentam dominar o espaço e garantir as melhores ondas, num tipo de reserva de mercado. No dialeto dos surfistas, haole é o visitante, desconhecido do grupo local.
Um surfista paulista que não quer ser identificado chegou na Capital na sexta-feira, e disse ter ficado horrorizado com a situação num dos lugares mais almejados pelos praticantes do esporte em todo o Brasil.
- É uma pena que os nativos recebam os turistas adeptos ao surfe com pichações por toda a parte com a inscrição Fora Haole. Acho isso uma sacanagem - desabafou o visitante, que veio passar as férias com a namorada, também surfista, na Joaquina, Leste da Ilha.
Praia Mole é desprezada por ser democrática demais
Ele comentou que as praias de Florianópolis são as únicas no país onde o bloqueio é grande.
- Está difícil pegar onda no Sul do Brasil, devido às ações dos nativos que acham que podem tomar conta do mar. A barra está pesada e o acerto de contas não é diferente do que anda acontecendo em vários pontos do mundo como na Austrália - comparou o jovem, se referindo à agressão sofrida pelo catarinense Rodrigo Souza naquele país.
Três surfistas nativos, abordados pelo DC na Joaquina, admitiram a aversão a quem é de fora.
- Todo dia tem discussão na água. Os gaúchos são os que mais invadem nossa área - contou um deles, que não quis se identificar.
A Praia Mole é considerada pelos nativos a praia dos haoles, porque abriga pessoas dos mais diferentes pontos do Brasil e do mundo, e os surfistas de fora podem pegar onda numa boa.
O manezinho Sylvio Martins, 30 anos, destaca que o movimento protege a Ilha contra a população de fora, "que não respeita os limites de preservação".
- Este movimento teve uma grande expansão nos últimos anos - analisou o surfista que já fez a produção de 100 adesivos para serem colados nos carros dos nativos.
( ariadne.niero@diario.com.br )