Sou novo no Forum e achei esse tópico dos mais interessantes... Tenho bastante coisa pra falar e não sei se vou conseguir organizar os pensamentos. Já estou bem cansado de um dia longo de trabalho, mas vamos lá:
A FOTO QUE AINDA NÃO FOI TIRADA:
Eu comecei a fotografar mais seriamente (no sentido técnico) com uns 14/15 anos. Aprendi com uma Nikon F2, 50/1.8 e 300/4 AI-S, muito Tri-X, Tmax e D76 no laboratório. Tomei gosto e pulei pra F90X (depois trocada por F5), 28-70/2.8 (Tokina porque não tinha Nikon na época!) e 80-200/2.8; gostava muito de negativo colorido Reala, ou Kodak Portra.
Fiz alguns trabalhos (eventos, etc.), mas acabei me envolvendo muito com a faculdade de direito e, como começaram a aparecer as câmeras digitais e eu não estava utilizando nada do meu equipamento, botei tudo à venda. Virei advogado e só uns três anos depois de formado é que tive tempo de voltar a ter algum hobby. Brinquei com equipamentos digitais de amigos, mas não consegui me entender com a rendição de cor e talvez com a (difícil adjetivar) falta de "tridimensionalidade" das imagens. Aproveitei o digital para comprar Hasselblads e Leicas com as quais eu sempre sonhei por preços irrisórios perto daqueles praticados na época do filme.
Fui viajar pra Europa pra fotografar acompanhado de um amigo, fotógrafo profissional de arquitetura. Fiz fotos incríveis com a 503CW e a M6, mas, muitas vezes, quando comparadas com as fotos do meu amigo (equipamento digital), a diferença era gritante. Não quero inaugurar um debate sobre digital x filme, pelo amor de Deus... Até mesmo porque, não falei melhor nem pior, mas apenas DIFERENTE. O ponto é que, comparando algumas fotos nossas de Amsterdam, havia uma diferença tão grande em temperatura de cor, a ponto de fazer crer que foram tiradas em lugares completamente diferentes.
Eu reclamei da infidelidade do registro dele, que simplesmente não retratava a atmosfera e a qualidade de luz que eu havia presenciado naquela cidade. Ele me disse: "eu vejo amsterdam desse jeito". Fiquei embasbacado. Finalmente, tinha caído a minha ficha! Por mais que eu utilizasse filtros, revelação cruzada, sub ou sobre exposição, foto feita com Velvia, tinha cara de Velvia. Foto de Reala, cara de Reala, foto de Provia, cara de Provia... Mesma coisa os PB's, ou, ainda, a diferença óbvia entre cromos e negativos coloridos.
Com digital, não! O cara conseguiu manipular de tal forma aquele arquivo raw, que a imagem foi capaz de traduzir a atmosfera que ELE havia enxergado e/ou sentido em Amsterdam de um jeito único! Vejam bem: não estou falando do enquadramento, da exposição, nem tampouco do objeto. To falando da luz do lugar, do cheiro, da sensação. Em resumo, por um lado é verdade que hoje em dia todo mundo tem uma câmera, seja no celular, na cybershot para as fotos do Natal ou nas MkII e D700 da vida. Mas, por outro, também é verdade que hoje em dia as pessoas têm muito mais liberdade para colocar nas fotos - via tratamento das imagens - alguma coisa mais pessoal do que era possível antes, quando todo Fuji Velvia teria rendição de cor semelhante.
Não estou falando de manipulação pesada como trocar o sol de lugar, apagar um prédio, ou então "plantar" uma árvore na foto. To falando, sim, da capacidade de mostrar para o mundo uma visão única de cores, luzes e sombras, que antes estava limitada pelo suporte que utilizávamos.
Então, pra responder ao Germano, acredito que existe sim, muita foto que não foi tirada. Eu vejo cada tratamento tão diferente hoje, mais quente, mais frio, mais ou menos magentado, mais ou menos saturado, que com certeza enxergo muita coisa nova e, por conta disso, acabei até me desfazendo das queridas Leica e Hasselblad pra investir no digital e tentar aprender a trabalhar os raws para conseguir mostrar ao mundo as cores, a saturação e o contraste que eu vejo e sinto na cenas que eu registro! Mais novo, diferente e único do que isso, acho que não existe!