Autor Tópico: Paradigmas da fotografia atual  (Lida 7655 vezes)

Ivan de Almeida

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Online: 13 de Março de 2006, 18:51:13
MODELO OCULTO DAS FOTOS ATUAIS

Com tanta gente tentando fazer diferente, fazer novidade, por que as fotos saem tão iguais?

Bem, em minha opinião por haver um paradigma oculto da fotografia digital, paradigma esse criado pela supervalorização de alguns aspectos da fotografia em detrimento de outros. Senão, vejamos:

Uma fotografia digital é dita boa quando tem “cores realistas”, “não tem ruído”, “não tem partes estouradas”. Embora haja outros requisitos, esses são os principais.

Contudo, os filmes não tinham exatamente cores realistas. Cada um tinha um tipo de cor, e elas seriam ditas realistas ou não conforme a coisa retratada. As cores realistas da fotografia digital são cores bastante sem graça, e são produzidas pela necessidade de atender ao segundo requisito: não ter ruído.

Para não ter ruído é fundamental que a captura seja esticada o mínimo possível. Tente conseguir um bom contraste de uma imagem limpa e ela logo começa a apresentar ruído, e isso acontece porque para ter uma foto desenhada e com volume é preciso esticar as luzes médias, elevar as altas, manter as baixas no lugar. Então o bom contraste é inimigo da foto sem ruído, e por isso a fotografia digital não dá ênfase ao volume como qualidade importante, pois a ênfase –que proveio da ênfase de venda do produto “câmera digital”- é a ausência de ruído.

É importante dizer que uma foto ruidosa ainda tem menos ruído que uma foto equivalente de filme na qual aparecerá o grão, mas a nova geração de fotógrafos foi educada para detestar o ruído, e aceita que suas fotos fiquem sem contraste nas luzes médias para não vê-lo. O ruído, que tem pouquíssimo peso estético, passou a ser evitado a qualquer custo, mesmo com perda das qualidades estéticas mais evidentes como contraste e nitidez. Fotógrafos sacrificam a nitidez de suas fotos com filtros anti-ruído  para não o verem.

Continuando, as fotos “não podem ter partes estouradas”. Isso também era uma preocupação menor no filme, pois ele resistia a grandes diferenças na iluminação e transitava entre a luz muito clara e o branco suavemente, mantendo tonalidades claríssimas. Para conseguir isso na digital mais uma vez voltamos ao método anterior. É preciso subexpor um pouco para haver saturação suficiente nas regiões de altas luzes, e depois aplicar na conversão ou depois uma vigorosa curva em S com patamar nas altas luzes. Mais uma vez estamos elevando luzes médias em sua parte superior e depois criando forte contraste em sua faixa, procedimentos geradores de ruído.

É preciso entender que o ruído é mais visível na região das luzes médias, exatamente aquelas que precisam ser esticadas. Nas altas luzes as diferenças tonais são imperceptíveis á vista, nas baixas fica tudo o bastante escuro para disfarçar, mas nas médias há diferenças de boa monta entre os tons depois de um processo de aumento vigoroso de contraste.

Assim, o conceito de qualidade de uma foto digital quando obedecido provoca no mais das vezes tons fechados, concentração nos tons médios, pouca saturação nas zonas claras. É um conceito que satisfaz à demanda do fotógrafo que vê sua foto em 100% na tela, observando qualquer sinal de ruído, mas é também um conceito que sacrifica o brilho da foto para alcançar isso. De fato, acima de ISO 200 já começa a ser difícil esticar as curvas como devem ser esticadas para criar contrastes interessantes.

Embora tal coisa possa fazer sentido na fotografia publicitária, na qual a demanda por fotos lisas é grande para possibilitarem grandes ampliações, nas fotos autorais esse conceito é totalmente descabido. Não faz sentido cumprir requisitos que não são necessários ao uso da foto se para isso há uma redução dos aspectos mais importantes na fotografia autoral, a expressão plástica que precisa dos contrastes e das altas luzes.

Esse modelo, esses parâmetros de julgamento de qualidade, eles tomaram tal força que a primeira coisa que alguém diz ao olhar uma foto é “ela tem ruído”. A mesma pessoa não critica a foto baça, mas critica a foto ruidosa.

A convergência de toda uma geração de fotógrafos a esses princípios, com raras exceções, cria um universo de fotos parecidíssimas. Antes, o fotógrafo usava uma câmera de marca x ou y, mas havia à sua disposição uma infinidade de filmes. A foto de cada um podia se diferenciar. Hoje, embora a foto digital possa diferenciar muito mais isso não é tentado, pois ao fazê-lo o fotógrafo se afasta da meta máxima, do ídolo sagrado da foto digital: a ausência de ruído. A busca da foto sem ruído está tornando a fotografia extremamente pouco variada. Os fotógrafos estão fotografando com pouquíssimos modelos de equipamento e limitam-se nos tratamentos ao extremo. As fotos ficam parecidas, como não podia deixar de ser.
 


Beto Eterovick

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Resposta #1 Online: 13 de Março de 2006, 19:20:01
Olá Ivan, lendo suas palavras e concordando com elas, respiro aliviado e digo graças à Deus por ter fotografado muito com câmeras de filme. Digo isso porque o ruído não é um elemento que me incomoda. Salvo quando é em excesso ou quando preciso fazer alguma foto publicitária. A maioria das pessoas vêem o ruído na tela e nunca experimentaram mandar uma sequer para o laboratório, para ser impressa em papel fotográfico. Te garanto que elas se surpreenderiam. Já tive fotos ruidosas na tela que no papel ficaram lindas. Ruídos até que dava pra ver alguns, mas com a suavidade dos grãos.

Nunca apliquei um anti-ruído em minhas fotos, pois odeio a "lisura" causada por esses softwares. Eu uso mesmo é o USM, com moderação em alguns casos e exagero em outros. Encontrar o impressionante volume que alguns filmes 35mm possuem na digital é um desafio que corre numa linha tênue entre vários aspectos e definições perdidos para muitos com o advento da fotografia digital. Nosso papel, fotógrafos amantes da fotografia e da arte (me refiro a todos os fotógrafos que se encaixam nessa descrição), sejamos profissionais ou não, é debater, estudar e dividir o conhecimento adquirido para limparmos o estigma que se criou e para a fotografia moderna.

Ainda estou longe de poder contribuir, mas não me faço de morto. Estou sempre a procura de conhecimento, assim como inúmeros colegas aqui do MF.  


stevan

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Resposta #2 Online: 13 de Março de 2006, 22:26:50
Ivan, muito bom o texto. E concordo plenamente com o Beto, quando diz que o ruído não o incomoda. A mim também não...
Principalmente quando se passa para o papel...
Abraços,
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Juliano_Ramos

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Resposta #3 Online: 13 de Março de 2006, 22:28:18
Pois eh....

Tenho um colega que tem uma SLR de Filme...e recentemente fez várias fotos com Cromo...

Nooosa....fiquei de boca aperta com a qualidade das fotos...principalmente com a 'vida das cores'....

Acho que não existe o pior....existe sim a melhor foto...o registro do melhor momento...onde a tecnologia nem sempre faz 'a' diferença....

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Bantunes

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Resposta #4 Online: 13 de Março de 2006, 22:29:00

 Essa paranóia contra ruídos não acho nem submissão ao realismo,  uma vez que até a nossa percepção da realidade é permeada de ruídos, de imperfeições, mas a um hiper-realismo, um lugar idealizado e "bonitinho" que a a indústria forjou com a estampa de que é melhor.  

O ruído quando bem utilizado pode ser bastante interessante. Alguém já viu os filmes do movimento Dogma como "festa de família" ou "Os Idiotas"?. Nesses filmes eles utilizaram uma consumer minidv , a a famosa sony vx100. O ccd  dela é menor do que a maioria das câmeras digitais hoje em dia.  Produz ruído que é uma beleza, suas cores são pouco precisas e a luz estoura fácil, fácil. Mesmo assim alcança uma riqueza estética muito maior do que a imagem limpa de um guerra nas estrelas, por exemplo, feito com uma HD de última geração.

Também não concordo que a fotografia digital deva perseguir o volume dos filmes. Digital não é filme, e não acho que esse fato a dimunua. Para explorar as possiblidades do meio digital, que penso serem muitas, é preciso que se descarte não só os paradigmas mercadólogicos como também os tradicionais.    
   
 
abraços


marsteffen

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Resposta #5 Online: 13 de Março de 2006, 23:02:20
"Com tanta gente tentando fazer diferente, fazer novidade, por que as fotos saem tão iguais?"

Sinceramente creio que as fotos são cada vez mais iguais porque as pessoas preocupam-se tanto com o equipamento fotográfico e as tecnologias, mas em nenhum momento discutem a composição, o assunto registrado e a estética. Acham que qualquer assunto com a imagem perfeita é uma foto boa.

Aí vêem-se excelentes fotos de efemeridade que nada te dizem... é como ir ao cinema ver um filme bem feitinho que não te faz pensar, que você esquece no dia seguinte.

Ivan, se não me engano lembro-me de um post muito antigo seu em que dizia ter feito uma boa foto com a Sony de uma amiga, embora a grande moda do momento fosse detonar a qualidade fotográfica da marca.
E é isso aí que você constatou na época, não importava o equipamento e qualidade, o importante foi o que você capturou através das lentes, a imagem em si.

Enfim, essa é minha opinião.

Abraços,
Marcelo - marstf


Ivan de Almeida

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Resposta #6 Online: 13 de Março de 2006, 23:10:42
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Ivan, se não me engano lembro-me de um post muito antigo seu em que dizia ter feito uma boa foto com a Sony de uma amiga, embora a grande moda do momento fosse detonar a qualidade fotográfica da marca.
Marcelo - marstf
Foi sim. Fiz com uma Sony daquelas simples, em P, uma foto bem legalzinha. Fui provcurar agora e não achei, mas foi.

Em parte concordo com você. Excesso de debates sobre equipamentos e quase nenhum sobre linguagem, composição, poética. Mas isso é até mais complidado de falar, pois uma das coisas complicadas é que todo mundo se considera um artista nato -risos.

Grande abraço,
Ivan


Beto Eterovick

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Resposta #7 Online: 13 de Março de 2006, 23:30:09
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Também não concordo que a fotografia digital deva perseguir o volume dos filmes. Digital não é filme, e não acho que esse fato a dimunua.

Bantunes, no meu caso, estou sempre testando novos sets de tratamentos pois eu procuro sim o volume dos filmes, particularmente, pela beleza estética que o volume dá as fotos. Mas isso não quer dizer que uma foto sem volume ficará ruim. Depende do contexto. Mas concordo com você quando fala que a tecnologia digital não fica diminuída por não ter o mesmo volume dos filmes.

Citar
Excesso de debates sobre equipamentos e quase nenhum sobre linguagem, composição, poética. Mas isso é até mais complidado de falar, pois uma das coisas complicadas é que todo mundo se considera um artista nato -risos.

Ivan, sou a favor mesmo de debatermos esses temas, se possível até a exaustão. Sobre os "artistas natos" de hoje, esses banalizam a fotografia. Não que as pessoas não podem tirar fotos. Claro que podem, façam o que quiser de suas câmeras; mas sair por aí se achando um Ansel Adams da vida é muita prepotência...rsrsrs. Eu mesmo já me achei o rei da cocada preta. (que vergonha). Aí você toma umas lambadas e acorda pra realidade, vê que precisa estudar e praticar muito.  


marsteffen

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Resposta #8 Online: 13 de Março de 2006, 23:48:06
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Em parte concordo com você. Excesso de debates sobre equipamentos e quase nenhum sobre linguagem, composição, poética. Mas isso é até mais complidado de falar, pois uma das coisas complicadas é que todo mundo se considera um artista nato -risos.
rs, muito bem colocado também...


helder84

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Resposta #9 Online: 14 de Março de 2006, 00:02:09
Excelente texto Ivan,
Ultimamente o que tem me atraido em termos de material é a revista Photo Magazine, justamente por não dar enfase aos equipamentos.
Precisamos pensar mais em outras coisas que não sejam equipamentos.
É como o Marcelo colocou: "as fotos são cada vez mais iguais porque as pessoas preocupam-se tanto com o equipamento fotográfico e as tecnologias..."

O ruído me encomoda um pouco sim (mas nada de desesperador), apesar disso já experimentei levar fotos ruídosas p/ impressão. E o legal é que percebi que o ruído nem é tão ruído assim...


Leo Terra

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Resposta #10 Online: 14 de Março de 2006, 01:02:58
Ivan é o que eu sempre digo...
A nova geração de fotógrafos criada pelas câmeras digitais é a geração dos "clicadores" e não uma geração de fotógrafos.

O princípio da criação de da fotografia como forma de expressão se perdeu completamente para princípios de qualidade associados a fatores de respostas perfeitas da mídia e acima de tudo para uma geração que não sabe ABSOLUTAMENTE NADA sobre fotografia e arte e sustenta sua produção fotográfica com uma ENORME escala de cliques.

O bom fotógrafo é aquele que consegue uma produção expressiva com menos cliques do que a média, que consegue resultados finais que sejam fiéis ao que se imaginou como objetivo e que acima de tudo tenha uma imaginação livre de conceitos restritivos, mesmo porque, como eu sempre digo, a fotografia é a arte de fazer sacrifícios, não adianta esperar que conseguirá um ambiente completamente perfeito para fazer uma foto onde todos os preceitos técnicos e criativos se encontrem, você terá que privilegiar um ou outro, terá que  sacrificar um ou outro ponto, nos tempos dos filmes isso era mais evidente, as pessoas não podiam clicar desesperadamente e isso gerava uma necessidade de conhecimentos técnicos e de discernimento para que os indivíduos fizessem os sacrifícios corretos para obter uma boa imagem, hoje a preocupação é clicar e procurar encontrar algo que tenha saído com os preceitos padrão para uma boa qualidade de imagem, é praticamente como uma busca por uma imagem com um padrão de perfeição que nem sempre é inspiradora e muitas vezes acaba sendo uma barreira para a criatividade do fotógrafo, a verdade é que diferente do que sempre foi dito o fotógrafo da era digital é terrivelmente pior e menos preocupado com o conhecimento por trás da fotografia do que o fotógrafo da era da película.

Quando discutimos uma câmera com certas qualidades nós nos referimos a isso buscando entender qual é o máximo de fatores de qualidade de imagem que ela lhe proporcionaria, mas isso não deve ser feito como forma de criar uma prisão ou padronização do que seria uma boa imagem, é apenas um fator que lhe possibilita chegar a mais resultados, uma câmera com tons equilibrados lhe possibilita tanto tons desequilibrados como equilibrados, já o contrário não é verdadeiro, pois as perdas para se atingir os tons equilibrados seriam bem drásticas e nem sempre desejáveis para uma oportunidade onde se busque o equilíbrio, ou seja, o erro não está na escolha de algo preciso (ainda mais em um mundo onde não se troca a mídia como no digital) está no fato de se aprisionar a isso e não buscar o conhecimento necessário para fazer os sacrifícios e obter resultados diferentes do padrão de “máxima qualidade” que buscamos na escolha de um equipamento, ou seja, não podemos escolher o que e como fotografamos da mesma forma que escolhemos nosso equipamento.

Esse assunto veio mesmo a calhar, eu já vinha observando isso a muito tempo  cheguei até a comentar com muitos aqui (acho que inclusive em Workshops) essa tendência terrível da fotografia. A maioria dos clicadores que conheço sequer sabe puxar adequadamente um balanço de branco, sequer sabem manipular o ISO e pesar o sacrifício em relação aos benefícios proporcionados, muitos ficam atrelados à cultura da visualização em 100% na tela (que nunca será usada para exibição) e se esquecem de disponibilizar resultados para visualização. Muitos se prendem ao que chamamos de defeitos em uma imagem (que seria especialmente grave para um equipamento pois causariam limitações ao mesmo) e acabam criando limitações para o próprio uso, ou seja, no lugar de se ampliar o leque de possibilidades fotográficas, aumentando a precisão e a qualidade do equipamento, as pessoas acabam por reduzir tal leque a se limitarem a usar sempre o extremo que se pode ser obtido em termos de fator qualidade.

Isso tudo é fruto de 3 fatores básicos, intensa falta de conhecimento sobre fotografia, que provoca uma incapacidade de manipular corretamente os fatores envolvidos em uma boa fotografia, a falsa impressão de que se está fotografando bem só porque consegue uma foto bonita, mesmo que para isso se tenha que fazer mil fotos e acima de tudo ao vício pelo conceito de qualidade estabelecido pelo parâmetro de máxima qualidade que os fabricantes buscam em seus sensores, que quando aliamos à extrema falta de capacidade de discernimento e de conhecimento que vemos na maioria esmagadora dos que se dizem fotógrafos (vulgo clicadores), obtemos uma classe de clicadores totalmente limitada, ignorante e o pior de tudo, fechada para o conhecimento, que não busca freqüentar bons cursos, boas palestras e adquirir conhecimentos realmente úteis para se libertar das limitações de mercados e criar algo que realmente seja fruto da imaginação e da força humana e que possa ser expressado corretamente desde que o equipamento lhe possibilite essa exposição.

Só como exemplo, eu tenho o equipamento que, na minha opinião, é um dos mais equilibrados, e com melhores fatores de qualidade de imagem no mercado hoje e minhas imagens raramente são feitas de forma a garantir uma imagem certinha, muito pelo contrário, trabalho com imagens estouradas, com contrastes e saturações altamente desequilibradas. Esse é o objetivo de minhas imagens, não busco o realismo, busco o imaginário dos quadrinhos, esse é o objetivo das minhas fotografias e é assim que desenvolvo minhas imagens, ou seja, mesmo sabendo que meu equipamento tem potencial para me dar uma imagem praticamente perfeita eu gosto de fazer com que ele erre, mas é claro, isso só é possível quando se sabe exatamente o que provoca a perfeição e o que provoca o erro para que se busque gerar o que se espera. ;)

Foi um ótimo assunto Ivan, legal ter tocado nisso. :)
« Última modificação: 14 de Março de 2006, 01:08:41 por Leo Terra »
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Resposta #11 Online: 14 de Março de 2006, 01:07:13
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Em parte concordo com você. Excesso de debates sobre equipamentos e quase nenhum sobre linguagem, composição, poética. Mas isso é até mais complidado de falar, pois uma das coisas complicadas é que todo mundo se considera um artista nato -risos.
 
Esse negócio de DOM é algo que me irrita na visão ocidental, se tem algo que eu não acredito é em DOM, ninguém nasce melhor que o outro (acreditar nisso seria dar razão às teorias racistas), tudo se adquire por esforço e treinamento. Na minha opinião, qualquer criança saudável, que seja submetida a um ciclo de aprendizado adequado (isso inclui as experiências desde a infância)  pode se tornar um Adams ou um Bresson.
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Marcelo Voss

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Resposta #12 Online: 14 de Março de 2006, 03:32:01
Salve, povo... discussões assim são as que realmente me animam a frequentar foruns.

Gostei das proposições expostas. E todos contribuiram com argumentos valiosos. Da minha experiências pelo mundo de livros de fotografia, li um artigo em que se dizia:

Quando as regras devem ser obedecidas.

e logo depois:

Quando as regras devem ser quebradas.

Li e me animei com exemplos fotográficos. As fotos que não seguiam as regras eram fotos que necessitavam que o indivíduo tivesse um conhecimento que não se limitasse somente à fotografia, mas conhecimentos de diversas áreas artísticas (o que acho fabuloso). Resumindo, fotografia não se encerra em si... em quem não percebeu isso, nunca irá inovar; e, pior, irá sempre rechaçar conceitos que fujam do 'tradicional'.

Lendo esse artigo, deduzi que eu ainda fui cartesianamente induzido a entender que mesmo quando a sua própria leitura de uma estética (a sua própria regra) não é correspondida por alguns próximos que se embrenharam por extensões artítiscas inovadoras ou apenas diferentes, não deixará de estar concorrendo a algo que seja diferente, e que, logo, quando realmente analisada por pessoas que realmente estudaram gamas variadas de escolas estéticas, será então compreendida e elogiada por fazerem algo fora do comum. E elogiada  por um caminho que fuja exatamente do "Livrinho de Regras da Boa Fotografia', que hoje infesta a internet e os 'clicadores' de que o Leo fala.

Portanto, a relatividade de conceitos formados, daqueles 'não-você', não deve servir de combustível essencial e definitvo para a nossa satisfação diante da exposição de nossa arte individual...

A não ser que você saiba com que 'combustível' as pessoas ao redor vêm se alimentando.

(atenção: não estou falando da fotografia no ambiente mercadológico e suas inquebráveis restrições)

Voltando ao assunto: ultimamente, a maioria tem se alimentado de conceitos padronizados e de pouca extensão conceitual. E, hoje, após me dedicar a diversos estudos estéticos (ainda há muitos para eu percorrer), vejo que há muito poucas pessoas capazes de entender os vários caminhos expansivos que a fotografia já percorreu e ainda pode percorrer, pois para mim já ficou claro:

se a pessoa quer evoluir, tem que estudar e pesquisar conceitos estéticos, artísticos e culturais das mais variadas sortes.

E, enquanto houver os que assim o fazem, e os que assim não o fazem, pouco adianta mostrar, argumentar,  e se decepcionar.


abraços a todos
« Última modificação: 14 de Março de 2006, 05:38:31 por Marcelo Voss »
`Eagles don`t flock, you have to find them one at a time. ´


Ivan de Almeida

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Resposta #13 Online: 14 de Março de 2006, 08:18:05
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Esse negócio de DOM é algo que me irrita na visão ocidental, se tem algo que eu não acredito é em DOM, ninguém nasce melhor que o outro (acreditar nisso seria dar razão às teorias racistas), tudo se adquire por esforço e treinamento. Na minha opinião, qualquer criança saudável, que seja submetida a um ciclo de aprendizado adequado (isso inclui as experiências desde a infância) pode se tornar um Adams ou um Bresson.

Leo!

Assim não é possível! Estou concordando demais com voc~e. Isso que você escreveu aí é EXATAMENTE o que venho dizendo há anos, décadas. Por isso sou ferozmente construtivista. O "Genio" nasce de uma convergência de fatores: das experiências favoráveis infantis, de uma orientação de busca de afeto no mundo que passa pelo exercício de sua arte, pelas oportunidades que tiver na vida para desenvolvê-la. O "não-gênio" é mais comum, pois no primeiro caso é preciso haver alinhamento de vários fatores conjunturais, bastando faltar alguns para queebrar a cadeia, mas de todo modo nada tem de inato.

Sobre seu outro comentário maior, já concordei com ele no BrFoto. É isso mesmo. O problema não são as cãmeras, mas sim a aceitação de uma normalidade como limite pelos fotógrafos. A única coisa que se pode dizer é que o marketing das câmeras enfatiza esses fatores e assim contribui para formar essa idéia "normótica".

Ivan


nakinha

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Resposta #14 Online: 14 de Março de 2006, 09:18:54
:clap:

Parabéns Ivan pelo belo texto. Concordo em gênero, número e grau com tudo que você disse.
Hoje as pessoas que fotografam se preocupam muito com detalhes que na época das câmeras de filme nem passavam pela nossa cabeça.
As boas fotos eram frutos da qualidade do fotógrafo, mesmo que ele utilizasse recursos extras, tais como: filtros, flashs, etc...
Hoje com os recursos dos softwares existentes no mercado, estão deixando de existir os fotógrafos dando lugar ao "criador de imagem". Da foto original quase não se aproveita nada de tanta "mexida" que se dá para a foto ficar do jeito que ele gostaria.
Eu não altero em hipótese alguma as minhas fotos. Podem comprovar no link abaixo. Sou da opinião de que uma foto "mexida" perde a autenticidade e o valor.
Comparo a mandar fazer uma "plástica geral" em um filho para ficar do jeito que você gostaria que ele fosse.
 
NAKINHA
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