Pessoal, recebi este texto de mue professor, que o encaminhou para reflexao. Achei bastante interessante e resolvi dividi-lo com todos, para que todos possam pensar um pouco."Publicado em Março 20th, 2012
Escrito por: Armando Vernaglia Jr
1 – Não consigo me conformar quando fotógrafos sem experiência nem
aprendizado em didática se propõe a oferecer cursos e workshops por
aí, pois ensino não deveria ser apenas uma questão financeira e sim
uma questão de responsabilidade social e cultural. Quem ensina o que
mal sabe está fazendo um mal à sociedade e está ignorando as
responsabilidades que assumiu como formador de opinião e propagador de
informações.
2 – Igualmente não consigo me conformar quando escolas de fotografia
aceitam oferecer cursos e workshops que apenas propagam obviedades que
seriam encontradas gratuitamente na internet ou folheando o manual da
câmera ou ainda perguntando para um colega mais experiente. Esses
cursos apenas tiram dinheiro de pessoas desinformadas. Um curso básico
ou uma publicação voltada a iniciantes nunca deveria se contentar em
apenas dizer qual botão faz o quê e qual regrinha de composição deixa
algo mais ou menos estético, desde o básico as pessoas deveriam ser
incentivadas a ver além e buscar se aprofundar. Um bom curso básico ou
uma boa revista voltado a iniciantes deve falar de regra dos terços
sim, mas deve dizer de onde ela veio e mais importante, que existem
milhões de outras formas de harmonizar uma imagem. Devem dizer qual
botão faz o que? Sim, mas devem também falar das relações disso com a
luz, com a arte e com a estética. Ditar regras é fácil, qualquer
ditador faz isso, por outro lado fazer refletir, pensar e se inquietar
com as coisas, essa é a função e responsabilidade de professores,
escolas e publicações.
3 – Jamais vou entender as pessoas que buscam cursos querendo apenas
saber qual botão faz qual coisa em suas máquinas sem sequer fazer
testes para saber o efeito de tal botão numa imagem. Não sei se essas
pessoas são vítimas de cursos e publicações equivocados como os
descritos em minhas perguntas 1 e 2, ou se são apenas preguiçosos. Mas
aí repito, a função do educador, orientador e de quem resolve escrever
e publicar sobre o assunto é ir além para provocar a inquietação, se
conformar com a preguiça ou com a falta de preparo alheia é errado.
4 – Por quais motivos tanta gente se ofende com um comentário negativo
sobre uma foto na internet ou mesmo em sala de aula? Qual a razão de
pessoas buscarem tanto elogios fáceis, maternais e se negarem a
receber negativas sobre sua obra, mesmo que sejam iniciantes recebendo
feedback de pessoas experientes? Faça um teste e critique educadamente
mas severamente uma foto que você tiver achado muito ruim de alguém e
veja a reação da pessoa. Sites como Flickr, Orkut e Facebook viraram
um mar de elogios fáceis a absolutamente tudo que ali é publicado e
quando alguém levanta a voz para uma crítica, por mais suave que seja,
é confrontado com argumentos do tipo “isso é questão de gosto”. Não,
não é questão de gosto, a crítica artística vai muito além do gostar e
não gostar, qualquer um pode não gostar de algo e entender o valor
artístico, ou gostar de algo que sabidamente não tenha valor nenhum,
no entanto no mundo internético pare difícil o ato da crítica ser
entendido sem que o criticado ache que é questão pessoal, ou de um
simples gostar/não gostar.
5 – O que leva tanta gente a se preocupar se um fotógrafo fez uma foto
com câmera de marca X ou Y, se ele usou um obturador assim ou assado,
se usou ou não usou o photoshop, e tão pouca gente perguntar qual deve
ser o histórico cultural daquele fotógrafo que o levou a ter aquela
idéia?
6 – Por que é tão complexo para a maioria das pessoas entenderem que
grandes obras só nascem de grandes esforços e não de coisas simples
que um truque pronto resolva? Lembrando que Picasso chegava a fazer
300 esboços para um quadro e que Kubrck chegava a rodar uma mesma cena
100 vezes para tirar o máximo de seus atores, então por que tanta
gente acha que fotografando uma vez por semana, tendo uma aulinha aqui
e ali, usando um preset de Lightroom e postando suas fotos no Facebook
estaria produzindo grande arte a ponto de não poder receber críticas
ou não perceber que precisa ir mais fundo em seus estudos e pesquisas?
O que impede as pessoas de ir além, estudar, ler, praticar mais e
sofrer um pouco para poder colher resultados realmente satisfatórios?
A fotografia, como qualquer arte, para obter grandes frutos, necessita
de grandes esforços, que incluem estudo e treino. Grandes fotos não
nascem do acaso, não nascem do qualquer, e sim do preparo, do olhar
aguçado, da soma de técnica e estética, do controle da luz, da
interpretação da luz para que a mensagem seja levada adiante.
Não consigo pensar nessas perguntas sem lembrar da caverna de Platão e
daquele único sujeito que conseguiu sair da caverna e ver a origem das
sombras. Afinal, qual a razão para apenas um querer ver além da
sombra?
Assim gostaria que meus amigos, leitores, colegas e alunos que passam
por aqui, poderiam tecer seus comentários sobre as perguntas que fiz
acima? E também à pergunta título, onde estão os inquietos?
Nos vemos em breve,
[]’s
Armando Vernaglia Jr.
www.vernaglia.com.br"