Autor Tópico: Uma experiência  (Lida 7190 vezes)

Ivan de Almeida

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Resposta #30 Online: 09 de Maio de 2006, 12:37:49
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E que preciso me despir do preconceito que fotografia é fotografia, pintura é pintura. Uma foto pode, sim, remeter a um quadro, embora com as particularidades inerentes à fotografia, senão seria mais conveniente pegar um quadro, pincéis e tinta e mandar bala

Claro. A fotografia tem seus valores próprios, e se fiz essa experiência foi somente um "estudo de caso", uma demonstração por absurdo, como se faz em matemática às vezes.



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posso não concordar com tudo o que você fala, nem entender tudo o que você pretende mostrar, mas o fato de você mostrar uma visão diferente nos faz crescer, e muito, como fotógrafos, pensadores, e quem sabe, artistas.

Obrigado, Seymor. Nem eu concordo com tudo o que falo - risos.

Mas o barato é esse mesmo, chacoalhar nossas idéias através do diálogo e irmos adquirindo mais versatilidade de olhar, de fazer, etc.


Alex Biologo

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Resposta #31 Online: 09 de Maio de 2006, 19:27:23
Ivan, tudo bom?

cara discordo de vc apenas em parte. Para mim seu trabalho é arte, mas por ter uma linguagem definida e uma mensagem própria. Confesso que vejo suas fotos como arte no conjunto e não isoladas.

Seus retratos tem uma linha definida e com isso uma mensagem, suas fotos de paisagem a mesma coisa. Confesso que acho que suas fotos perdem muito quando vistas isoladamente, uma a uma. (e ai cai no caso da macro que vc levantou e eu questionei).

De resto, sua maneira de encontrar arte em algumas cenas aparentemente simples, porém, com um certo rigor de complexidade, acho extremamente interessante e mesmo sua postura ao falar dela.
Alex Martins dos Santos - São Paulo/SP
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Ivan de Almeida

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Resposta #32 Online: 09 de Maio de 2006, 21:01:50
Obrigado, Alex.

Grande abraço,
Ivan


Ivan de Almeida

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Resposta #33 Online: 09 de Maio de 2006, 23:35:50
Paulo Cé (acertei desta vez. Me desculpe pelas outras).

Sua descrição do que sentiu vendo as charretes foi ótima. Na descrição verbal você deu conta de transmitir o que sentiu.

Então, vamos pegar esse gancho para explorar, aqui dando minha visão da coisa.

Percebido isso, cria-se para o fotógrafo -voc~e- um desafio. Fazer fotos que criem mesmo a quem é urbano uma ressonância desta sua maneira de sentir, dessa sua evocação.

Sua foto está boa, há nela vários elementos legais e é bonita mesmo. Mas não chega a dar esse envolvimento. Concordo com você quanto ao rumo da tentativa, mas observe o seguinte... Se voc~e, que diz francamente nunca ter tentado seguidamente (um pouco tentou, por certo, como todos) passar esse tipo de impressão nas fotos, se conseguisse cabalmente numa tentativa isolada não seria artista, seria mágico.

Na verdade, percebido o que se quer passar, pelo menos comigo é assim, começa um raciocínio, uma experimentação, camadas e camadas de tentativas.

Por exemplo, um dia fiz um exercício num parque perto daqui de cassa. Determinei como seria minha tentativa, o tipo de cena que faria, etc. Voltei lá 6 dias seguidos, fazendo cerca de 20 fotos por dia. Ao chegar em casa observava as fotos e as analisava, via onde acertei ou não.

Bem, isso é apenas um exemplo, mas é um aexemplo de algo que acredito: que não é ter um sentimento e achar que em uma seção de fotos vamos conseguir dar conta dele. A "inspiração" já houve, é o que você quer passar. Depois é a fase da transpiração, na qual você -pelo menos comigo é assim- persegue o objetivo.

A primeira seção vejo sempre como uma seção de exploração, que me conduzirá nas próximas.

Como a densidade artítica necessita aprofundamento, é através de expedientes assim que o aprofundamento é conseguido.

Veja, eu sei que cada um tem o seu processo, é claro, mas o que digo é que arte não é mágica, mas busca. Precisa de inspiração, mas precisa também de transpiração, não é puro sentimento se manifestando. O sentimento o põe no caminho, mas quem faz o carro andar é o combustível da razão, analisando o que fez, comparando com a idéia da inspiração, reconhecendo os caminhos promissores para explorá-los depois.

Esse tema do campo, nele tenho alguns poucos sucessos, muitas tentativas, insucesso. Eu o exploro já há mais de dois anos seguidos. Talvez tenha 10 ou 20 fotos feitas nesse tempo que acho realmente boas.
« Última modificação: 09 de Maio de 2006, 23:37:45 por Ivan de Almeida »


Paulinho Cé

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Resposta #34 Online: 11 de Maio de 2006, 08:49:54
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Voltei lá 6 dias seguidos, fazendo cerca de 20 fotos por dia. Ao chegar em casa observava as fotos e as analisava, via onde acertei ou não.


 
Ivan, bom dia.

"A gente olha e pensa: quando aperto? Agora? Agora? Agora? Entende? A emoção vai subindo e, de repente, pronto. É como um orgasmo, tem uma hora que explode. Ou temos o instante certo, ou o perdemos para sempre."

Obviamente que voce reconhece este texto de Henri Cartier-Bresson, falando das suas fotografias, ou deste texto de Ansel Adams:

"Achava o que queria fotografar, fazia a composição e então esperava pela luz e circunstância adequadas. Não raro isso significava esperar por dois ou três dias.".

Porque citei os textos e os autores?
Porque ambos são no mínimo controversos, embora seus estilos diferentes os justifiquem.

Quero dizer com isso que lendo o seu texto, percebi  que voce passa do momento de inspiração- quando vê a paisagem ou outro objetivo- ao laboratório artesanal.  No meu ponto de vista, a partir deste momento a sua fotografia passa a ser artesanato tecnológico, pois suas seguidas idas ao mesmo local, experimentando diferentes exposições e outros set´s mata completamente a emoção do momento, tornando-a técnica e não emocional.

Robert Capa, por exemplo, jamais poderia voltar ao mesmo cenário de guerra onde fez a maioria de suas fotos, cenário este que foi seu túmulo: a guerra do Vietnã, elas eram de um único momento.

Falo nestes grandes mestres pois eles faziam fotografia de maneiras diferentes, estilos diferentes, e mesmo assim foram considerados os maiores artistas da fotografia.
Suas obras, segundo os críticos, transmitem emoção e sentimento mas foram concebidas com métodos diferentes, um movido pela emoção e outro pela técnica e pela experimentação mas ambas são consideradas "Arte".

A fotografia que fiz do "Carro de Mola", foi movida pela emoção e a fotografia que voce fez voltando várias vezes ao mesmo local, refazendo desta ou daquela  maneira é técnica mas busca transmitir a emoção do primeiro momento.

Note que não estamos discutindo técnicas de exposição, fotometria e outros detalhes mas sim emoções e sensações.
Esta é a essência da arte, e se estamos em busca desta variável é porque ela pode ser perfeitamente capturada e transmitida aos que vêem nossas fotografias, sejam elas concebidas pela emoção ou pela técnica.

Abraços

Paulinho Cé








 
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Ivan de Almeida

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Resposta #35 Online: 11 de Maio de 2006, 09:14:15
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"A gente olha e pensa: quando aperto? Agora? Agora? Agora? Entende? A emoção vai subindo e, de repente, pronto. É como um orgasmo, tem uma hora que explode. Ou temos o instante certo, ou o perdemos para sempre."

Obviamente que voce reconhece este texto de Henri Cartier-Bresson, falando das suas fotografias, ou deste texto de Ansel Adams:

"Achava o que queria fotografar, fazia a composição e então esperava pela luz e circunstância adequadas. Não raro isso significava esperar por dois ou três dias.".

Ambos dissera exatamente o que eu disse, com outras palavras. O Adams, que voltava várias vezes ao mesmo local, o que ele fazia se não perseguir conscientemente a idealização inicial? Isso é método, transpiração, intelecção, análise.

O Bresson, idem, você não colou o texto todo, pois antes ele diz que reconhece a geometria local (diz-se em várias entrevistas "um geômetra"), compõe (atos racionais e de planejamento", e depois fica esperando acontecer uma determinada configuração COM OS ELEMENTOS MUTÁVEIS DA COMPOSIÇÃO, POIS O RESTANTE JÁ ESTÁ DEFINIDO, que seja, "o orgasmo".

A técnica do Bresson é claramente essa, e eu antes de ler esse trecho dele já sabia que era, e pratiquei várias fotos usando-a. Compunha, esperava com a foto composta o evento significador. É uma técnica soberba, especialmente para fotografia de rua, pois sempre podemos na fotografia de rua contar com a presença humana (no mato não, fica mais de uma hora sem passar ninguém na estrada).

Querer que "emoção" responda por tudo é o mesmo que não querer evoluir. Desculpe-me a franqueza. Arte, qualquer arte, é TRABALHO. Trabalho significa esforço metódico e racional sobre um tema. Emoção é uma palavra difícil de usar, pois a vagueza do seu significado é enorme. Digamos que os valores emocionais sejam somente a parte evocativa, para facilitar a conversa.

O imaginário sobre a arte é muito diferente do que é a arte propriamente. O Corvo, do Edgard Alan Poe, um dos mais famosos poemas escritos, foi confessadamente fruto de planejamento metódico. Ele pegou uma idéia inicial e lapidou, com métodos específicos que sabia que seriam os adequados (onomatopéias, repetições, etc). Não ficou "inspirado" e fez. Planejou e fez. Declarou isso, dizendo ter planejado fazer um poema que seria importante na história da poesia e que "projetou" o poema.

Eu mesmo, embora faça poemas bastante ocasionalmente e xexelentos, por vezes faço poemas que são planejamento quase puro, e quem lê acha que são emocionados. Uma idéia (a tal inspiração), às vezes uma frase, e depois uma construção gramatical/semântica/ritmica mais ou menos controlada.

TODOS, digo TODOS os grandes poetas passam a vida modificando seus poemas, pois percebem que há imprefeições na construção. Isso nada tem a ver com isnpiração e emoção.

Ficar pendurado nessa palavra cujo significado é tão vago é o mesmo que abrir mão da busca, pois a busca é feita de insistência, repetição, trabalho continuado.

Bem, Paulo. Até agora conversei com você imaginando que você queria realmente investigar o assunto, pois declarara que não tentava. Mas cria-se um paradoxo: se não tentava, como pode ter idéias tão sólidas e inamovíveis sobre ele? Assim, parece que você ao invés de tentar lançar-se em tentativas artísticas, como declarou querer, adotou a solução mais simples de redefinir a palavra arte para ela ajustar-se ao que já faz. Assim fica meio inútil prosseguir com esta conversa, pois deixa de ser INVESTIGAÇÃO e passa a ser argumentação.

Investigação é aquilo que se dirige a algo que não sabemos e queremos saber. Argumentação é insistir naquilo que achamos saber. Você me disse anteriormente que despertara para o problema da arte na fotografia, isso sugerindo INVESTIGAÇÃO, mas quando as idéias circulam você argumenta para manter a mesma posição anterior. Aí fica sem sentido.


Ivan de Almeida

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Resposta #36 Online: 11 de Maio de 2006, 09:31:02
O mais espantoso em qualquer campo artístico é o fato dos que se tornam grandes artistas estudarem permanentemente o problema (sem que isso seja, é claro, garantia de tornar-se grande artista). Não têm a soberba de acharem que basta sua emoção, sua sensibilidade. Assim, não há artista que não estude a História da Arte, a perceção, que não tente várias vezes algo antes de fazer o que lhe satisfaz.

Picasso, Braque, Piet-Mondrian, Victor Meireles (eu fui à casa dele em Florianópolis: para cada quadro famoso há uma infinidade de estudos de cada uma de suas partes, desenhos e pinturas completas feitas como simples estudos), qualquer um. Na música idem. No teatro o ator entra em cena mil vezes para fazer a mesma coisa. Será que em todas está "tomado de emoção"? Pensar isso é ingenuidade.

Contudo, o imaginário popular atribui a arte à emoção e sensibilidade, e tantos, por ato que acham ser de humildade mas é de soberba, querem fazer de suas sensibilidades em estado bruto a única plataforma para a produção de arte, como se a eles fosse reservado um Espírito Santo da arte, particular e cativo, que lhes baixasse na mente cada vez que apertam o botão de suas câmeras ou que pegam um pincel para pintar.

Veja,: o Bresson precisou estudar, estudou pintura antes de fotografar, isso implicando aprender composição finamente, etc. O Adams voltava inúmeras vezes ao local para cumprir seu PLANEJAMENTO. Mas nos fóruns... Nos fóruns encontramos uma multidão que acha que basta achar uma cena legalzinha e clicar, e que isso vira "arte". Que, ao contrário de todos os grandes, é tão sublime sua sensibilidade que não precisa de nenhum estudo ou desenvolvimento. Assim é fácil.


Paulinho Cé

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Resposta #37 Online: 11 de Maio de 2006, 10:03:36
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Mas nos fóruns... Nos fóruns encontramos uma multidão que acha que basta achar uma cena legalzinha e clicar, e que isso vira "arte". Que, ao contrário de todos os grandes, é tão sublime sua sensibilidade que não precisa de nenhum estudo ou desenvolvimento. Assim é fácil.
Ivan, diante da sua afirmação, devo considerar o assunto encerrado então.

Muito Obrigado e um abraço.

Paulinho Cé
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Pictus

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Resposta #38 Online: 11 de Maio de 2006, 10:27:31
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Picasso, Braque, Piet-Mondrian, Victor Meireles (eu fui à casa dele em Florianópolis: para cada quadro famoso há uma infinidade de estudos de cada uma de suas partes, desenhos e pinturas completas feitas como simples estudos), qualquer um. Na música idem. No teatro o ator entra em cena mil vezes para fazer a mesma coisa. Será que em todas está "tomado de emoção"? Pensar isso é ingenuidade.

Gostei, agora compreendo mais esta parte!
Vc colocou bem o “espírito” da coisa, a Monalisa não foi feita num piscar de olhos.
Haja pesquisa/estudo/trabalho... :heat:
 


Ivan de Almeida

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Resposta #39 Online: 11 de Maio de 2006, 10:33:31
Paulo:

Eu sempre estarei receptivo a este assunto, mas para diálogos que não sejam somente argumentação.

Quem achar que há aí algo a estudar, algo a pensar, pensarei junto. Mas quem achar que nada há a estudar, que basta-lhe o "dom", aí realmente não haverá diálogo, pois nem precisa haver, afinal o dom basta.

Pode não ser agradável dizer as coisas assim, desta maneira crua, mas no fundo não é muito mais que isso, uma crença em um dom da arte que nem precisa polimento. Soberba.

Até o Iluminismo, emoção e razão não eram esferas separadas. Não havia como hoje há, essa crença em uma mente bipolar de um lado emoção irracional, de outro razão lógica.

O que temos hoje é esse triste estado de razão sem considerações afetivas que tanta barbaridade produz no mundo, de emoção que se quer desarazoada e portanto permanece primitiva e sem aplicação, isso é fruto de um convencimento de séculos que dividiu a mentalidade em uma esfera lógica (tola ilusão) e uma esfera emocional (patética ilusão).

O homem é um todo, e tudo que faz é razão e emoção juntas. No ato de maior razão há um motivo emocional, No ato de emoção há uma lógica de valores e juizos que o determina. Persistir na tentativa de entender arte, que é exatamente um ponto onde tais instâncias se cruzam com enorme equilíbrio, a partir dessa dicotomia só faz impedir qualquer compreensão do que seja de fato.

Só acrescento que a arte não deixa de ser um artesanato. Só que é um artesanato com super-poderes.


Ivan de Almeida

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Resposta #40 Online: 11 de Maio de 2006, 10:41:32
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Gostei, agora compreendo mais esta parte!
Vc colocou bem o “espírito” da coisa, a Monalisa não foi feita num piscar de olhos.

Claro, Pictus.

Aliás, não há somente UMA Giconda. Não há também somente UM "O Grito" do Munch, o exemplo maior da obra emocionada. Há vários. Ele fez o mesmo quadro várias vezes até "acertar a dose", e analisou o que faltava em cada um.

O Leonardo da Vinci é sobejamente conhecido como um pesquisador, meio artista, meio cientista, típico homem do renascimento onde ainda não havia essa idéia louca de espontaneidade da arte (que só o leigo acredita). Ele pesquisava anatomia para pintar, por exemplo. O Michelangelo idem, pesquisava o esqueleto humano para saber direitinho a posição dos ossos.

Veja, para desenvolver a técnica temos de prestar atenção e estudar as questões de foco, abertura, o escambau.

Para desenvolver a estética temos de estudar composição, enquadramento, traçados reguladores, mesmo para não usá-los.

Para desenvolver o aspecto artístico temos de estudar arte, temos de olhar arte e pensar sobre arte, da mesma forma que fazemos com as duas instâncias anteriores.

Sem nenhum impedimento de um dia, recheados de todo o estudo mas sem lembrá-lo conscientemente, produzirmos algo interessante "na emoção". O estudo terá sido suporte, apenas não terá sido enunciado no processo.
 


Seymor

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Resposta #41 Online: 11 de Maio de 2006, 11:42:09
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Mas nos fóruns... Nos fóruns encontramos uma multidão que acha que basta achar uma cena legalzinha e clicar, e que isso vira "arte". Que, ao contrário de todos os grandes, é tão sublime sua sensibilidade que não precisa de nenhum estudo ou desenvolvimento. Assim é fácil.
O curioso é que coloquei uma dúvida lá no começo do fotografiabrasil a respeito do porquê o resultado das minhas fotos hoje não me agradarem tanto quanto há dois anos atrás, embora hoje eu fotografe com muito mais consciência e método: ajustar a câmera de acordo com a cena, dar um passo pra direita, outro pra trás, tentando relacionar os diversos elementos num quadro... enquanto há dois anos, eu simplesmente apontava a câmera para algo, via se o quadradinho verde aparecia e terminava de apertar o botão.

Acho que não entendi o que é agradar, buscava algo que me deslumbrasse, tão somente. E achava que o deslumbramento poderia vir com menos raciocínio...
 


Ivan de Almeida

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Resposta #42 Online: 11 de Maio de 2006, 13:55:56
Seymor:

Hoje em dia há muita clareza por parte de quem estuda a história do pensamento da divisão ocorrida depois do Renascimento entre Razão e Emoção, que a partir daí foram consideradas instâncias distintas do pensamento, não compatíveis, quase.

O que aconteceu foi que os métidos da ciêcia e a matemática criaram no homem uma ilusão de um universo racional, de um universo regido por leis invariáveis (modelo do universo do Newton). Isso criou um modelo de ciência e um modelo de razão novos (para a época). A razão entendida de forma mais simples, é a faculdade humana de prever as conseqüências dos atos. A razão até a hisdade média se apoiava na experiência, isto é, o que tinha dado certo antes daria certo depois, e bastava repetir. A beleza era algo também da esfera da experiência, e os artistas continuavam modelos e métidos do passado para criar sem nenhum problema.

Mas, quando houve a matematização da razão ouve um processo de exclusão: tudo o que não era matematizavel nos termos das idéias da época foi alijado da esfera da razão e empurrado para essa outra esfera, vaga, da emoção, isto é, o território do que é emocional e que nem tenta-se entender.

Veja, há diversas formas de construir modelos causais, mas a razão iluminista só aceitou os modelos causais matematizáveis e de acordo com um protocolo de ciência que supunha diversas coisas não tão simples como se achava.

A beleza foi empurrada para a emoção, e tudo que não tinha modelo matemático virou emoção, sensibilidade, etc.

Hoje já não se acredita nisso, mas esse modelo iluminista permanece como uma crença midiática. Hoje a ciência já sabe que observação não é separável do observador, e que na objetividade da observação há uma subjetividade do observador, subjetividade pessoal, histórica, cultural etc. Hoje a ci~encia não acredita mais em observação neutra (exceto os empedernidos). Hoje há cientistas como o Ilya Prigogine (Nobel da Química), o Humberto Maturana, há filósofos como o Edgard Morin que declaram claramente não ser possível essa razão autônoma que se imaginava haver, que ela é uma fantasia somente.

Assim como não há razão autônoma, não há emoção autônoma. Você, aqui, teria fortes emoções de ciume se sua mulher fosse para a cama com outro. Os esquimós emprestavam suas mulheres aos visitantes. Em um dos casos um valor cultural (razão) motivaria forte emoção, em outro, na mesma situação, ausência dela.

A emoção é moldada por respostas de costume cultural em grande parte, e esses costumes são construídos por pequenos atos de razão. Por outro lado, a emoção modifica os cálculos no sentido não de modificar a aritimética, mas de modificarem o objetivo dos cálculos.

Hoje já não cabe pensar razão e emoção como coisas separadas, mas meramente como nomes de determinadas características da manifestação mental, ela mesma um todo.

Venho, você sabe disso, há muito falando de arte e razão. Por que isisto? Insisto exatamente devido á crença generalizada da arte emocional.

Evidentemente, no seu caso, descrito por você, você desenvolveu a técnica, desenvolveu o enquadramento, mas esperou que a poética surgisse espontaneamente. Há que se ter atenção à poética também, mais além, a verdadeira governante da fotografia é a poética, que subordina a estética que por sua vez subordina a técnica.

Me fiz entender ou compliquei -risos. Acho que compliquei...


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Resposta #43 Online: 11 de Maio de 2006, 14:07:56
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Picasso, Braque, Piet-Mondrian, Victor Meireles (eu fui à casa dele em Florianópolis: para cada quadro famoso há uma infinidade de estudos de cada uma de suas partes, desenhos e pinturas completas feitas como simples estudos), qualquer um. Na música idem. No teatro o ator entra em cena mil vezes para fazer a mesma coisa. Será que em todas está "tomado de emoção"? Pensar isso é ingenuidade.

Gostei, agora compreendo mais esta parte!
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Ivan, concordo totalmente com vc  nesse ponto.

E mesmo em formas de arte mais espontâneas esse cuidado é visível deve existir esse cuidado, nunca a primeira foto vai ser a ideal (pode até ser, mas dentro de uma leitura própria). Cada um deve encontrar sua técnica e sua linguagem, para só então poder tentar fazer arte.

Mesmo pq ai o artista terá sua mensagem definida e sua linha de raciocínio totalmente pensada para escolher o melhor modo de passar a mensagem que deseja dentre os modelos dos quais ele se apropriou.
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