Não sei se sou só eu ando pensando a respeito, mas cada vez menos sinto vontade de adquirir uma DSLR ou uma mirrorless de lentes intercambiáveis. Graças aos smartphones, fabricar compactas interessantes tornou-se um grande desafio para as principais marcas, o que deu uma boa arejada no mercado.
Antes dos celulares possuírem câmeras razoáveis, cada lançamento no segmento de compactas era entediante: ou era uma superzoom com sensor minúsculo ou uma compacta de bolso com pouco zoom e sensor igualmente minúsculo.
O momento atual me agrada bastante, pois essas duas pragas que dominaram o mercado por quase dez anos parecem estar tornando-se cameras-commodity, o que as torna desinteressantes financeiramente, pois as margens de lucro são menores. Por exemplo, hoje em dia é possível adquirir uma compacta very-low-end da Nikon por cerca de R$200,00. Para traçar um paralelo, minha primeira compacta digital, uma Sony P72, custou cerca de R$1300,00, e equivaleria em qualidade a essa point-and-shot Nikon dos dias atuais.
Temos que dar crédito a algumas fabricantes que apostaram nesse segmento, algumas obtendo sucesso e outras nem tanto. A Ricoh fabricava câmeras de um nicho que parece nunca ter dado muito certo: compactas com construção impecável, mas sensores minúsculos; já a Sigma parecia lançar a DP1 apenas para mostrar o potencial dos sensores Foveon, mas sem acrescentar o tempero necessário para que se popularizassem.
Acho que a Panasonic foi talvez a primeira a acertar a mão nessa nova tendência de compactas do final da década de 2000 ao lançar a LX3 (na verdade, já andavam experimentando nas LX1 e LX2, mas a LX3 foi um marco no setor). A Fujifilm também chegou perto em 2005 com a Finepix f10, mas a falta de controles manuais e - principalmente - a óptica com muita aberração cromática e wide-end modesto em torno de 35mm/38mm acabou comprometendo a série, embora tivesse obtido relativo sucesso em modelos subsequentes. Mais tarde, lá por 2009, a Olympus foi mais adiante e lançou a EP1 - algo com o qual todos já andavam sonhando: qualidade próxima de uma SLR, tamanho de compacta, lentes intercambiáveis.
Depois da excitação provocada pelas mirrorless da Olympus e da Panasonic - e as fabricantes do mainstream (Canon, Nikon e Sony) copiarem a ideia -, o conceito acabou ficando meio saturado e hoje as mirrorless tornaram-se meio que commodity-cameras, tudo o que uma empresa não quer que aconteça com seus produtos. Eu acho que a saída para as mirrorless é avançar para o full-frame, mas isso é outro papo. O momento atual é das compactas com sensor menor que o APS-C ou o m43.
Essas compactas caracterizam-se por uma qualidade de construção parecida com a de uma mirrorless ou mesmo uma SLR de entrada e sensores maiores que os de qualquer smartphone ou superzoom compacta. As objetivas embutidas partem de f/2, f/1.8 e até f/1.4, como é o caso da Panasonic LX7. O design geralmente remete à era das rangefinders (ninguém melhor do que a Fujifilm materializa essa ideia atualmente com as X100/X100s/X10/X20/XF1), que conviveram pacificamente com as reflex até os anos 70, mas nem todas são assim: a Sony tenta apostar num desenho contemporâneo, enquanto as DPx da Sigma lembram protótipos dos anos 80.
Enfim, estou empolgado com o momento atual das câmeras compactas, pois parecem muito em termos conceituais àquelas câmeras que herdamos de nossos pais e avós: são resistentes o suficiente para aguentarem a ação do tempo e possuem qualidades atemporais, que as tornam câmeras interessantes mesmo quando a tecnologia de lentes e sensores evolui. No momento, quem me parece mais sintonizado com essa tendência é a Fuji, capaz de unir beleza, qualidade e funcionalidade, tudo no mesmo produto.
E você, o que acha? Estamos ou não na era das compactas?