Autor Tópico: Ética e fotografia  (Lida 15773 vezes)

Aneopa

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Resposta #30 Online: 23 de Junho de 2006, 15:57:57
Deixando minha opinião.... Acredito que alguns confundam pessoas públicas com lugares públicos, pessoas públicas como políticos não tem direito a imagem, pessoas comuns tem todo o direito a sua imagem não importando aonde elas estejam. A diferença é que se for fotografada em lugar público de modo subjetivo, P.ex. ao fundo de um acidente que o fotógrafo retrata, ela não terá direito a sua imagem, mas se ela for o objeto da foto pode ter certeza que ela o tem.

Acho muito engraçado fotografos que pensam que as pessoas tem a obrigação de expor sua vida para que eles pratiquem seu hobby, e se a pessoa se preservar será uma ignorante....

Se vc quer retratar uma pessoa, se envolva com ela, conheça aquela realidade, ganhe sua confiança, demonstre que o que vc quer retratar é legitimo e então, com sua autorização e com a confiança depositada terás fotos naturais pois deixarás de ser ameaça...

È claro que é mais fácil tirar a foto ao arrepio da ética e dos direitos alheios...

 


Bucephalus

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Resposta #31 Online: 23 de Junho de 2006, 16:03:17
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Se defender atrás da acusação de "ignorância" do fotografado não dá... Você acha que ela não aceita por não compreender suas "reais" intenções, mas ela pode dizer a mesma coisa de você: esse fotógrafo não entende que eu NÃO QUERO fazer parte da sua fotografia, seja ela o que for. Você não pode tratar PESSOAS como meros objetos de sua arte, por mais que deseje isso. São pessoas, não pedaços de maneira ou latas de tinta que você pode usar como quiser para motar seus "quadros".
Parece que você está descrevendo um monstro que executa milhares de pessoas numa câmara de gás com requintes de crueldade.

Isso deve incluir Henri Cartier-Bresson, um dos mais respeitados fotógrafos da história. Reza a lenda que ele colocava um lenço em cima da câmera e fingia que estava assoando o nariz enquanto tirava fotos de pessoas sem elas saberem.

http://www.afterimagegallery.com/bresson.htm

Ele pode ser considerado anti-ético e imoral também?


Xiru

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Resposta #32 Online: 23 de Junho de 2006, 16:06:20
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Se defender atrás da acusação de "ignorância" do fotografado não dá... Você acha que ela não aceita por não compreender suas "reais" intenções, mas ela pode dizer a mesma coisa de você: esse fotógrafo não entende que eu NÃO QUERO fazer parte da sua fotografia, seja ela o que for. Você não pode tratar PESSOAS como meros objetos de sua arte, por mais que deseje isso. São pessoas, não pedaços de maneira ou latas de tinta que você pode usar como quiser para motar seus "quadros".
Parece que você está descrevendo um monstro que executa milhares de pessoas numa câmara de gás com requintes de crueldade.

Isso deve incluir Henri Cartier-Bresson, um dos mais respeitados fotógrafos da história. Reza a lenda que ele colocava um lenço em cima da câmera e fingia que estava assoando o nariz enquanto tirava fotos de pessoas sem elas saberem.

http://www.afterimagegallery.com/bresson.htm

Ele pode ser considerado anti-ético e imoral também?
Eu consideraria (no caso de elas serem um elemento "primário" da foto e identificáveis).
Xirú Sander Scherer - Ivoti / RS


B.Gomes

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Resposta #33 Online: 23 de Junho de 2006, 16:14:18
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Se defender atrás da acusação de "ignorância" do fotografado não dá... Você acha que ela não aceita por não compreender suas "reais" intenções, mas ela pode dizer a mesma coisa de você: esse fotógrafo não entende que eu NÃO QUERO fazer parte da sua fotografia, seja ela o que for. Você não pode tratar PESSOAS como meros objetos de sua arte, por mais que deseje isso. São pessoas, não pedaços de maneira ou latas de tinta que você pode usar como quiser para motar seus "quadros".
Parece que você está descrevendo um monstro que executa milhares de pessoas numa câmara de gás com requintes de crueldade.

Isso deve incluir Henri Cartier-Bresson, um dos mais respeitados fotógrafos da história. Reza a lenda que ele colocava um lenço em cima da câmera e fingia que estava assoando o nariz enquanto tirava fotos de pessoas sem elas saberem.

http://www.afterimagegallery.com/bresson.htm

Ele pode ser considerado anti-ético e imoral também?
Não inverta as coisas, amigo... você é quem está sustentando que as pessoas são meros objetos que devem estar a disposição da sua arte, quer elas queiram ou não. Além disso, acha que possui algum gênio especial cujos objetivos são inalcançáveis às "pessoas comuns" e que, portanto, elas têm mais é que aceitar serem fotografadas por você.

Sobre Bresson, se ele fez isso, considero que foi sim anti-ético nesses casos.

 


Ivan de Almeida

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Resposta #34 Online: 23 de Junho de 2006, 16:21:36
Perdoe-me, mas será que você pode passar o link onde está dito que o Bresson fazia isso? Nesse link seu há fotos do bresson, muitas delas evidenciando o conhecimento do fotografado do fato de sê-lo.

De toda forma, a fotografia do passado não é possível hoje. O entendimento do direito de imagem mudou. Hoje o Bresson não poderia existir. Mas, lembre-se, ele era fotojornalista.


Bucephalus

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Resposta #35 Online: 23 de Junho de 2006, 17:02:10
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Perdoe-me, mas será que você pode passar o link onde está dito que o Bresson fazia isso? Nesse link seu há fotos do bresson, muitas delas evidenciando o conhecimento do fotografado do fato de sê-lo.

De toda forma, a fotografia do passado não é possível hoje. O entendimento do direito de imagem mudou. Hoje o Bresson não poderia existir. Mas, lembre-se, ele era fotojornalista.
What is likely to be forgotten is that Cartier-Bresson's use of the Leica showed modern photojournalism a new ethic. Because large-format cameras used holders with only two sheets of film, earlier photojournalists commonly staged their pictures. In contrast, Cartier-Bresson practiced unobtrusiveness as the route to capturing unposed photographs. This allowed him to respect his subjects while also obtaining natural, revealing images. His unobtrusive approach allowed him to take and keep photographs of the assassinated Mohandas Gandhi, lying in state in January 1948. (The Life photographer Margaret Bourke-White, who photographed Gandhi with a large camera and flash, had her film confiscated by the Mahatma's devotees who considered her actions disrespectful.) Cartier-Bresson articulated his ethic and the unobtrusive approach that now goes by the term "a fly on the wall" in The Decisive Moment preface: "We are bound to arrive as intruders," he wrote. "It is essential, therefore, to approach the subject on tiptoe.... It's no good jostling or elbowing." As part of his unobtrusiveness, he rejected artificial lighting. "And no photographs taken with the aid of flashlight either, if only out of respect for the actual light.... Unless a photographer observes such conditions as these, he may become an intolerably aggressive character."


It is said that Henri Cartier-Bresson would wrap a large handkerchief around his camera and pretend to be blowing his nose while he took the picture, or would wrap the camera's body in black tape. There are many variations to the stealthiness theme, some involving the use of waist-level finders in cameras, but the general idea is to keep the subject(s) from being aware that he is being photographed.


Em inglês.


Xiru

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Resposta #36 Online: 23 de Junho de 2006, 17:17:16
Não sei pros outros, mas pra mim a questão não é avisar a pessoa que vc vai fotografá-la. Se der, se não for perder o momento,  avise. Mas às vezes não dá ANTES. Então faz a foto e depois fala com a pessoa, se entenda com ela.

EM muitas fotos do Bresson não se identifica a pessoa. Como saber se esse texto não se refere à essas ocasiões? (não que eu queira defender ele, mas é algo a questionar)



Há dois anos fazia estágio num jornal. E cada, CADA pessoa que aparecia numa foto, eu tinha que ir lá, pedir autorização escrita, com nome, RG, contato e assinatura. Era um SACO. Mas era preciso. Além da questão ética, entrava aí a legal, pois a pessoa sairia com a fuça estampada num jornal pra 200 mil leitores.
Xirú Sander Scherer - Ivoti / RS


Ivan de Almeida

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Resposta #37 Online: 23 de Junho de 2006, 18:25:13
Duas observações sobre o Bresson:

Ele era fotojornalista e ele viveu/produziu em uma época em que os direitos pessoais sobre a imagem não tinham sido elaborados, e não tinham exatamente porque a fotografia era rara.

É preciso compreender que a percepção de invasão ou não depende do ambiente. Hoje há regras antes inexistentes, e antes havia regras hoje inexistentes. Quem criou a idéia de invasão através da captura da imagem foi a própria fotografia. Antes dela, antes da humanidade ter uma experiência concreta da apropriação das imagens individuais, não se podia falar em interdição. Esse problema não se colocava. Durante o período inicial da fotografia, também não, pois aquilo era visto como valioso e raro. Agora a fotografia não é mais rara, é banal, de forma que outros valores mudaram a percepção da captura da imagem individual.

E a imagem hoje é entendida como roubo de privacidade e não era, não podemos cobrar do Bresson o atendimento aos parâmetros de hoje.

Possivelmente meu trisavô ou antepassado mais remoto teve escravos. Isso não faz dele alguém sem moral, mas se eu hoje pretendesse ter escravos isso me faria fora do escopo da ética e da legalidade.

Tentar validar o comportamente hoje interditado pelo que se fez no passado, também é sofismar.

Ainda assim, se observarmos as fotos do Bressom, o ser humano é sempre dignamente tratado.

Em alguma das mensagens passadas eu creio ter escrito que não é possível ser o Bresson hoje. Muitos fotógrafos que conheço incluem estranhos em suas fotos de forma a não indntificá-los, seja através de cortes, sombras, distãncia. Isso condiciona a fotografia em nossa época. Quem é consciente disso busca uma forma de incluir preservando, busca aproximações que atuorizem, enfom, praticam a fotografia dentro da moldura da autorização da época.

Devolvo a você a pergunta: a mesma liberdade "estética" que você tem para fotografar um mendigo com fome teria para fotografar o Antônio Ermírio de Moraes?

Se a resposta for não, então o que acontece é aproveitar-se de quem não pode nem sabe defender-se. Com quem sabe defender-se, a atitude é outra.

 


TheRipper

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Resposta #38 Online: 23 de Junho de 2006, 19:51:03
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Você não pode tratar PESSOAS como meros objetos de sua arte, por mais que deseje isso. São pessoas, não pedaços de maneira ou latas de tinta que você pode usar como quiser para motar seus "quadros".
Não pode, ou não deve? A lei diz o que você não pode fazer, a ética, que é algo totalmente subjetivo, diz o que você não deve fazer...  ou não? :)

 
Fábio Garcia - Rio de Janeiro

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Alex Biologo

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Resposta #39 Online: 23 de Junho de 2006, 20:04:52
Não gosto de fotografar pessoas, mas a discussão é legal, o uso que fazemos da fotografia deve ser levado em conta, quando pensamos na ética envolvida nisso.

Em cenas em que pessoas aprecem, acho legal quando elas não podem ser identificadas, afinal se não é a pessoa que interessa, mas sim a cena, preservar a identidade é algo legal.

Se vc identifica a pessoa e ela é o objeto central, a autorização é obrigatória, mesmo que pedida após a captação da imagem.

O dinheiro que se obtém fotografando numparque deveria ser em parte revertido para a conservação do mesmo? Pensando eticamente acho que sim, mas não fazemos isso na maioria dos casos.

Vc fotografa um bicho em extinção, ganha algo com a foto, pq não ajudar na conservação? é uma discussãolonga, a gente acaba só observando a imagem da pessoa, mas esquecemos também dos locais
Alex Martins dos Santos - São Paulo/SP
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Maxtra

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Resposta #40 Online: 23 de Junho de 2006, 20:41:03
Bom, pessoal

Meu objetivo ao criar esse tópico era justamente pensar essa questão ética dentro da fotografia...
Primeiro, acho necessário fazer uma distinção entre moral e ética, pois até o próprio dicionário mistura os conceitos.

Moral é o conjunto de valores de uma sociedade que ditam o padrão de comportamento da mesma. Além disso, existe a moral individual, que por sua vez rege as ações do indivíduo.

Ética é o conjunto de valores que a sociedade ou indivíduo assume e que possibilita a compreensão do outro, mesmo que atinja a moral dessa mesma sociedade e/ou indivíduo. A diferença de ética e moral é que a primeira carrega concepções universais, como, por exemplo, os direitos humanos promulgados pela ONU depois da II Guerra Mundial.


Sendo assim, a homossexualidade, por exemplo, pode ser amoral para algumas sociedades, mas dentro de um conjunto ético, ela deve ser aceita, pois todos possuem liberdade sexual.

Uma vez dito isso, tenho algumas questões.

O Xiru foi um dos primeiros a me responder, e por isso, começo por ele.

Xiru,

concordo com você quando diz que a ética deve estar presente em todos os planos, mas acho que no caso da fotografia, isso exige alguns comportamentos específicos. Por exemplo, a abordagem do fotografado. Sabe, um professor me disse uma vez que as questões mais óbvias, são as mais importantes, então acho que é o caso de discutirmos esse óbvio, especificamente no caso da fotografia. O que você acha?

Bucephalus,

Suas palavras.... E os questionamentos que elas me despertaram!!!

“Fotógrafos estão lá para registrar a cena, e não interfirir com ela.”

Acredito que a cena não “está lá”, ela é construída por todos aqueles que interagem com a mesma, inclusive o próprio fotógrafo...

“Interferir em um episódio considerador errado ou impróprio é um ato moral, baseado em valores morais de certo e errado, e estes valores podem variar de um local para o outro.”

Para mim, nesta frase existe uma confusão entre ética e moral. Acredito que se basear-se no respeito a alguns direitos que são universais, vamos conseguir desatar esse nó. Trago aqui a questão já citada do DIREITO DE IMAGEM. O que vc acha?

“Ao se fotografar um pai e filha brincando no parque, o fotografado pode argumentar que você está invadindo a intimidade dele, mas na realidade você não está. Você não está fotografando a vida dele exatamente, não te interessa, como fotógrafo artístico, quem ele é; para a foto ele não tem rosto, é anônimo. O fotógrafo só deve estar interessado na composição da imagem. Lembrando que estou falando de uma foto artística, feita como hobbye. Ainda assim é difícil convencer a pessoa fotografada disso. »

Acredito que no caso que citou, a questão é que seu interesse não pode estar acima do DIREITO DE IMAGEM do pai e do filho, seja para compor uma imagem ou para estampá-los em uma revista.

“Ela não acha legal porque ela não compreende.”

Ora, a partir dessa justificativa, nossos governantes podem dar um golpe de Estado pois seus governados não acham legal o governo e não entendem as decisões tomadas... Quando você usa esse argumento, se coloca nível de compreensão máximo, e o restante deve apenas concordar com suas idéias... Complicado, não???

Ivan,

Você disse que “fotografar outras pessoas é um processo de aproximação e sedução. Eu tenho conseguido fotografar pessoas com espontaneidade e consentimento.” E depois que “Não dá para eliminar isso, e, aliás, quem rouba foto se priva da maior das maravilhas que a a fotografia consentida e confiante.”

Ai eu preciso que você seja óbvio comigo... COMO FAZER ISSO??? Não peço um manual, mas que me conte a sua prática para que eu possa construir a minha....

Ah, e mais uma coisa, quando eu postei o tópico era para pensar essa questão da ética, embora o consenso não seja necessário. Então, por favor, não desça do bonde porque eu acho que a viagem pode ser longa e frutífera, de verdade!!! Você expõe um ponto de vista que contribui para a questão que me incomoda e talvez me ajude a encontrar a saída...

Bruno,

Você disse que “sobre fotografia na rua, acho o seguinte: se estamos fotografando um evento ou local público (carnaval, passeatas, um parque, etc), é natural que apareçam pessoas na foto. Mas elas são coadjuvantes na cena, são parte de um "todo" que as ultrapassa. Nesse caso, não vejo problemas em fotografar e exibir as fotos em fotologs da vida, desde que nenhuma das pessoas que aparecem na foto estejam expostas ao ridículo, à situações que de alguma forma possam denegrir sua imagem contra a sua vontade. Agora, em retratos ou cenas onde as pessoas é que são protagonistas, é indispensável que se ouça e respeite a opinião desses protagonistas.”

Isso é um exemplo que, talvez para vocês, pareça óbvio, mas eu nunca tinha pensado na diferença... Gostei da reflexão....

Abraços a todos
 
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Ivan de Almeida

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Resposta #41 Online: 23 de Junho de 2006, 21:15:33
Maxtra:

Moral é o universo de regras, ética os fundamentos dessas regras, mas nem uma nem outra são universais, ambas são contingentes.

Por isso a percepção do direito à imagem é contemporânea, e não antiga. A própria idéia de individualidade como nós a conhecemos é um concieto bem moderno que alicerça a idéia do direito de imagem.

Mas vamos ao que você me perguntou.

Bem, inicialmente eu achava que isso era um bicho de sete cabeças. Achava que era um obstáculo, e que era uma via interditada por difícil.

Mas as circunstâncias, sem plenjamento, sem nada, me mostraram que parece que tenho alguma habilidade para fotografar gente, tanto  retratos como gente em ação. Percebi que como gosto de conversar, e como gosto de conversar com pessoas de variadas matrizes culturais, isso me facilitava as coisas. Gosto da "conversa de rua", me sinto bem nela.

Digo hoje a você que me sinto muito confiante em fotografar pessoas com o assentimento delas. Tenho feito isso.

Acrescento que minha fotografia é muito não-invasiva, pois não requer interrupção ou pose (pode haver alguma nos retratos), e como não uso flash, a fotografia não é um choque ambiental.

Uma outra característica que percebi é que preciso gostar da pessoa, da circunstãncia, para fotografar. Não sei fotografar pessoas com a qual não tenha havido alguma transferência. Não é que não saiba. Não tenho interesse, digamos assim, pois a fotografia é um gesto de afeto.


Zyk

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Resposta #42 Online: 23 de Junho de 2006, 21:17:38
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Se deixarmos de lado a ética, seja lá qual for a situação, prefiro não fazer a parte dela.

Apenas o fato de estar presente já interfere com o curso do acontecimento. Registrar uma cena é um ato ativo e dependendo com a expomos podemos manipular o fato.

Se é razoável abandonar totalmente a ética numa determinada atividade, então é tão razoável abandonar a ética em todas outras atividades.
Interferir em um episódio considerador errado ou impróprio é um ato moral, baseado em valores morais de certo e errado, e estes valores podem variar de um local para o outro.

Se você passar pelo centro de SP e presenciar um grupo de homens apedrejando uma mulher infiel, você provavelmente considerará, pelas pessoas e lugar do acontecido, o fato moralmente errado. Afinal você (muito provavelmente) foi criado em uma sociedade onde apedrejar mulheres é inadequado por qual motivo for. Entretanto, se você for para o Irã (ou sei lá qual é o país islâmico) onde é costumeiro apedrejar mulheres infiéis na rua, sua atitude ética deve ser neutra, pois os valores morais das pessoas envolvidas não correspondem aos seus. Você pode fotografar, mas não pode interromper (mesmo que não concorde), minha opinião.

Agora a questão de se fotografar pessoas em um lugar público sem a autorização pessoal delas é algo diferente. Não tenho opinião formada a esse respeito, mas fotografo elas e não peço autorização. Não sei se isso é errado, talvez seja, mas eu faço assim mesmo.
Olá,

Na verdade a ética que eu referia era apenas a ética na fotografia. O próprio ato de fotografar uma atividade humana já afeta o curso do acontecimento tanto pela inibição (ou o inverso) perante a câmera como pela repercussão que a imagem registrada possa gerar posteriormente.

A ética é baseada em alguns princípios fundamentais como "beneficiencia" e "não maleficiencia" (entre outros).

A discussão inicial era sobre a ética em tirar fotos sem o concentimento do fotografado. Se a foto causar alguma meleficiencia ao fotografado, então está contra a ética. Uma das poucas exceções poderia ser "maleficiencia dos poucos X beneficiencia dos muitos", onde se basea a ética do fotojornalismo.

Eu também tenho muitas dúvidas sobre fotografar alguém num lugar público sem seu consentimento, mesmo que esta foto seja para um acervo pessoal. É um tema que merece ser discutido sem dúvida alguma.

[ ]s.


Maxtra

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Resposta #43 Online: 23 de Junho de 2006, 22:41:26
Ivan,

concordo com você quando disse que tanto ética quanto a moral são contingentes. Usei o termo universal com a intenção de expressar algo que extrapole as posições individuais e/ou sociais de cada grupo, mas não fui feliz... Não tentei colocar a ética como se fosse atemporal.

Mas não acha que se a ética fosse o fundamento desse universo de regras (a moral), todo padrão moral seria ético??? (Não sei se deu para entender...)

Considero que a ética é um conjunto de valores que extrapole a moral, pois a ética permite a compreensão do outro, sem que seja necessário a aceitação de suas idéias... Mas acho que isso já foge do propósito do tópico...

Mas, voltando ao tema central, você costuma pedir licença para fotografar, ou vai puxando uma conversa para ver o que vai dar? Você dá retorno ao fotografado? Ele vê a foto realizada? (Não sei se você usa equipamento digital ou apenas filme) O contrato que vc faz com ele é verbal?

Abraço  
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Resposta #44 Online: 23 de Junho de 2006, 22:51:20
Venho acompanhando o tópico, pois acho a discussão bastante pertinente e interessante. Acho que a real questão vai além dos direitos de imagem, apesar de estar ligada a eles. Minha opinião ainda não está totalmente formada, mas posso falar de algumas experiências que associo com o assunto.

Num encontro de fotógrafos de que participei, em um determinado momento, uma senhora humilde se aproximou do grupo vendendo bilhetes de loteria. Um ou dois dos fotógrafos apontaram a câmera pra ela, que imediato disse: "não fotografa não, não fotografa". Não adiantou, eles fizeram alguma brincadeira com ela e dispararam suas reflex em modo contínuo. Fiquei enojado com aquilo. Era como se estivessem violentando a pessoa, usando-a realmente como apenas um objeto.

Outro dia, passando em frente à Biblioteca Municipal, no centro de SP, vi um senhor vendendo potes de pimenta. Pensei que daria uma foto interessante. Pedi autorização e ele disse que não haveria problema em fotografá-lo. Ele posou, como se já estivesse acostumado, sem olhar para a câmera, e eu fotografei. Depois ele me pediu "um café", o que eu atendi. Nunca havia feito isso e não me senti bem em fazer. Percebi que fazer retratos sem ter o mínimo de ligação com a pessoa não é a minha praia. É como o Ivan falou, tem que haver algum tipo de ligação com o fotografado (além do respeito) para a coisa funcionar. Tiro retratos que gosto muito de pessoas próximas, por outro lado.

Quando fotografo na rua, tento incorporar pessas à cena, sem destacá-las, como elementos da cena. Tenho tido alguns resultados de que gostei com isso. Na minha reflex tenho só duas lentes, uma normal é uma GA. Nunca fotografaria desconhecidos e inadvertidos com teles.

Acho que a questão é realmente qual a ligação que se tem com o que se fotografa. Pode-se ser apenas um predador, ou desenvolver realmente algum tipo de elo com o assunto, em que o respeito e o interesse pelo ser humano venham em primeiro lugar. Acho que a questão da autorização ou não, do antes ou do depois, ou de como abordar ficam secundárias quando se tem essa preocupação como prioridade.