Bom, pessoal
Meu objetivo ao criar esse tópico era justamente pensar essa questão ética dentro da fotografia...
Primeiro, acho necessário fazer uma distinção entre moral e ética, pois até o próprio dicionário mistura os conceitos.
Moral é o conjunto de valores de uma sociedade que ditam o padrão de comportamento da mesma. Além disso, existe a moral individual, que por sua vez rege as ações do indivíduo.
Ética é o conjunto de valores que a sociedade ou indivíduo assume e que possibilita a compreensão do outro, mesmo que atinja a moral dessa mesma sociedade e/ou indivíduo. A diferença de ética e moral é que a primeira carrega concepções universais, como, por exemplo, os direitos humanos promulgados pela ONU depois da II Guerra Mundial.
Sendo assim, a homossexualidade, por exemplo, pode ser amoral para algumas sociedades, mas dentro de um conjunto ético, ela deve ser aceita, pois todos possuem liberdade sexual.
Uma vez dito isso, tenho algumas questões.
O Xiru foi um dos primeiros a me responder, e por isso, começo por ele.
Xiru,
concordo com você quando diz que a ética deve estar presente em todos os planos, mas acho que no caso da fotografia, isso exige alguns comportamentos específicos. Por exemplo, a abordagem do fotografado. Sabe, um professor me disse uma vez que as questões mais óbvias, são as mais importantes, então acho que é o caso de discutirmos esse óbvio, especificamente no caso da fotografia. O que você acha?
Bucephalus,
Suas palavras.... E os questionamentos que elas me despertaram!!!
“Fotógrafos estão lá para registrar a cena, e não interfirir com ela.”
Acredito que a cena não “está lá”, ela é construída por todos aqueles que interagem com a mesma, inclusive o próprio fotógrafo...
“Interferir em um episódio considerador errado ou impróprio é um ato moral, baseado em valores morais de certo e errado, e estes valores podem variar de um local para o outro.”
Para mim, nesta frase existe uma confusão entre ética e moral. Acredito que se basear-se no respeito a alguns direitos que são universais, vamos conseguir desatar esse nó. Trago aqui a questão já citada do DIREITO DE IMAGEM. O que vc acha?
“Ao se fotografar um pai e filha brincando no parque, o fotografado pode argumentar que você está invadindo a intimidade dele, mas na realidade você não está. Você não está fotografando a vida dele exatamente, não te interessa, como fotógrafo artístico, quem ele é; para a foto ele não tem rosto, é anônimo. O fotógrafo só deve estar interessado na composição da imagem. Lembrando que estou falando de uma foto artística, feita como hobbye. Ainda assim é difícil convencer a pessoa fotografada disso. »
Acredito que no caso que citou, a questão é que seu interesse não pode estar acima do DIREITO DE IMAGEM do pai e do filho, seja para compor uma imagem ou para estampá-los em uma revista.
“Ela não acha legal porque ela não compreende.”
Ora, a partir dessa justificativa, nossos governantes podem dar um golpe de Estado pois seus governados não acham legal o governo e não entendem as decisões tomadas... Quando você usa esse argumento, se coloca nível de compreensão máximo, e o restante deve apenas concordar com suas idéias... Complicado, não???
Ivan,
Você disse que “fotografar outras pessoas é um processo de aproximação e sedução. Eu tenho conseguido fotografar pessoas com espontaneidade e consentimento.” E depois que “Não dá para eliminar isso, e, aliás, quem rouba foto se priva da maior das maravilhas que a a fotografia consentida e confiante.”
Ai eu preciso que você seja óbvio comigo... COMO FAZER ISSO??? Não peço um manual, mas que me conte a sua prática para que eu possa construir a minha....
Ah, e mais uma coisa, quando eu postei o tópico era para pensar essa questão da ética, embora o consenso não seja necessário. Então, por favor, não desça do bonde porque eu acho que a viagem pode ser longa e frutífera, de verdade!!! Você expõe um ponto de vista que contribui para a questão que me incomoda e talvez me ajude a encontrar a saída...
Bruno,
Você disse que “sobre fotografia na rua, acho o seguinte: se estamos fotografando um evento ou local público (carnaval, passeatas, um parque, etc), é natural que apareçam pessoas na foto. Mas elas são coadjuvantes na cena, são parte de um "todo" que as ultrapassa. Nesse caso, não vejo problemas em fotografar e exibir as fotos em fotologs da vida, desde que nenhuma das pessoas que aparecem na foto estejam expostas ao ridículo, à situações que de alguma forma possam denegrir sua imagem contra a sua vontade. Agora, em retratos ou cenas onde as pessoas é que são protagonistas, é indispensável que se ouça e respeite a opinião desses protagonistas.”
Isso é um exemplo que, talvez para vocês, pareça óbvio, mas eu nunca tinha pensado na diferença... Gostei da reflexão....
Abraços a todos