Não existe essa coisa de virar gay. O que existe é cair a ficha de que você sempre foi gay.
Vou usar de novo minha história. Desde criança já percebiam que eu era diferente. Tive poucos episódios de bullying homofóbico na escola pois gostava de estar com as meninas apesar de não curtir as brincadeiras de meninas (casinha, boneca). Quando era pra brincar as vezes queria faze-lo com os meninos, mas nem sempre era aceito pois algumas brincadeiras deles também ao me agradavam (futebol, lutas, carros). Passei toda a adolescência trancado em casa, sem amigos, sem balada nem vida social. Tinha fobia social, não gostava de tirar a camiseta em publico mesmo em situações em que deveria usar traje de banho. Namoro então nem se fala. Eu até desconfiava que era gay pois a gostosa da classe para a maioria dos guris eram as meninas cheinhas, com curvas e cujo rosto nem sempre era bonito. Eu cheguei a me apaixonar por menina, mas ela era magérrima com um rosto de boneca. Nada sexy. Já atração carnal mesmo era com os garotos, mas eu achava que isso era tipo, uma vontade de ter o corpo parecido com o deles e não atração sexual. Assim foi até os 25 anos quando encontrei um tópico no orkut sobre vergonha do corpo. Nele vários garotos relatavam os transtornos que isso lhes causava. Me identifiquei. Comecei a ler relatos daqueles que superaram. Quase todos indicaram musculação para elevar a auto estima. Lá fui eu, morrendo de vergonha de entrar na academia. Um mês depois, treinando 5 vezes por semana sem nenhuma falta, durante o banho percebi meu corpo diferente. Primeiro desafio: Ter coragem de por uma regata e sair pra passear. Consegui, querendo cavar um buraco no chão, mas consegui. Segundo desafio: beijar uma menina, afinal aos 25 anos ainda não tinha feito isso. Fiquei com uma colega que trabalhava comigo como editor num estúdio. Nem senti nada. Em 2009 entrei numa escola de teatro com intuito de perder a timidez e quem saber arrumar uma namorada. La conheci varias pessoas, entre elas um rapaz que tinha acabado de se separar da esposa com quem esteve por 11 anos. Ele me contou que casou porque é de uma família tradicional, então ele próprio achou que era importante pra família ele casar com uma mulher e ter filhos. Só que ele aguentou agir contra a natureza dele durante 11 anos e se cansou. Ele me questionou se eu era gay e eu neguei. Logo outros colegas me questionaram o mesmo. Eu neguei, mas comecei e considerar a hipótese. Até que em outubro daquele ano eu resolvi dar um basta. Afinal ja tinha tentado namorar meninas e sempre no final me tornava amigo de infância delas. E nada de o clima esquentar. Resolvi ir numa boate gay a convite de uns amigos. Antes de entrar lá eu me permiti beijar um rapaz. E foi totalmente diferente de beijar uma menina. Porque eu gostei. Fiquei virgem de sexo até os 26 anos. Nunca transei com mulher. Até tenho curiosidade, confesso, mas não chega ao ponto de eu ir atras disso e jamais casaria com uma. Mas enfim, o primeiro beijo num rapaz foi dia 12/10/2009. No dia seguinte contei a minha irmã e ao meu padrinho de batismo que é gay. Ele me disse que tava só esperando eu me assumir e falou que quando ele se assumiu meu pai pediu pra ele não me influenciar. Como ele sabia desde que eu era criança que eu era gay ele se afastou propositalmente porque sabia que seria responsabilizado quando eu me assumisse. Raramente nos viamos, mas segundo ele, toda vez que ele e meu pai se encontravam ele tentava abordar o assunto e desmistificar para que quando chegassea hora meu pai estivesse preparado. Teve uma vez que ele convidou meu pai pra ir num bar bem conceituado e só lá meu pai viu que se tratava de um bar gay. Porque assim meu pai veria que esse mundo não é só de promiscuidade como muitos pensam. Deu certo. toda minha família sem exceções, me aceita, me apoia e não finge que meu namorado é meu amigo. Eles sabem que é meu namorado. Mesmo meu avô que sempre foi machista continuou o mesmo comigo.
Meus problemas depois disso terminaram, gente. Não sou muito fã de exibir meu corpo ainda, mas se vou na praia não deixo mais de colocar um traje de banho. Perdi a fobia social. Continuo tímido, mas isso é da minha natureza. Me achei profissionalmente na fotografia, ainda estou começando. Tudo pra mim foi tardio. Tudo minha irmã mais nova fez primeiro que eu: primeiro beijo, ensino superior, posicionamento profissional, namoro. Mas pude entender que a raiz de todos os meus bloqueios era a não aceitação da minha sexualidade. Era eu ter que cuidar meus gestos, minha fala, minha risada, meu andar, tudo pra ninguém dizer que eu era gay.
E aí? Ainda acham que alguém VIRA gay? É uma questão de auto-conhecimento que cada um fará dentro do seu tempo.