Roberto:
Muitas vezes eu mostro fotos na rede que sei serem pouco mais do que o gancho de uma idéia. Explico. Às vezes olho uma foto minha e lá, no meio de algo que não parece interessante, vejo uma coisa interessante. Por exemplo. Tenho uma obsessão ligada à estética do que é dito feio. As periferias das grandes cidades do Sudeste, por exemplo, com suas casas de laje e janelas de ferro ou alumínio, a grande maioria sem emboço. Olhamos para elas e elas parecem feias. Será que um arqueólogo ao olhá-las as acharia feias? Ou quem as acha feias é nosso gosto condicionado pelos nossos valores de classe? Aí fico tentado a fotografá-las para através da fotografia descondicionar meu olhar. Fotografo contextos feios procurando compor, procurando as texturas. A grande maioria das fotos não fica bonita, mas lá no meio delas vislumbro um acerto, uma meneira de ver, um passo em direção da descoberta da beleza oculta. Esse passo eu preciso mostrar e ponho na rede. As pessoas estranham, mas eu preciso mostrar para que eu mesmo o veja, pois há em nós dois: o que coloca na rede e o que olha o colocado, e nessa troca de papéis nossa própria obra se revela para nós e conseguimos decodificar o quanto chegamos perto do desejado. Não tenho vergonha de mostrar esses "esboços". Teria vergonha se me faltasse coragem para fazê-lo, se eu quisesse todo o tempo mostrar fotos bonitinhas e agradáveis. Não tenho medo do erro, pois se eu não for amigo dele ele não trará junto a liberdade.
Essas tentativas, tempos depois, amadurecida a idéia e o olhar, frutificam noutra série. Às vezes ainda insuficiente. Depois frutificam noutra, e noutra, até que num momento sinto que fiz algo de interessante e distante do normal. Uma série de fotos com umas dez fotos coerentes me custa de cinco a 20 seções de fotos, cada qual realizada sobre a meditação da anterior. Quando persigo uma série começo longe da tentativa de acerto. Procuro fazer o que não fazia. A própria série vai me mostrando, me ensinando. Se tentasse acertar logo eu somente faria o já sabido, somente me repetiria. Repetir-se é uma sina, todos somos prisioneiros de nós mesmos, mas cada liberdade conquistada vale muito.
Os meios? Bem, mudar de meio liberta também, e a Lomo é isso, tanto para quem a usa quanto como experiência social de imagem, pois cria uma alternativa ao belo-banal.
Ivan