Autor Tópico: [ARTIGO] Voltar a ter prazer em fotografar  (Lida 5877 vezes)

RFP

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Online: 07 de Outubro de 2013, 07:36:49
Muitos fotógrafos parecem chegar a um ponto da sua trajetória em que se sentem perdidos, desanimados e desmotivados em relação à fotografia. O que foi uma atividade significativa e prazerosa passa a ser um esforço. Ele se pergunta: "o que estou fazendo de errado?" e tem dificuldade em entender o que aconteceu no meio desse caminho, onde ele se perdeu. Para entender isso, talvez não baste olhar só para onde ele está, mas para o seu percurso como um todo. Há um componente natural e onipresente nesse processo que parece ser positivo, mas que pode justamente ser a origem da sua perdição: querer fotografar bem.

Todos nós já pensamos nisso em algum momento. Mas existem muitos caminhos pelos quais podemos tentar melhorar a própria fotografia, sendo que a forma como abordamos esse "problema" pode alterar a relação que temos com a fotografia e ser um dos motivos pelos quais chegamos a esse momento de insatisfação e desânimo.

Pois assim que pensamos em fotografar melhor, nos defrontamos com a questão: o que é uma boa fotografia? Pense numa fotografia que você gosta. Tente entender porque você gosta dela. Porque provoca uma reação emocional? Porque é tecnicamente bem feita? Porque ela é organizada geometricamente? Podemos ter muitas explicações, incluindo até aquelas que envolvem teorias de semiótica, comunicação ou psicologia. Mas logo você vai perceber que não há uma boa resposta geral e definitiva para essa pergunta. Nenhuma explicação dá conta de definir todas as boas fotografias. Reconhecemos uma boa fotografia quando vemos uma, mas nossas tentativas de explicá-la através de palavras não conseguem expressar aquilo que vemos. E aí, quando temos uma pergunta cujas respostas não satisfazem, talvez isso signifique que a nossa pergunta não é boa.


Zephyrance Lou


Geralmente não nos detemos muito nessa análise. Se nos detivéssemos mais, entenderíamos que a boa fotografia não existe. Ou melhor, existe, mas não é passível de uma descrição ou racionalização, como imaginamos. Mas  insistimos em alguma definição, e como não a temos, estabelecemos critérios arbitrários que nos indicam que estamos fotografando bem e passamos a persegui-los. Um dos objetivos concretos que nos diz que estamos fotografando bem é a aprovação externa. Se recebemos um tanto de curtidas nas nossas fotos, aprovação dos amigos, ou até um tanto que faturamos, acreditamos que estamos fazendo uma boa fotografia.

E é justamente aí que começamos a nos perder: ao criar um conceito para definir o que é a boa fotografia, e passar a perseguir esse conceito. Pois quando perseguimos uma ideia, perdemos o contato com a experiência. Podemos ganhar aprovação, respeito e admiração, mas se esse é o nosso fim, então a fotografia se tornou apenas um meio. Querer fotografar bem pode, paradoxalmente, nos distanciar da fotografia. Depois de anos de prática — que é justamente quando estamos fotografando bem — já não conseguimos mais sentir o mesmo prazer, a mesma satisfação ou enxergar na fotografia o mesmo sentido do início. Pois, quando isso ocorre, quer dizer que o sentido foi abandonado em prol de uma evolução que nunca termina. O fotógrafo percebe, então, que não adianta insistir no caminho que já vinha seguindo: quanto mais ele conseguir sucesso dentro do conceito que substituiu seu amor pela fotografia, mais longe estará do sentido original. Ele se pergunta como, então, resgatar a "inocência perdida".

Esse resgate é difícil porque envolve deixar de lado os substitutos, tão agradáveis e reforçadores, que ele elegeu como objetivos. Significa não mais usar sua fotografia para conseguir reconhecimento, valorização e sucesso. Significa voltar-se diretamente para a experiência de fotografar. Conectar-se novamente com o que há no mundo que o fez querer fotografar. Apreciar seu equipamento e o que ele lhe possibilita fazer (lembrando que o equipamento, sim, é um meio). Mergulhar nos estados contemplativos em que se coloca ao fotografar, ao tratar imagens, ao revelar um filme. E, claro, amar aquilo que a sua fotografia, quando pronta, mostra, diz, expressa. E estar atento à tentação de usar essa fotografia novamente como um meio para o que ele acabara de abandonar — o reconhecimento, a valorização, o sucesso — ou ele se perderá mais uma vez.

Publicado também no Câmara Obscura.
« Última modificação: 26 de Novembro de 2013, 00:47:43 por Leo Terra »


Palmeida

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Resposta #1 Online: 07 de Outubro de 2013, 17:00:48
 :clap:
O que eu amo: Deus, família, amigos, trabalho,fotografia, contabilidade, estudar e tecnologia!


Raphael Sombrio

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  • O RAW é um diamante...bruto
Resposta #2 Online: 11 de Outubro de 2013, 11:45:22
Caráca, to de cara!! :clap: :clap:

Esse texto todos devíamos le-lo diariamente, para não esquecer a profundidade da mensagem.....

Realmente se pararmos pra pensar, o "peso" da autocrítica e responsabilidade em atingir ou manter a "suposta" qualidade prejudica mesmo, pois geralmente é o "acaso momentâneo" e prazeroso, munido de técnica e conhecimento que nos proporciona resultados surpreendentes até mesmo pra gente.

Muito obrigado pela matéria!


fisiowilliam

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Resposta #3 Online: 16 de Outubro de 2013, 15:57:37
 :clap:


Versiano

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Resposta #4 Online: 16 de Outubro de 2013, 21:14:01
Belo texto!

 :ponder:

 :ok:
''Equipamentos': o necessário para fazer 'boas fotos'...

Sempre me falta conhecimento e prática.


ALEXFIGUEIREDO

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Resposta #5 Online: 17 de Outubro de 2013, 22:22:24
Muito bom  :ok: :clap:
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claudio souza

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Resposta #6 Online: 18 de Outubro de 2013, 08:36:11
 :clap: :clap: :clap: :clap:


claudio frança

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Resposta #7 Online: 18 de Outubro de 2013, 18:38:53
 :clap:


MARCIOBERE

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Resposta #8 Online: 20 de Outubro de 2013, 13:40:25
Muito bom