Autor Tópico: LINGUAGEM: Desfoque do fundo  (Lida 9975 vezes)

RFP

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Resposta #15 Online: 14 de Agosto de 2006, 12:06:30
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Aprendi muitas coisas com esse texto. No final das contas, o importante é não sair por aí seguindo tendências sem saber o porquê.
Acho que essa frase resume muito o que eu penso também. O interessante é ter uma consciência do que se faze do seu porquê. Mas para isso é necessário um exercício constante de questionamento e entendimento do que já foi feito. Afinal, aquilo que é hoje é por conta do que foi no passado.

Por isso, acho um pouco prejudicial quando se fala de forma cristalizada sobre alguns aspectos técnicos. No caso do desfoque, quando se fala: "você tem que desfocar o fundo num retrato", ou em caso de paisagens: "você tem que usar uma abertura pequena para ter mais profundidade".  


Ivan de Almeida

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Resposta #16 Online: 14 de Agosto de 2006, 12:21:51
Pois é, Rodrigo.

Assim como você tem feito no seu Multiply, tenho me esforçado para traer debates sobre linguagem, coisa da qual pouco se fala, e conhecer a linguagem é conhecer seus processos gerativos, perdendo a ingenuidade de uma linguagem espontânea.

Na verdade, tudo isso é combater a idéia de spontaneidade da fotografia, pois quanto menos acharmos que a fotgrafia é espontãnea mais teremos controle sobre o que fazemos, mais conscientes serão as escolhas.

Este Mundo Fotográfico, entre todos os fóruns que freqüento, tem se tornado o campo mais fértil para esse tipo de debates, graças á presença de pessoas como você, o helder, o Carlos TM, o Bruno Gomes, o Marcelo e tantos que vou esquecer injustamente de citar.

Acho que somos um ajuntado de pessoas preocupadas com essas questões, e esse ajuntamento agora está fazendo com que reconheçamo-nos uns aos outros, e todos creio mais livres para explorar essas questões, mais que interessantes, dfundamentais.

Grande abraço, agradecendo a você e a todos pela luxuosíssima interlocução.


cmvserra

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Resposta #17 Online: 18 de Agosto de 2006, 09:46:41
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Parece que nas primeiras décadas do Século XX os fotógrafos simplesmente ignoravam essa possibilidade. Não vou dizer que inexistam, mas eu mesmo não me recordo de nenhuma fotografia do período que tenha se valido do desfoque do fundo como forma de conjugar os elementos da foto. Ao contrário, parece que os fotógrafos perseguiam o oposto: a nitidez de toda a profundidade visual, sendo a falta de nitidez um defeito ótico, e não uma característica.
 
Ivan, acredito que isso se deve ao conceito pre-moderno (renascentista) em que havia pouca (ou nenhuma) interferencia do fotografo sobre o processo. A ideia era apenas retratar a natureza e pessoas com maior realidade possivel. A razao (e ometodo cientifico) predominava no lugar da subjetividade.

Mudancas de assuntos, angulos, enquadramentos, desfoques sao conceitos modernos. E a era moderna na fotografia brasileira se da a partir de 1940 (por ai).

Abracos e parabens pelo texto.  


Vilso_Dall_Agnol

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Resposta #18 Online: 18 de Agosto de 2006, 11:20:57
Tenho a impressão que minha preferência por pequenas profundidades de campo nasceu comigo, tento sem muito sucesso materializá-la nas minhas fotos, ainda impublicáveis.

Mas há questões que considero interessantes discutir aqui.

Minha FZ20, com sensor de 1/2,5" (um retângulo de 5,76 x 4,32 milímetros!) só permite abertura até f8, penso eu limitada pela difração. Com esta abertura, não consigo DOF extenso, tenho que avaliar que parte do cenário vou desfocar.

Da leitura do tópico fiquei em dúvida sobre a valorização que damos hoje ao desfoque.
As câmeras de médio e grande formato permitem aberturas f64 sem provocar difração, resultando foco em toda extensão do campo.
Com a popularização do formato 35mm a mobilidade passou a exigir aberturas maiores para se fotografar sem apoios, máquina na mão.
Acrescente-se que a difração também limitou as aberturas mínimas.
Não teria sido esta limitação técnica uma causa relevante da mudança?

Vilso
 
A fé é louvável, mas é a dúvida que nos faz crescer


Alex Biologo

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Resposta #19 Online: 18 de Agosto de 2006, 12:09:01
Vilso, mas desficar algo nas FZ20 dá um trabalho imenso, não? a abertura nessas câmeras serve mais para controlar a luz do que pra controlar a profundidade de campo, com uma fuji, muitas vezes em f 3.0 tudo aparecia focado....

Agora sobre o desfoque em si, a partir do momento em que se usar foco ou não numa região é opção do fotógrafo, o trabalho se torna válido, o complicado é quando todas as fotos são feitas no achômetro e ai vc pega uma e fala, nossa que legal, eu sei tirar boas fotos.

O que vale é sempre a opção de quem faz a foto (seja a opção feliz ou não, afinal ninguém vai acertar sempre). É quase como a escolha das lentes.... eu pego uma GA e fico tentando compor com ela, nada sai, ai me surge uma tele, tudo muda...rs consigo saber exatamente o que quero (mesmo que dê uns passos pra trás e tal, eu sempre compus minhas cenas a partir de recortes do que estou vendo, então ampliar meu campo visual torna muito mais difícil meu trabalho. O mesmo com o desfoque, tem gente que abomina áreas desfocadas, tem gente que controla e muito bem o grau de desfoque de suas fotos, é técnica? em muitos casos é apenas opção artística, vc sabe como usar e não o usa de forma consciente.
Alex Martins dos Santos - São Paulo/SP
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Ivan de Almeida

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Resposta #20 Online: 18 de Agosto de 2006, 14:27:10
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Ivan, acredito que isso se deve ao conceito pre-moderno (renascentista) em que havia pouca (ou nenhuma) interferencia do fotografo sobre o processo. A ideia era apenas retratar a natureza e pessoas com maior realidade possivel. A razao (e ometodo cientifico) predominava no lugar da subjetividade.

Mudancas de assuntos, angulos, enquadramentos, desfoques sao conceitos modernos. E a era moderna na fotografia brasileira se da a partir de 1940 (por ai).

Abracos e parabens pelo texto.

Obrigado, e acho isso mesmo: no início era uma idéia renascentista da perfeita perspectiva cônica. A lente era um ausiliar, nas não uma componente especial. Digamos que essa fotografia tinha a filosofia de fotografia estenopéica auxiliada por lente.

Depois a lente que entrou ali como auxiliar foi mostrando que trazia possibilidades já distinta de apenas fornecer mais luz e nitidez.

E para mim, a adoção da arquitetura reflex foi fundamental. Ontem mesmo eu estava brincado com minha câmera e vendo como o grau de DOF mudanva a cena. Isso só vendo através.


Xiru

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Resposta #21 Online: 23 de Agosto de 2006, 12:22:24
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Parece que nas primeiras décadas do Século XX os fotógrafos simplesmente ignoravam essa possibilidade. Não vou dizer que inexistam, mas eu mesmo não me recordo de nenhuma fotografia do período que tenha se valido do desfoque do fundo como forma de conjugar os elementos da foto. Ao contrário, parece que os fotógrafos perseguiam o oposto: a nitidez de toda a profundidade visual, sendo a falta de nitidez um defeito ótico, e não uma característica.
 
Ivan, acredito que isso se deve ao conceito pre-moderno (renascentista) em que havia pouca (ou nenhuma) interferencia do fotografo sobre o processo. A ideia era apenas retratar a natureza e pessoas com maior realidade possivel. A razao (e ometodo cientifico) predominava no lugar da subjetividade.

Mudancas de assuntos, angulos, enquadramentos, desfoques sao conceitos modernos. E a era moderna na fotografia brasileira se da a partir de 1940 (por ai).

Abracos e parabens pelo texto.
Não acho que fotógrafos das primeiras décadas do séc. XX acreditavam haver pouca ou nenhuma interferência humana sobre o processo. Pois o próprio Ansel Adams pregava fortemente que a pessoa precisa ser ativa ao fotografar, precisa compreender as partes do processo. Você se descobrir agente ativo é para fotografar como VOCÊ quer.

Aqui vai um trechinho dele, que já usei em algum outro tópico por aqui:
"Se entendermos as maneiras pelas quais cada estágio do processo irá formar a imagem final, teremos inúmeras oportunidades de controlar esse resultado de modo mais criativo. No caso de não compreendermos o processo, ou renunciarmos ao controle em favor da automação de um ou outro tipo, estaremos permitindo que o sistema imponha os resultados, em vez de controlá-los para nossas finalidades." (Ansel Adams)

Ok, quem sabe deve ser mesmo algo ligado ao renascentismo. Mas não creio que seja ingenuidade.
Xirú Sander Scherer - Ivoti / RS


LuizNdo

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Resposta #22 Online: 23 de Agosto de 2006, 13:24:49
Excelente o texto. Muito instrutivo.

Tive uma professora de Gravura que dizia:
"- Domine a técnica para não se tornar escravo de regras que desconhece!"

Isso é uma verdade.
O "espontâneo" usa a criatividade para suprir a falta de técnica. E aquele que domina a técnica deixa sua criatividade livre para forçar as fronteiras e ir além do considerado possível.

Ivan, sou seu fã!
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Ivan de Almeida

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Resposta #23 Online: 23 de Agosto de 2006, 13:35:33
Resposta ao Xirú:

Perspectiva cõnica é assim chamada porque as formas são projetadas a partir de um ponto de fuga, que assim é o vértice do cone de projeção. Todas as perspetivas de imóveis, etc, são cônicas.

Mas há também perspectivas cilíndricas, como a Cavaleira, a Isotrópica, etc. No caso, a câmera escura é uma projeção cônica que obedece ás regras da perspectiva cônica.


Xiru

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Resposta #24 Online: 23 de Agosto de 2006, 15:01:23
Oooooooobrigado! =)
É, ponto de fuga já estava no meu arquivo e em uso, hehehe. Só não tinha caído a ficha dessa conexão.

Valeu, Ivan!
Xirú Sander Scherer - Ivoti / RS


AluiZio

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Resposta #25 Online: 23 de Agosto de 2006, 22:35:31
Possíveis condenações à desfoque de fundo se aplicam, também, às macros?
AluiZio -


Xiru

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Resposta #26 Online: 23 de Agosto de 2006, 23:39:16
Tudo é possível. :P

(ainda mais em se tratando de condenação quanto à aspectos técnicos da fotografia de alguém)
Xirú Sander Scherer - Ivoti / RS


Ivan de Almeida

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Resposta #27 Online: 23 de Agosto de 2006, 23:58:44
Aluizio, meu amigo;

Não gostaria que fosse entendido aqui que critico o desfoque de fundo. Não é isso, absolutamente. Somente tento ver esse desfoque como um tipo de estética surgido do uso de um tipo de cãmera, que não foi o valor que tem hoje durante a maioria da história da fotografia, e se tornou hoje tão importante a ponto de parecer essencial.

na verdade, não sei se disse isto aqui ou em outro lugar, somos todos homens pós-desfoque, isto é, já não o podemos ignorar, já estamos impregnados pela maneira como gera a apar~encia das fotos.

No meu caso específico, tenho procurado agora obter um controle maior dele, dosando-o para finalidades específicas. Para minha meneira de fotografar, dificilmente a anulação total do fundo cai bem. Mas isso é de inclinação pessoal.

Abraços,
ivan


Xiru

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Resposta #28 Online: 24 de Agosto de 2006, 00:17:49
Eu não entendi como tantos entenderam uma postura "meio" contra desfoque do Ivan. Pra mim ficou muito claro que não era isso. Acho até o contrário, ele mostrou que considera algo BOM que o desfoque passou a ser incluso no espatro das "linguagens aceitáveis" pelos fotógrafos. =)

Ter, e se dar, a liberdade de trabalhar o DOF só enriquece e dá mais liberdade às linguagens.
Xirú Sander Scherer - Ivoti / RS


Davi Sato

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Resposta #29 Online: 24 de Agosto de 2006, 02:11:55
Ivan,

Um ótimo texto com excelentes e interessantes colocações!!

Concordo que o desfoque de fundo é uma técnica interessante para destacar certas composições como vc costuma fazer nos seus retratos familiares.

Interessante que por usar apenas compactas e estar acostumado com a pequena capacidade de desfoque delas, nunca tinha atentado até então para a questão da "qualidade" estética do bokeh...  Eu simplesmente achava que eram desfoques mais fortes, ou mais fracos.

Cada dia aprendo algo novo com vcs!!


 :thmbup:  
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São Gotardo – MG