Lordakner, não é eufemismo, não, de forma alguma. E, sim, vejo uma importância enorme na crueza como denúncia e engajamento político, que, sem dúvida, se faz pela fotografia. Falo de outra coisa e tento um exemplo prático.
Viajei uma vez com um velho ribeirinho que vivia num barco. O barco estava na família há três gerações e era algo muito, muito importante para ele, mais do que meio de vida, mais do que seu lar, era quase continuidade dele próprio.
Devo ter tirado umas 70 fotos dele com o barco. E nas fotos, havia só isso, um senhor com seu barco. Um colega que viajava comigo, com uma maquininha compacta do tipo mais barato, tirou uma só foto (infelizmente não a tenho mais). O formato 4x3 trazia um quarto da timão do barco e, nele, víamos três pinos. Dois dos pinos, estavam vazios, a madeira muito polida e, claramente, moldada pelas mãos do velho comandante e de seus antepassados. No terceiro pino, aparecia a mão do senhor que o segurava. E aí, víamos as calejadas mãos que se envolviam o pino do timão, como se moldadas a ele. Como se moldadas POR ele.
A foto do meu colega, na representatividade do detalhe, conseguiu expressar muitíssimo mais -- e mais fortemente -- o que víamos e sentíamos do que a "literalidade" vulgar dos meus enquadramentos.
Sem negar a foto de registros evidentes, mas, antes, se somando a eles, a percepção destes detalhes e de suas significâncias, é justamente do que falo.
abração