Você está absolutamente correto. Com os elementos que tinha à sua disposição fez a leitura correta. Um pouco dura demais, mas não posso negar que está correta.
Relutei em postar, pois mesmo sem o Título, poderiam parecer, as próprias fotos, sensacionalistas.
Mas postei. Talvez tenha errado ao não inserir o contexto em que foram realizadas, por absoluta falta de Tempo.
Esta Comunidade fica localizada às margens de uma Rodovia Federal, bem distante do Centro de Goiânia, mas já é bem povoada e possui as benfeitorias básicas como asfalto parcial, água encanada e iluminação pública. Não há coleta de esgoto e ao final desta rua, onde fiz as fotos, existe um antigo Lixão desativado. O local é ponto de uso de drogas, principalmente Crack.
Faço parte de um Grupo Espírita que lhes auxilia, na medida do possível, com alimentos, roupas etc...
Neste dia fui ao local para entregar uma certa quantia em dinheiro, para ajudar na conclusão da reforma de uma casa.
A casa em questão, pertence a Mãe das crianças que aparecem na foto 03. São ao todo 4 filhas ainda novas e 1 rapaz de 19 anos. A menina que está na cadeira de rodas se chama Cárita, 15 anos, e, com sua situação, é responsável, através da pensão que recebe, pelo sustento da casa junto com o Bolsa Família.
A menina da foto 10, se chama Franciele e, neste dia, estava muito aborrecida, pois o irmão mais velho, usuário de crack, havia lhe roubado uns trocados que estava juntando para a compra de um celular usado. Por falar em celular, o rapaz roubou também o celular da própria Mãe antes de fugir mais uma vez.
As fotos são super recentes, foram feitas na terça-feira passada e a meninada estava sem aula por causa de mais uma Greve dos professores. Os pais saem para trabalhar e eles ficam na rua o dia todo, pedindo trocados, revirando os restos do antigo lixão e brincando como podem. Não há adolecentes e jovens na rua, a maioria é usuário de crack ou está preso. A rua fica para as crianças e alguns poucos idosos.
Então, finalizando, realmente acho que errei ao postar estas fotos. Realmente são sensacionalistas. Contextualizando ficam mais ainda.
Deveria ficar calado e achar que está tudo bem. Tudo Normal.
Mas postei, com um título assim: Infância Perdida? e finalizei com frase: Apesar de tudo..... que alegria contagiante tem essa criançada!
Tirem suas próprias conclusões
Alex, tive o mesmo incômodo que o Spiderman. Perdida por que? Por serem pobres? E, a rigor, com o que você explicou, o problema não é a pobreza, mas o abandono. E digo abandono em termos de direitos. O que parece mais faltar são direitos constitucionalmente previstos.
Sua resposta contextualizou e, em grande parte, explica seu título. Ainda assim, incomoda certa homogenização. Se o irmão de Franciele vai pro crack, ela resiste. A infância, ao menos a sua, não está perdida.
Na própria renitência da alegria das crianças que você fotografa pode-se entender um fator de resistência. Uma resistência transformadora, aliás. Não estou tentando pintar de rosa um quadro dramático, mas apenas sugerindo que você fotografa um jogo que está em curso, então, não está perdido.
As fotos são lindas, aliás, como todas as suas. Não vejo absolutamente nada de sensacionalismo. Vejo, antes, a denúncia e a crueza de mostrar uma situação que há muitos convém não olhar.
Apenas não jogaria sobre essas crianças -- que resistem, em sua alegria e em seu olhar -- o peso determinista de estarem, já, perdidas. O fato de entendermos como "perdido", nos leva a aceitação e imobilidade frente à situação. Aliás, o que parece ser o contrário da sua atitude no caso.
Parabéns pelas fotos e, sobretudo, pelo engajamento na questão.
E um abraço.