Como o André, eu também acho que você está concordando comigo sem perceber... rs.
Rodrigo,
Não é porque vc escreveu um texto em cima do muro, cheio de vai e vem, que ele vai abarcar tudo o que for dito depois dele. Não vamos nos fazer de malucos, que fica feio pra todo mundo que tá lendo, e mais feio ainda pros que estão entendendo. O fato do "ponto" do texto estar flutuante ao invés de estar claramente demarcado como deve ser é um problema do texto, não do entendimento que eu fiz dele... rs. (tb sei rir)
Independente disso, o seu texto (aliás, os seus textos) tem um viés absolutamente claro: A técnica, ou a falta dela, NÃO É UM FATOR NECESSARIAMENTE PREPONDERANTE na construção de uma poética fotográfica própria.
(Poética aqui no sentido de um arcabouço de idéias, recursos, temas, linguagem, no sentido de fazer daquele artista uma personalidade de relevo, de modo que vc olhe a obra e consiga perceber esses atributos.)
É disso que eu discordo. Está bem claro. A partir de agora, colocado dessa forma, se vc não entendeu eu não sei mais por onde te ajudar, ok?
Na verdade eu tenho certeza que vc me entendeu. Vc é um cara que entende coisas muito mais complicadas do que as coisas que eu escrevo. ;D
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*Sobre Criatividade
Vcs me desculpem, mas achar que as idéias "nascem" assim do nada é a mais pura ignorância epistemológica, não tem como colocar isso de outro jeito. É o carro na frente dos bois.
Vejam bem, vou explicar de novo: Como é que vc vai procurar um negócio que vc nem sabe que existe?
Porque é isso: achar que vai fazer sem técnica é sair de casa pra procurar algo, sem saber o que é esse algo.
Um exemplo fácil pra gente entender isso é pegar uma foto de um grande que a gente goste muito, e que a gente já conheça há muito tempo. Por exemplo: Eu gosto do Avedon, sempre gostei, desde antes de fotografar. Mas quanto mais técnica eu tenho, mais coisa eu vejo nas fotografias dele, e mais qualificada fica a minha percepção a respeito daquele material. Se antes eu conseguia perceber "X" em determinada foto, hj eu consigo perceber "X, Y e Z". Ter muita ou pouca técnica à disposição MUDA SIM A PERCEPÇÃO DAS COISAS.
E é aí que está o pulo do gato.
Veja, nenhuma idéia é "nova", "nasce" assim do nada. "Idéias novas" nada mais são do que realocações de percepções anteriores.
Ninguém nasce sabendo. O movimento original do "fazer arte" vem de fora pra dentro. O que é de dentro pra fora é a realocação das percepções num novo conjunto, que se chama "idéia". Mas isso é posterior, não é aí que começa o fazer artístico. Prova disso é que se vc for olhar a biografia dos grandes artistas vc vai ver que é muito comum que com o tempo e o aprofundamento no trabalho esses artistas acabem cada vais mais isolados, inacessíveis, exageradamente criteriosos com quem e o quê pode se aproximar deles. Isso é porque eles sabem que o "fazer arte" começa no sentir o mundo, e se vc quer dar uma cara ao seu trabalho, vc tem que editar o seu mundo pra ele ter a cara que vc quer que o trabalho tenha. Artista sabe que pra ser artista tem que ficar ligado 24hs, não dá pra prestar atenção na vida só de oito da manhã até cinco da tarde. TUDO o que vc vive vai pro trabalho. Mas isso é outro papo.
Eu estava dizendo que idéias novas nada mais são do que realocações de percepções anteriores.
Veja: esse conjunto (idéia) não tem nada de inédito. As percepções são SEMPRE anteriores, e referentes a externalidades. Vc NÃO pode imaginar (de maneira sólida, objetiva, capaz de orientar um fazer) algo que vc nunca viu, nunca sentiu, nunca experimentou. O que vc pode é realocar as percepções QUE VC TEVE, COISAS QUE VC VIU, SENTIU, EXPERIMENTOU DE FATO, pra aí sim, conjecturar outros arranjos, outras "idéias". Mas essas idéias são meramente novos arranjos a partir de velhas experiências.
Tanto é assim que a palavra "original" não se refere a algo novo, inédito, mas muito pelo contrário, essa palavra se refere à "origem". A força, o impacto de obras "originais" está muito mais relacionado à visceralidade do que ao ineditismo. As pessoas confundem "original" com "inédito" simplesmente porque o mundo é mediocre e poucas são as coisas verdadeiramente sinceras com as quais a gente cruza no dia a dia.
O artista é como uma esponja: Ele absorve, transforma e expele. O gargalo sempre vai estar em algum lugar, seja na absorção (o artista não consegue editar a própria vida a fim de reunir as condições necessárias a uma expressão particular, nobre e valorosa), seja na transformação (o artista não é talentoso, não tem referências internas, não tem material humano relevante), seja na hora de expelir (o artista não tem técnica o suficiente pra concretizar a idéia).
É tarefa do artista estar sempre de olho pra ver onde está o seu gargalo, e trabalhar em cima dele pra fazer o ciclo fluir. Quando a gente resolve um gargalo, surge outro em outro lugar, e assim vai o desenvolvimento do artista.
NA MINHA OPINIÃO o start do ciclo está no gargalo técnico. É a partir da técnica de reserva, a técnica que "sobra", que se tem espaço pra resolver outras questões mais conceituais ou até mesmo formais da obra.
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Rodrigo, eu acho que vc devia dar uma chance ao Círculo de Viena na sua vida, principalmente ao Karl Popper, tenho certeza de que vc vai gostar.
Se não gostar, pelo menos vai conhecer o inimigo

, porque é um jeito de pensar que vai numa direção absolutamente contrária a sua.
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Segundo o seu raciocínio, se eu tenho uma idéia, uma proposta, uma visão, um sentimento e não conheço a técnica para executá-la eu não sou criativo.
Exatamente, vc não é criativo. Criativo é quem consegue colocar pra fora. Ser criativo só do lado de dentro só serve pra se sentir incompreendido. O Fernando Pessoa está falando exatamente sobre isso aí em cima.
E seu eu ainda não sabendo como executa-la contrato uma pessoa que conheçe a técnica para realizar minha idéia. Eu sou apenas um visionário sem o mínimo de criatividade?
E contratar uma pessoa não é um jeito de executar? Se o trabalho do cara exige recursos humanos, não tem porque ele diferenciar isso de um pote de tinta. Vai lá e compra.
André, vc está confundindo o trabalho intelectual com o braçal. Mais especificamente, vc caiu numa confusão clássica de todo mundo que não entende de arte, que é confundir arte com artesanato. Os valores são outros, muito diferentes.
Em arte já está mais do que estabelecido (há séculos, isso mesmo, centenas de anos) que o artista não é quem pôs a mão, mas quem teve a idéia.
Quando vc olha um prédio e acha bacana, vc dá o crédito pro pedreiro? O crédito é do arquiteto.
Aliás, no paradigma contemporâneo, é muito comum vc contratar alguém pra executar parte ou até mesmo todo o trabalho. Vc já teve oportunidade de trabalhar assim, André? Com alguém fazendo pra vc?
O dia que vc tiver a oportunidade, vc vai ver que na primeira conversa com o "peão" que vai fazer o trabalho, ele vai te apresentar uma cacetada de questões específicas da técnica, dos materiais, possibilidades e problemas que vc sequer imaginava e que vão permear e modificar todo o trabalho, que aliás só poderá ser chamado de "trabalho" a partir do momento que vc dominar e interiorizar pro trabalho essas novas questões que o técnico vai colocar pra vc.
Vou dar um exemplo bem real e rasteiro: Antes da fotografia eu trabalhava em design, era sócio de um escritório. Pois bem, eu nuca gostei de programação, web, flash, então tinha um cara lá que entendia disso e era ele quem desenhava essas coisas de web e a gente mandava pra programadora. Como em escritórios pequenos o grosso do trabalho é web, virava e mexia sobrava um site pra mim. No começo, eu me lembro que eu saía da reunião com a programadora sempre desolado

, de tanta coisa que ía ter que mudar pro projeto funcionar, entre coisas que eu achava que dava mas não dava pra fazer dentro da estrutura que eu queria, e sugestões que ela dava...
Com o tempo isso foi diminuindo, eu fui entendo os limites e possibilidades, e cada vez mais saía tudo redondinho de primeira.
Mandar fazer tb requer muita técnica, e pode ter vários motivos. O principal deles é estrutura. Certas empreitadas artísticas são tão grandiosas que é mais necessário "personalizar" a gestão da empreitada do que o "fazer" propriamente dito. Outro motivo comum é o tempo: Não é raro alguém que pinta precisar fazer uma escultura (por exemplo) pra relacionar com um trabalho de pintura anterior e seguir em frente com a sua linha de raciocínio. Nesses casos, parar pra aprender uma técnica nova pode fazer o artista perder o fio da meada.
Mas ninguém simplesmente "não sabe" executar algo. Não sabe, aprende.