Depende muito, talvez para fazer juízo de valor sobre uma pessoa, é necessário pelo menos uma tentativa real de compreendê-la. Acusar Sebastião Salgado de greenwashing para desqualificar seu trabalho é muito pequeno, é ignorar todo seu trabalho como fotojornalista em coberturas de áreas de conflito, o trabalho que fez na america latina enquanto estava exilado, e sua responsabilidade como artista. Ele nunca escondeu sua influência barroca, e a busca de beleza em suas composições e iluminação, e sempre mostrou uma postura muito responsável em relação a proposta dos seus projetos pessoais.
Depende muito porque não consigo, por exemplo, desvincular o trabalho do Bruce Gilden do próprio Bruce Gilden. As fotos não são muito do meu gosto, mas esteticamente são interessantes; porém Bruce Gilden tem uma postura que definitivamente não me agrada. Alguns podem chamá-lo de anarquista, mas eu o acho apenas desrespeitoso. William Klein, por exemplo, explora sua estética de maneira muito mais subversiva e deliberada do que simplesmente sair fotografando de maneira irresponsável e infantil.
acho que tudo depende de quem são os nossos mitos, no sentido que Josef Campbell usava, ou seja como um modelo referencial de comportamento social, ou seja, vc tem uma pessoa, objeto, história ou lenda que servem para atribuir valor há alguma coisa, positivamente ou negativamente
ex: a pessoa por quem vc admira faz algo de ruim, e por causa dessa empatia vc tende a encontrar alguma desculpa,
como tbm uma pessoa de quem vc não gosta faz a mesma ação, e vc tende a condena-la.
é preciso fazer uma separação entre o "ser" e o "fazer"
da mesma maneira que o autor e a obra
o gosto pessoal não entra como critério de julgamento numa análise crítica,
outro ex:
o pintor Gauguin, que no Taiti tinha concubinas de 13 e 14, ele literalmente comprava as crianças de famílias pobres,
tbm tinha sífilis e não se importava em sair espalhando a doença pela ilha....
para mim como pessoa ele devia ser desprezível, mas isso não desqualifica a sua pintura e a importância que teve na história da arte.
agora como um fotografo consegue as suas imagens?
se for de maneira provocativa como o Bruce Gilden ai entra no campo da ética....
No final, o que mais concordo na citação do Antônio Cândido foi "O importante é: quais são os elementos da realidade social que se transformaram em estrutura estética.", pois de certa forma isso resume um pouco esse discurso sobre estetização da tragédia. Gilles Peress e Sebastião Salgado, ambos, nesse sentido, transformaram o sofrimento em uma estrutura estética, não?
sim,
como tbm tem fotógrafos e pintores que transformam alegria em estrutura estética
e onde estaria o Blues, sem a dor, sofrimento e mágoa?
eu não vejo ninguém reclamando quando determinadas artes transformam esses sentimentos em estrutura estética,
acho que isso acontece quando os gostos pessoais falam mais alto que a análise crítica.