Croix, sobre seus comentários eu diria que a palavra espiritual em se tratando da essência faz muito sentido para mim.
Quanto a "realidade vs impressões da realidade" remete a Caverna de Platão e me fez pensar sobre o que o Carlos Moreira fala sobre Don Quixote ser um ancestral do fotográfo, pois, se o mesmo tivesse uma câmera fotográfica, ele iria fotografar o moinho como sê este fosse um gigante, a imagem iria mostrar um moinho mais com o espirito ou essência do gigante. Ele completa dizendo que a fotografia é uma imaginação/abstração não desvairada, mas que deriva do real.
Eu adoro fotografia de rua e quero expressar algo que realmente exprima a essência desta realidade que só eu enxergo, porém, esbarro em 2 pontos: a fotografia tem que ser tecnicamente boa e que me satisfaça como fotografo e seja agradável ao espectador, com força e mova ele através da sutileza e ou que peça uma segunda olhada. Meu grande problema é não saber o que quero mostrar e ou não enxergar e ou não saber exprimir isto de forma composicionalmente agradavel.
“Para mim, a fotografia é uma arte de observação. É sobre encontrar algo interessante em um lugar comum… Eu acho que isso tem pouco a ver com as coisas que você vê e tudo a ver com a maneira como você as vê” – Elliott Erwitt
Concordo com a fotografia de publicidade mais ela entrega a sua proposta e a habilidade técnica extrema realmente poderá barrar a criatividade?
Vangelismm, o contexto o sequenciamento das fotografias me deu uma nova perspectiva sobre a obra. Não que não ouvesse gostado, porém, careciam desta carga adcional. Passei a ser um fã, passando a entender e gostar de todo o livro "The Americans".
Entendo que Robert Frank mostrou em sua obra uma impressão da realidade e captou a essência do povo americano nos anos 50.
Don Quixote de fato eh uma historia sobre o cavaleiros representando a mentalidade retrograda da corte espanhola, pensando que ainda esta na idade media (vendo dragoes onde nao ha) e nao percebendo a realidade do mundo que esta mudando em sua frente (moinhos de vento na paisagem).
Eu gosto de encarar minha atividade com fotografia como um dialogo, mas nao um dialogo entre eu e o expectador ou um dialogo entre o expectador e a foto. O expectador da foto para mim nao existe na hora de fazer a foto. O dialogo eh entre eu e aquilo que fotografo e nada mais axiste alem de "nos dois". E chamo de dialogo pq nao eh um monologo daquilo fotografado, onde apenas a coisa se apresenta e eu apenas clico (
"isso eh o que eu vi" - passivo), assim como nao eh um monologo meu no sentido do
"isso eh o que eu quis mostrar". Eh um dialogo pq eu nao estou atras de nada tentando mostrar nada, estou apenas observando, sem expectativa de criar algo ou obter algo. Aquilo que eu fotografo quando me chama a atencao eu vejo como
"se apresentando" (me chamando), minha observacao eu chamo de
"ouvindo com os olhos o que aquilo tem a dizer", o meu movimento para "apreciar" o que eu vejo em diferente perspectiva, angulo, distancia, composicao e relacao com o que esta em volta, eh a
minha resposta ou reacao aquilo que a coisa me diz, os diferentes angulos sao perguntas e respostas de diferentes maneiras. Em resumo, eh um dialogo visual que acontece so ali na hora quando esta apreciando a coisa. Quando se pre formula uma criacao para depois apenas executar a realizacao, nao existe tal dialogo, nao existe tal apreciacao, passa a ser um monologo disconecto da coisa, a
foto pode ater ter uma intencional mensagem, mas nao tem voz (magica) sendo apenas um monologo, a foto eh entao apenas o registro da aparencia e a voz que falta seria a realidade por tras das aparencias.
E obviamente, para se "ouvir" o que aquilo que chama atencao, o monologo interno tem que ser interrompido (parar de ouvir a si mesmo). Eh aquilo que sentimos quando estamos compenetrados e hipinotizados em algo que simplesmente nao ficamos prestando atencao em palavras e frases em nossa cabeca, simplesmente com a mente quieta executamos a coisa. Por isso nada de pensamentos como
"Que belo", "que interessante", "sera que fica bom assim", "deixa eu ver como fica se eu tentar assim e assado". Vc nao precisa saber como faz, nao precisa saber como fazer o expectador olhar e sentir sua foto, vc nao precisa ficar te dizendo o que vai fazer e o que esta achando. Vc precisa apenas ouvir e confiar naquolo que ve esta te dizendo (sentir). E apenas observando (ouvindo a coisa comunicar com vc) a coisa te instrui naquilo que ela comunica. E o resultado entao eh um dialogo silencioso que a maioria das pessoas nao vao ouvir ao olhar para a sua foto, por isso nao precisa se preocupar com elas, a sua atencao deve ser apenas com aquilo com o que vc tem seu dialogo.
Eh assim com pintura, com desenhos e ate escrita que expressa palavras. Escritores em geral nao ficam parando para pensar em cada frase que vao escrever ou formulando tudo antes de escrever. Eles simplesmente escrever sem sem pensar, sem se preocupar em formular muito, expressam o que vem ali na hora, e depois que colocou a livre expressao no papel que trabalha os detalhes.
Essa questao do
"saber como fazer", "saber o que mostrar", "querer x de reacao do expectador", penso que sao costumes e aproximacao do mundo comercial, em que vc tem que vender, dar prova de sua habilidade, e ter a garantia de uma reacao positiva do cliente. Sao caracteristicas que fazemos para criar produtos, comercializacao e nao arte.
Claro que saber manipular ferramentas, ter conhecimento de tecnicas e desejar que as pessoas gostem do que vc faz sao coisas positivas e que nos inspiram e contribuem. Mas arte mesmo eh algo expontaneo (uma revelacao), o planejamento eh apenas referencia para nos ajudar a colocar a mao na massa ou usar como inspiracao, mas apos a roda ter comecado a andar todo esse motor eh apenas para manter o ritimo, a coisa mesmo vem eh no embalo.
Muito provavelmente, quando Robert Frank comecou a fazer tais fotos, ou quando terminou, ou em ambos os cados, ele nao tinha nada intencional do que eh descrito e mostrado no livro, a coisa simplesmente veio, apareceu.
Penso que essa eh uma das grandes diferencas. No mundo dos produtos, da apreciacao material, do comercial, a criacao vem antes da execucao e a execucao eh apenas uma realizacao que deve ser o mais fiel possivel a criacao. No mundo das arte as criacao surge durante a execucao, ou melhor dizendo, a execucao eh o que faz a criacao, a arte entao na verdade eh a execucao. O antes eh apenas inspiracao. No mundo comercial ou das aparencias, a "arte" eh o produto final (a aparencia).