Eu nunca vi a fotografia sendo isso que o Wim Wenders colocou. A fotografia nunca foi algo sagrado; desde o início ela sempre foi o produto de uma máquina (mais ou menos automatizada) e sempre motivada pelo capitalismo.
Essa parte sobre a fotografia ser um resultado do capitalismo corporativista é algo que a própria Susan Sontag disse, só que com um viés muito mais negativo. Volta lá nos anos 50, 60 ou 70, muito antes da fotografia digital e internet. A maioria esmagadora das pessoas que tiravam fotos eram turistas, pessoas tirando fotos da família. E essas fotos existiam, indiretamente, por conta das empresas que vendiam câmeras e filmes querendo lucrar em cima do ato de produzir fotos em massa.
Não existia internet, mas existia revista e jornal, onde boa parte das fotografias estavam presentes em anúncios publicitários. Existiam imagens presentes em outdoors, em posteres, em cartazes, nas embalagens dos produtos no supermercado. Ninguém olhando essas imagens olhava para elas de forma profunda, assim como ninguém olha hoje para os montes de fotos na internet da mesma maneira.
A fotografia sempre foi vulgarizada. A internet e a fotografia digital exacerbaram essa vulgarização? Sim, mas ela não inventaram essas tendências, elas sempre existiram. Só um pequeno grupo de pessoas faz fotografias com significado (e as consome da mesma forma). Sempre foi assim no passado e é assim hoje: uma pequena parte produzindo e consumindo fotografia com significado; a vasta maioria sempre produz e ainda hoje produz fotografia descartável.
O lance é que o tempo passa, e nós olhamos para as décadas passadas e só lembramos das fotos memoráveis. Isso cria uma distorção da história da fotografia e do momento atual.
A respeito do que vc diz, sobre o que a fotografia sempre foi uma criacao "mecanica" na era moderna, e tambem da questao da fotografia com fim artistico vs outros fins, eu concordo plenamente. Mas essas nao sao as questao que Wenders se refere e que eu trato aqui no topico.
Na materia no link vc vai ler que Wenders nunca se se intitulou como fotografo e mesmo jamais pensou a respeito de tal titulo, ele era cinematografo. Tudo que ele fazia em se tratando de fotografia era snapshots atoas de seus passeios e dia a dia com uma polaroid, sem qualquer pretencao artistica, conceptual, historica, documental, jornalistica, cultural ou o que for. Logo, ele nao se refere a essa questao de foto artistica vc o resto. Ele nao se refere a fotografia como ferrameta tal como vc trata.
Ele fala do impulso que leva as pessoas a fotografarem, o olhar que as pessoas tem sobre a foto e consequentemente a relacao das pessoas com a fotografia. E muito lucidamente ele enxerga que essas relacoes que criavam fotografias antes ja nao existem mais hoje, e por isso o que eh feito hoje eh aögo completamente diferente.
O sagrado que ele se refere nao eh sobre o status da fotografia como valor de importancia social, artistica, etc, mas sim a relacao individual que havia na fotografia no passado. Hoje essa relacao individual nao existe, ela eh social e mais do que frequente virtual.
Isso nao eh um fenomeno unico da fotografia. A maneira que as pessoas viam, se relacionavam, e criavam pinturas e esculturas no passado eh completamente diferente da de hoje e nao existe mais hoje. A maneira que vemos aspinturas medievais e renascentistas hoje eh unica de nosso tempo, vemos de forma que nunca foi visto em suas epocas. E essa mudanca em especto as pinturas surgiu primeiro com museus e depois com a impressora ou maquinas de reproducao de imagens, fazendo com que pinturas que antes eram parte incintrica a o local em que ela se encontrava, tal como os pilares, lustres e paredes de uma casa, passou a ser apenas imagens avulsas com relacao somente a uma epoca e estilo. E principalmente pq antes para ver uma pintura vc tinha que ir ate a casa dela, e depois vc apenas ia ate o museus e tudo estava la, e mais tarde as pinturas eh que vinham ate a vc, pelos livros, depois publicidade e mais trade as telas.
Pense quantas pessoas continuariam fotografando caso elas nao tivessem como colocar a imagem online, receber comentarios, contabilizar numero de vizualizacoes e likes. E quantos fotografos hoje pegam uma foto e simplesmente ficam olhando fixamente para ela, nao pq ela eh arte, especial ou tem alguma mensagem, mas simplesmente pq quando fotogrando nao estava vizualizando na mente a impressao que ela faria as pessoas que a vissem, a impressao que ele passaria de si mesmo as pessoas com a imagem que ele fotografou, mas sim isolado no ato de simplesmente na experiencia da manipulacao da ferramenta e na apreciacao da propria imagem, e que agora esta la jogada em uma gaveta atoa, um mero snapshot mas que te faz apreciar como uma unicacidade nela mesma, e nao como uma experiencia social, ou vizualizacao social, ou reacao social.
Em outras palavras, hoje temos uma linguagem e consequentemente expressao de mundo diferente da epoca pre-90's. Ou podemos resumur, do seculo 20. E isso nao se percebe apenas na fotografia mas tambem no cinema, na musica, literatura, politica, entretenimento, educacao, etc.