Paola - gestante by
Alexandre Périgo, no Flickr
Quando da gestação de nosso filho, minha esposa e eu resolvemos realizar um ensaio de gestante que fugiu dos clichês habituais desse mercado, sem guirlandas, sorrisos, contraluz e roupinhas de bebê. O trabalho se dividiu em duas partes, a primeira realizada em um galpão fabril e a segunda nas ruas de BH.
A foto dessa postagem foi da primeira parte, onde Paola aparece num galpão carregando com carrinho hidráulico um par de sapatinhos de bebê, numa metáfora sobre o peso - ainda que composto de amor - da responsabilidade que é criar um filho, geralmente atribuído quase que totalmente às mães.
Na mesma diagonal da linha da vida, de seus braços e do braço do carrinho aparece muito discretamente no alto o livro "a origem das especies de Darwin" que reflete nossa visão dialética-materialista da maternidade.
A futura mamãe também se dirige na direção da luz (havia uma porta por onde entrava boa parte da luz da foto), que é para onde inexoravelmente caminham as gestantes de quase 9 meses.
E está nua, mas não completamente porque de botas, o que também metaforicamente ironiza o hipócrita e rançoso pudor à nudez da gestante feminina em geral sacralizada - ou fetichizada.
Ainda que haja grande profundidade de campo, o foco da imagem está na parede ao fundo, representando a aridez da caminhada da gestante.
Quanto as cores, as saquei porque a gestação não é uma fase colorida para as mulheres, apesar da visão masculina - e por vezes machista - pregar o oposto; trata-se de um momento complicado da vida da mulher, com dificuldades para andar, enjoos seguidos, alterações hormonais, acompanhamento médico e ansiedade - tanto em relação ao parto quanto à saúde do filho.