Eu me considero uma feminista. Não sou estudiosa do assunto, mas sei que dentro do movimento feminista existem diversas correntes. E existe sim uma parte que tem um discurso mais radical. Parte essa que não pode ser usada para generalizar e caracterizar todo o movimento feminista. É um movimento, formado por diversas pluralidades, e que por isso terá diversos espectros.
Confesso que lendo a matéria e também a nota aberta divulgada pelos coletivos, não consegui ter uma visão tão clara sobre esse embate. Isso porque parece que tudo começou com a foto publicada pelo Kazuo Okubo para atrair voluntárias para o projeto. Eu gostaria de saber se ele já chegou a fazer algumas fotos desse projeto e se elas já foram divulgadas. Porque na nota do coletivo elas dizem que esse projeto está em execução há dez anos. Se for isso mesmo, então talvez tenha algo a mais por trás da história. Até porque na nota elas dão a entender que em suas rodas de conversa elas já demonstravam desconforto com o projeto. Enfim...Não sei. Gostaria de saber mais sobre isso.
No final, elas escrevem "Com esta NOTA esperamos uma reflexão e revisão nas estratégias de apresentação e execução do projeto". Não pareceu então uma tentativa de censura ao projeto (o que eu consideraria errado), mas sim uma tentativa de provocar reflexão no fotógrafo.
Conheço um pouco o trabalho do Kazuo Okubo e gosto muito de suas imagens. Nunca considerei que suas fotos de nu feminino tratassem o corpo feminino como objeto. Até porque ele também faz nus masculinos e, das fotos que já vi dele, eu acho que ele usa a mesma linguagem no nu feminino e no masculino.
Acho que o título do projeto "Inventário" realmente foi infeliz. E a matéria afirma que ele próprio reconhece que cometeu uma "sucessão de pequenos erros". Esse é um aspecto importante, porque me parece indicar que ele fez uma reflexão sobre seu projeto, que era o objetivo da nota lançada pelos coletivos.
Gostaria de saber se os coletivos tiveram acesso a alguma fotografia feita para este projeto. Se elas não tiveram acesso, então me parece que alguns posicionamentos e conclusões são precipitados. Não há como ter opinião sobre uma imagem, sem vê-la. Eu não pensaria em fazer uma série sobre o órgão sexual feminino, mas eu acho que é possível sim fazer esse projeto de uma forma sensível, sem colocar o corpo feminino como objeto e abarcando diversas visões sobre o que é o feminino. A questão pra mim é: eu só posso refletir e avaliar as fotos dele, quando finalmente vê-las.