Bem galera, legal que uma discussão dessa está pegando, acho ela essencial em qualquer momento, mas principalmente agora em que vivemos esse momento de rápida e radical transformação no processo fotográfico.
primeiro lugar discordo muito da posição de olhar para toda essa tentativa de refletir sobre a mudança no processo fotográfico como que desdenhando-a, deixando-a de lado em prol de um essencialismo da fotografia que nunca se alterará. Ao meu ver, qualquer produção artística (ou não) é mediada e em grande parte determinada por seu suporte técnico.
A fotografia progrediu muito, assim como sua linguagem, tudo isso sempre junto com as renovações tecnológicas (assim como a invenção da própria foto!). Mas é com isso que temos que ter cuidado: isso nao acontece simplesmente por acaso, mas seguindo a mesma lógica que rege outros aspectos do mesmo contexto. vamos ver se explico melhor: a própria invenção da fotografia aconteceu em um contexto em que se procurava, através de calculos, regras e tecnicas (da razão, pode-se dizer) apróximar-se cada vez mais da realidade. (todos sabem aquela história da caixa escura e etc..). Desde então ela segue as regras da modernidade: acelerar o processo, diminuir os custos, otimizar e massificar.
Nesse ponto, a fotografia diginal é apenas a consequencia contemporânea de todo esse processo moderno, portanto nenhum bicho de 7 cabeças, nenhuma anti-arte ou arte aprimorada. Sua característica principal: acelerar o processo e baratear os custos. Mas e a manipulação?? bom, já existe desde que inventaram o primeiro ampliador.. Rodtchenko já tirava políticos indesejados das fotos que seria divulgada nas mídias russas em 1920. Vcs sabiam que existem filtros óticos para reduzir rugas em retratos?? pois é, nada de novo com o PS. O preview também já existia, só que era necessário ir a um laboratório ou apelar para uma polaroid. Agora, em algum milesegundos, descemos nosso olho às telinhas atrás das cameras e temos uma idéia do que ela será.
Bom, isso por um lado.
Por outro, temos um quadro bem diferente: não temos mais uma photo graphia (escrita com a luz). Não há suporte físico algum que comprove que alguma luz proveniente da realidade impregnou nosso CCD, como tínhamos com o negativo. Dá pra brincar que temos uma pixel graphia hehehehehe
Bom, isso segue um outro processo mais recente que vivemos: a imaterialização. Bom, daí já entra em outros papos de pós-modernidade e o sei-la-o-quê-à-quatro que poderíamos discutir aqui se quiserem.
mas quais as consequencias disso na fotografia?? bom, primeiro: o volume de imagens aumenta estrondosamente. Segundo: o fluxo. Terceiro: não há mais autor para os nossos cliques. Como assim?? é, a foto, aquela que sai de nossos brinquedos digitais, agora, é mais do que nunca um produto bruto: Se antes o fotografo de publicidade recebesse um pedido de fazer uma foto em uma praia com 5 coqueiros iguais e uma modelo x, ele teria que achar uma tal praia, levar a modelo, equipamento e blah blah, e fazer a tal da foto. Hoje o publicitário (veja bem, nada de fotógrafo aqui) apenas compra os coqueiros num canto da internet, a praia em outro e a modelo em mais um e junta tudo como quiser. O fotógrafo, aquele que dá os clicks, virou um fornecedor de matéria prima, enquanto antes ele era quase um artesão, que cuidava do processo e entregava o material quase todo pronto.
tirar 300 fotos e ter uma ou duas boas não é um feito apenas do fotografo amador, aquele que juntou uns trocos pra comprar sua digital e agora rouba o lugar do profissional nos casamentos da tia, primo e familiares afins. Mas é algo inerente a fotografia digital. Me diz se faz sentido o romantismo lindo e maravilhoso do Cartier Bresson do momento decisivo, da hora em que a foto se faz diante de seus olhos e blahblah hoje em dia em que pode-se "ter" "todos os momentos"? se pra ele fotografar era como um tiro (aquele que une mente, olho e coração em uma reta...), ou mesmo se era como "bater carteiras" como ele mesmo disse, hoje, a foto digital é como uma metralhadora ou um arrastão! hehehe (Acredite, existe um celular com camera aonde vc menos espera, e hoje eles já existem até com 10 mp)
Você não vai esperar aquele fulano que está andando no fundo de seu quadro chegar no "ponto ouro" para fazer a foto, você vai tiarar umas 10 fotos dele percorrendo todo o seu quadro, e DEPOIS ESCOLHERÀ a que melhor representar a sua vontade expressiva. Ou seja, o trabalho, ao meu ver, mais importante do fotógrafo hoje é o da pós produção! É lá que ele vai compor uma narrativa, escolher os seus "momentos decisivos" (!!rsrsrs!). só que isso acontece junto a ferramentas de edição poderosas, em que ele poderá mesclar uma foto em outra, controlar as cores, o contraste, a luminosidade (os pixels!!) e tudo o mais que se possa imaginar a fim de chegar a essa imagem que ele pretendia no início do processo.
Por isso acho muito importante refletir sobre tudo isso pois esse processo técnico tem grande impacto sobre nossa arte. Assim não cairemos na pequenês de tentar fazer a digital se parecer o máximo possível com o analógico em um saudosismo descabido e poderemos explorar uma linguagem que é própria desse novo suporte técnico que é o aparato digital que não envolve apenas a camera, mas também o armazenamento, tratamento e divulgação (impressa, on-line ou como for) que são próprias desse processo radicalmente novo que vive a fotografia.
bom, desculpa ser tão longo, mas é um tema intrigante para mim e teria ainda um bocado mais de coisas para dizer hehehehe
:heat:
Abs
Marcos Moura
:thmbup: