Bem, esse papo aqui tá cabeça demais...
Mas, apesar da vontade de enveredar pela parte filosófica, vou dar uma singela opinião mais restrita ao âmbito do título do tópico, por si só já bastante complexo.
A meu ver, a fotografia é uma arte, e não substitui nem complementa qualquer outra forma de manifestação artística. Ela apenas é, primordialmente, mais um "suporte" a atender a nescessidade humana de perpetuação, através de um registro perene, dos aspectos cotidianos, com base em uma idéia. A pintura possui a mesma característica inicial, e a transição do simples registro para a considerada manifestação artística consumiu vários séculos. Uma pintura rupestre, por exemplo, não foi feita como manifestação de arte, é apenas um registro baseado em uma idéia, e não deixa de sê-lo mesmo que reproduzida em uma tela e pendurada na parede de um palácio, pois a motivação da concepção não mudou. O aprimoramento das técnicas e materiais com que os registros eram feitos permitiu a evolução para a arte, incorporando (e não substituindo) à finalidade do registro a conotação "artística". Esse não foi um processo abrupto, e sim paulatino, e podemos comprovar isso comparando as pinturas feitas até o final da Idade Média com as feitas a partir da Renascença (para citar apenas uma das muitas transições). A fotografia trilhou o mesmo caminho, só que bem mais rápido. Enquanto os meios para se obter uma foto eram precários, não passava de um registro. Apenas com a evolução dos equipamentos, e também com o apuro da técnica, pôde ser aproveitada como manifestação de arte, permitindo, assim, o uso de idéias "artísticas" em sua concepção.
Dito isso tudo, chego onde queria chegar: para mim, a fotografia é mais um suporte para um registro, que pode simplesmente restringir-se à essa condição ou, dependendo da idéia, tornar-se manifestação de arte. Por ser extremamente subjetiva, essa manifestação poderia ser entendida até mesmo como oriunda da apurada habilidade técnica ou de conhecimento e manuseio correto de um equipamento (como é o dos pincéis, no caso da pintura). Técnica e manuseio são tangíveis, pode-se aprendê-los em escolas; porém, a sensibilidade e o olhar apurado, capazes de transformar o registro de uma idéia em arte, nem sempre.
Eu vejo centenas de fotos por dia, e a grande maioria são, para mim, registros. As que eu considero como manifestação de arte quase sempre também transmitem uma idéia. E isso, no meu entender, não implica nenhum demérito às fotografias que não são "arte" (nessa concepção), pois basta que ela seja bonita ou bem feita, ou as duas coisas, para me agradar, tanto quanto me agrada uma bela obra de pintura, mesmo quando sendo apenas um registro. Sendo assim, na minha opinião, ver uma bela foto ou o registro apurado de um fato não traz junto, obrigatoriamente, a necessidade de se encontrar uma idéia escondida na intenção do fotógrafo. Mesmo porque uma mesma foto pode conter, para uma determinada pessoa, uma mensagem, uma idéia, e para outra não.
Quanto à contaminação do "fazer fotográfico" pela necessidade do culto à idéia, penso que essa análise se aplica a determinados âmbitos. Acho que, no geral, fotografias são feitas com objetivo mais simples do que o de transportar uma idéia. A necessidade ideológica, parece, está restrita a alguns meios, como o publicitário, conforme citado.
No mais, parabéns pelo artigo!
Abraços.