>> Esses dias assisti a um filme sobre a vida de Diane Arbus e fiquei pensando, ainda estou pensando, se existe alguma relação entre os dois, ainda que distante
A diferença que eu, particularmente, encontro no trabalho dos dois é o fator estetico. Arbus usa a fotografia de forma mais documental, mais fria, como se ela quisesse te mostrar aquilo. Witkin, ao meu ver, é mais poético, mais "artistico"está muito mais ligado com a estética da coisa do que com o assunto em si.
>>A idéia de ambos é chocar, não tenho dúvida disso
Eu, particularmente, já tenho dúvidas disso. Creio que a idéia de chocar é algo que soa um tanto quanto plastificado, artificial para os trabalhos tanto do Witkin quanto de Diane Arbus. Creio que quando a pessoa faz algo para chocar fica tão superficial quanto a exposição onde um tubarão foi cortado pela metade. Eu tenho uma certa trava quanto a imaginar o que um autor quis dizer com determinado trabalho.
Não só na fotografia com o witkin, Arbus, Saudek e outros. Mas imagino também no cinema, com a direção impecável de Kubrick em "laranja mecânica" e "de olhos bem fechados" ou até sendo mais escrachado, a direção de Gaspar Noé em irreversível ou "o baixio das bestas", no cinema nacional.
Apelativo, talvez...mas não gratuito. Sinto que o fazer artístico, quando o publico acha grotesco, está mais na forma do autor ver o mundo do que unicamente fazer para chocar terceiros. Eu mesmo fiz uma foto onde uma menina simulava injetar heroina. Nunca me propus a chocar ninguém, mas talvez a minha concepção, o que me agrada, o que eu quero dizer, acabe chocando algumas pessoas mais incautas.
Mas como dizia Oscar Wilde: "um artista tudo pode expressar".
>>mas fico pensando até que ponto esse choque tem sentido e se não tira a atenção do espectador para elementos que de fato interessam no processo de composição/criação
Eu sou do partido que arte não se entende, não se analisa. Gosta-se ou não. Toca ou não. É mais ou menos como a teoria kantiana de fruição da arte: "o que apraz sem conceito". É por isso que não faço idéia do que são elementos que de fato interessam no processo. Pra mim, o que interessa mesmo é o sublime, a fruição.
>>Não sei com você, mas comigo essa abordagem do choque não funciona
Quando estamos no meio da arte, acho que nada acaba chocando ou exercendo aquela fascinação inocente. É como o nu. Poucas pessoas conseguem entender que playboy nao me causa o menor furor ou entao que fotografar uma mulher nua e uma natureza morta dá o mesmo tesão.
>> O que mais me surpreendeu foi que ele fez fotografias com gente morta mesmo, nunca tinha visto isso enquanto processo de criação. Quando fez um trabalho na Cidade do México passou dias procurando em hospitais corpos de pessoas desconhecidas.
Uma vez eu tentei fazer isso no anatômico da UFRJ, mas não consegui! rs
Leandro
>>Isso é uma coisa que não gosto em mim. Que é ver com "olhos" treinados alguns temas da arte fotográfica.
Creio que não há nada mais "novo" pra se criar na arte. Mas creio que quando algo nos toca de verdade, ou, como eu disse acima, nos "apraz sem conceito", não há olho treinado que resista ao deleite. É tudo uma questao de apenas sentir. pelo menos eu vejo assim.
Clarica lispectos costumava falar sobre os trabalhso dela:
"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca".