Se dissermos que as pessoas precisam estudar tecnicamente a terminologia de fotografia, os conceitos técnicos, etc, todo mundo aceita.
Se dissermos que o cara tem de estudar as questões artísticas, aí o cara acha que não precisa, que já nasceu com "o dom".
Oi Ivan,
acho que o ponto é esse - educação. A parte técnica é fácil, está disponível. A parte artítica a pessoa tem que ir atrás, leva tempo para estudar e entender.
Some a isso a ansiedade da juventude, que quer tudo muito rápido e o que temos é o caminho do mais rápido - o equipamento. Ele tem sua função, mas não deve ser nada mais do que uma ferramenta. E eu acredito, inclusive, que a limitação do equipamento tem que existir para que se evolua pois aí a pessoa vai ter que ter a coragem que você mencionou para assimir risco, ousar, usar a sua inteligência para chegar ao resultado desejado com o que ela tem em mãos.
Eu só fui ter câmera fotográfica aos 25 anos. Até lá usava o que conseguia com amigos e parentes. Eu acho que minhas fotos desse período são mais interessantes do que faço hoje em dia - aliás nem tenho fotografado muito pois o ritmo no trabalho está extremamente intenso, inclusive durante os finais de semana, por isso prefiro deixar os filmes na geladeira esperando a hora certa...
Raramente eu vejo alguém estudando o que vê. E esse é um exercício que eu sempre procurei fazer, até pela profissão (diretor de arte). Por quê ele usou essa luz? Como a composição deixou a imagem mais forte? Qual a influência das cores no resultado final? Se ele tivesse dado um passo para trás ou para a frente o resultado teria sido melhor? Coisas básicas mas que exigem tempo e dedicação que a maioria não dispõe.
E ainda tem a pergunta crucial: Por quê essa imagem vale um milhão de dólares? Às vezes, a foto pode ser uma grande M tecnicamente, mas então eu sempre me lembro de uma frase da autobiografia do Ansel Adams:
"Sabe qual a melhor forma de avaliar a qualidade do seu trabalho? Pela influência que ele causa no trabalho dos outros.'
Talvez a tal foto seja a origem/inspiração de milhares de outras ou mesmo de um movimento. Há que se pesquisar a razão. o importante é que ninguém é tão tolinho a ponto de pagar um milhão de dólares por uma foto ordinária. Mas se for uma foto ordinária com um valor histórico, ela passa a ter seu valor e deixa de ser uma foto ordinária exatamente por isso.
Por mais básico que possa parecer, eu sempre recomendo às pessoas que estudem as imagens que elas gostam, procurem entender porque elas gostam, o que as atrai nelas. E que faça isso com as imagens clássicas já com um background sobre a história de cada imagem. Até hoje, sinceramente, nunca vi alguém fazendo isso. É mais fácil folhear um livro e dizer que gosta, ou não, do trabalho daquele artista.
Estendendo a conversa mais um pouco, um bom exemplo disso são as fotos da Marilyn Monroe que estiveram (ainda estão?) em exposição aí no Rio. Saiu um livro sobre a exposição. Porque elas são importantes? Porque são as últimas da Marilyn antes de morrer? Porque são do Bert Stern? Porque foram feitas para a Vogue? Porque captam a sensualidade e a angústia de um símbolo sexual que iria morrer semanas depois? Por serem bonitas? Por tudo isso? Ou na verdade são umas fotos velhas e sem graça que estão tentando requentar?
Sugiro que os leitores dêem um pulo numa livraria, folheiem (ou comprem) o livro examinando cada foto com um tempinho e cheguem a suas próprias conclusões. Então, leiam o livro, pesquisem sobre a história dessas imagens na internet e vejam o quanto as suas conclusões batem com as de pessoas mais gabaritadas que nós.
É um tipo de exercício que deve ter um começo e, para os realmente interessados, não deve ter mais fim.
Abraços,
José Azevedo