Bem, vou falar de uma experiência e assim fica mais claro entender o propósito do tópico e o meu raciocínio confuso.
Eu ingressei recentemente num grupo de estudos sobre fotografia que promove encontros para tratar de fotografia em geral. As reuniões podem ser realizadas para discutir um texto (de reflexão sobre o ato fotográfico, não de instrução sobre a parte técnica), assistir a um filme ou até mesmo receber um convidado para falar da sua experiência como fotógrafo em determinada área.
Percorrendo os fóruns na internet, confesso que nunca vi uma sala, uma subsala ou até mesmo um post, nos quais um grupo assumisse o compromisso de ler uma determinada obra, num prazo específico, e, a partir de então, se reunisse para discutir as questões/dúvidas levantadas naquela obra. Os livros que tinha em mente no momento da pergunta eram os clássicos que todo mundo já ouviu falar: "O ato fotográfico", "A imagem", "A câmera clara". Mas não só eles. Pensei também em filosofia, história da arte etc. Não bastasse pensei nos livros técnicos.
Daí me veio a dúvida, porque esse tipo de leitura, e, claro, a partir dela o debate que se segue, causa tanto desinteresse quando não desconforto e resistência. Resistência porque, às vezes, as pessoas se sentem afrontadas com esse tipo de pergunta, quando o interesse é mais entender o fenômeno como um todo e não um caso particular.
Será o modo como o autor escreve? Será a pouca familiaridade das pessoas em geral com tais reflexões, com a própria leitura? Será que elas (as reflexões) não são importantes, não interferem no trabalho direto daqueles que lidam diariamente com fotografia? Será que existe um ranço histórico que faz as pessoas repudiarem esse tipo de reflexão, seja ela na fotografia ou em qualquer outra área? Será que não estamos preparados para debater idéias, antes absorvê-las, ainda que elas tratem de experiências empíricas? Será que existe uma barreira entre prática e teoria impossível de ser rompida?
Só para concluir, lembrei também da reação de um professor do curso prático que ao me ver lendo "Sobre fotografia", perguntou-me algo sobre o livro na frente de outros alunos, um deles perguntou do que se tratava, ele mesmo (que não tinha lido) respondeu (com certo desdém): "Ah, trata da parte filosófica da fotografia" (pena que a internet não mostra tom de voz e posição do corpo, mãos etc.). Parecia ouvir: "- Olha, eu tenho um mundo de aula para dar, eu não tenho tempo sequer para tirar fotos, quiçá para ler essas perfumarias". Como se houvesse dois mundos que não se cruzassem (teoria e prática). Nessa ocasião, fiquei intrigada com essa reação que já vi se repetir várias vezes e, então, veio-me a seguinte indagação: ninguém acha estranho eu andar com a revista "Fotografe Melhor" debaixo do braço nem eu acho estranho quando vejo alguém ler o "Manual básico da fotografia", mas por que o inverso não desperta a mesma naturalidade, ao contrário?
Pois bem, queria entender isso. Por isso, vim aqui compartilhar essas impressões e refiná-las com a participação de vocês.
Guio-me por uma pista: talvez essa repulsa tenha relação com o caráter funcional e com o "espírito do capitalismo" das sociedades de hoje.