Talvez eu seja ortodoxo, mas para mim existe um espírito da fotografia que a caracteriza como manifestação artística e a distingue das demais artes visuais.
Diferentemente das demais artes visuais, nas quais a pura forma pode ser suficiente para sustentar uma obra, a fotografia mesma existe no estabelecimento de uma relação entre a coisa fotografada - o referente- e a imagem impressa no papel ou exibida na tela. Ela faz-se por um ato narrativo do fotógrafo. O fotógrafo é um narrador, um narrador da vida, do mundo. O fotógrafo não é meramente um construtor de imagens visualmente complexas, ele tem uma ação de narração, de narração de algo segundo o seu ponto de vista. Transladando para o campo da literatura, o fotógrafo seria um cronista que usa prosa poética às vezes.
O que acontece nas fotos mostradas é que sua narrativa é entre paupérrima e inexistente. Elas são meramente composições visuais "originais" (nem tanto, por isso as aspas). Há trabalhos de dupla exposição onde existe narrativa, o Rodrigo que freqüenta este fórum tem uns bem interessantes. Neles você pode dizer que o referente está embraralhado, mas há algo do referente que faz parte da mensagem, há algo de simbólico que permanece. Assim, embora ele procure explorar as bordas do que é fotografia, não deixa de sê-lo, visto que o compromisso básico da fotografria está preservado. Nessas há uma colagem de símbulos desarticulados. O referente nelas pouco importa.
Não é o processo que faz de uma fotografia uma Fotografia. O processo de transferir imagens é usado para imprimir circuitos impressos, mas eles não são Fotografia (embora sejam fotografia, grafados com fótons). Quando transferimos algo para uma tela de silk-screen, usamos uma emulsão que é análoga a da cianotipia e que se fixa pela luz, fotograficamente, mas não é Fotografia. Podemos usar uma cãmera fotográfica e não fazermos Fotografia, apenas a usarmos como instrumento para artes visual, como qualquer outro instrumento.
Assim, o trabalho mostrado para mim não é interessante como Fotografia, e como arte visual é ainda incipiente. Contudo, o fotógrafo pode ter nisso apenas um croquis, um caminho que quer perseguir, e se for assim poderá chegar a resultados fotográficos interessantes. A idéia em si não é boa nem ruim, depende de seu refinamento e desenvolvimento.