Eu vou meter o bedelho aqui um pouquinho
Eu fiquei extremamente satisfito de ver o assunto de fotografia alternativa aqui no fórum, pq eu, como já disse antes aqui, não sou fotógrafo, sou artista plástico e ultimamente meu meio de expressão é a apropriação da fotografia como linguagem alternativa.
O que digo aqui neste post não é direcionado a nenhuma das opiniões citadas anteriormente, até pq foram bem claras dentro do aspecto opinativo. Só queria acrescentar alguns parâmetros de discussão aqui.
• A Fotografia autoral não necessariamente necessita ser uma fotografia alternativa e/ou hermética. Basta ser um trabalho que diz unicamente ao autor ou seja, um trabalho pessoal. Eu, particularmente, não gosto do termo "autoral". Acho que "pessoal" diz muito mais. Esse termo não pertence só a fotografia, mas também a qualquer segmento artístico. Quem usa a definição "autoral" pra fazer um trabalho inacessível merece é levar umas chibatadas.
• A fotografia como linguagem, assim como qualquer outra arte visual, universalmente (ou seja, como própria existência) não tem o compromisso direto com a liguagem cognitiva. Tudo depende de quem faz e de quem vê. Ela pode ser amparada tanto na estética quanto na comunicação. Aí cabe de quem vê escolher o que prefere pra si.
• A questão de nomenclatura do que pode ou do que não pode ser fotografia é de uma profundidade absurda. Até porque a arte, com seu aspecto orgânico, traz um mistura de conceitos onde tudo pode ser nada e o nada pode ser tudo. Primeiramente, no aspecto técnico, muitas coisas caem nessa discussão. Os processos alternativos criam outra identidade para o que conhecemos como fotografia. As fotografias da época do pictorialismo eram boa parte remodeladas na base do desenho tradicional, mas entendemos e respeitamos elas como fotografia. Os trabalhos de Thereza Miranda(
http://www.thereza.miranda.nom.br) são classificados como fotogravuras, mas são um processo exatamente igual ao que Niepce utilizou para criar a primeira fotografia da janela de sua casa. Sem contar as cianotipias, serigrafias, fotogramas e todos os outros recursos "alternativos" para se tratar uma imagem fotográfica. Creio haver mais uma distinção "moral" do que "conceitual" no que define uma fotografia de qualquer outra coisa. Eu mesmo faço fotogravuras e as classifico como tal por mera questão moral.
• A fotografia enquanto arte acaba se trancafiando no mundo do autor. Como a Kika mencionou, muitos artistas plásticos fazem qualquer porcaria e dão um significado. E eu concordo em absoluto. Isso acontece com qualquer meio expressivo: pintura, escultura,gravura instalação. Quanto a isso, acaba no questionamento da posição do autor, não quanto a essencia da linguagem artística em si. Numa escola de artes, onde deveria ser um centro de cultura, vemos as mais risíveis palhaçadas que se apoiam em um fundo filosófico. Tem quem goste, tem quem não goste.
Há alguns anos fui em uma exposição no CCBB-RIO que era só sobre "arte que se utiliza da fotografia como linguagem". Boa parte era uma grande bosta.
Mas uma proposta artística embasada em experimentalismo geralmente está pautada na exploração visual,no apelo estético. É um recurso que sempre foi abordado nas linguagens visuais e não seria diferente na fotografia. Tem coisas que, teoricamente são desnecessárias e não agregam nenhum valor específico ao trabalho, mas é a exploração gráfica que toma conta. O importante nesse aspecto é buscar o que a linguagem explorada tem a oferecer. Fazer gravura em plena época de impressão digital parece desnecessário. E é se não hover o comprometimento com a linguagem da própria gravura. Recursos estéticos, de uma maneira bem grossa, sao desnecessários. O que importa é a relação que se tem com o objeto.
Eu, particularmente, só conseguia gostar das minhas fotos quando aplicava alguns recursos do photoshop para chegar em algum resultado estético desejado. Agregar valor não agrega, mas é simplesmente uma questão de personalidade estética...foge ao compreensível. Eu poderia simplesmente fotografar e mandar ampliar em um laboratório do que ter toda a trabalheira de fazer uma tela de serigrafia ou uma chapa de calcogravura. Não é questão de preciosismo, de fazer algo trabalhoso. É simplesmente uma questão estética, que "apraz sem conceito".
No mais, fico por aqui com a deixa da Ana Adams:
"A fotografia é uma arte, e como arte é livre em todos os seus meios de expressão."ps: Isso tá virando concurso pra ver quem fala mais que a Kika? Brincadeira, Kika!
ps2: Pra não fugir do tema proposto pela Marina, só posso mencionar oq ue eu acho mais valioso em uma crítica de arte: "gostei ou não gostei". E nesse caso, eu não gostei. Poderia citar 3000 motivos, mas o que no final conta é que eu não gostei.ps3: pra quem gosta de fotografia alternativa: http://alternativephotography.com/