Prezados;
Muito obrigado. Esses últimos comentários são riquíssimos, são cheios de coisas sensacionais.
Guto;
Penso um pouco diferente, talvez porque essa questão já esteja muito pensada, talvez porque eu seja teimoso mesmo. Há uns poucos anos eu mostrava fotos das estradinhas de São Pedro da Serra nos fóruns, e sofria verdadeiros linchamentos por vezes, quando era dito serem "fotos de mato", quando se dizia "não vejo nada aí". No entanto, eram fotos significativas para meu processo, eram questões estéticas, compositivas, simbólicas importantes, havia algo que eu queria mostrar e cada uma dessas fotos era uma pedra do caminho que eu pisava para ir em frente, e cada uma dessas fotos tinha algo que ali estava notado, que ali eu valorizara. Postava porque ao postar em me comprometia com elas, eu "contratava" um valor, eu afirmava: "sim, isto é o importante para mim!". Porque se não afirmasse o que era importante, se meramente eu valorizasse minhas fotos pela opinião alheia exclusivamente -aopinião alheia tem enorme importância, mas não toda importância- eu não poderia usar cada pedra como um degrau. Sem reconhecer aquilo que cada foto me trazia, não seguiria em frente, não construiria a narrativa que procurava.
Então, para mim essa seleção não se refere a fotos boas. Não se refere a fotos que agradam. Ontem postei a foto abaixo em um site de fotografias e em outro fórum:
Ela agradou. Não recebi um só comentário negativo, e quase todos amplamente positivos. Contudo, falando francamente, para mim é uma foto insignificante. Ficou bonita, vistosa, tem algo de interessante, mas não é pedra onde piso para ir adiante. Não me desafia, não me exige, não me coloca questões.
Há cerca de umas duas semanas, contudo, postei esta outra:
As opiniões positivas foram mínimas. Mas esta é para mim uma foto interessantíssima. Ela me mostra coisas que eu queria ver, ela é construída de uma maneira muito mais cheia de sutilezas que a anterior. Ela é um passo, e mais que um passo, é algo que perfilio, que digo: "eu fiz". Porque dizendo "eu fiz" a estou aceitando e assumindo, e assim posso contratar com ela algo.
Se é boa, se não é, isso é muito vasto. Para mim é essencial, enquanto a primeira é boba, mera brincadeira fácil com DOF curto e lente boa.
Insisto que há aí algo referente ao segundo momento que é crucial. Não querendo paracer melhor do que sou, se sair e for a um local fotogênico, posso gastar um filme de 36 fotos todas elas certas, bastando tomar alguns cuidados básicos. Mas isso não me importa, eu não quero fazer um filme de 36 fotos certas, quero que entre essas 36 haja UMA que me transforme. E isso implica em fotografar, em se deixar levar pelo transe da fotografia -pois há um transe- e depois pensar sobre o feito e reconhecer nas fotos coisas valiosas.
Não é questão de fazer boas fotos, e sim de fazer fotos que sejam continuação de nossa história pessoal, ou, como diz o Paulo Coelho, de nossa "lenda pessoal". E ao selecionarmos fotos neste segundo momento, estamos não apenas nos contratando com essas fotos mas também nos contratando com essa lenda, isto é, conosco mesmos.