Pois é, Rodrigo, eu também não me considero fotógrafa, mesmo se eu eu fotograsse bem e se alguém considera muleta pensar a fotografia, é um direito da pessoa, mas eu nem me importo e até pode ter alguma razão nisso.
Também nunca me considerarei fotógrafa se isso implicar em transformá-la em trabalho, em compromisso formal, em meio para ganhar a vida.
Porque daí vai perder o encanto e eu vou ter que encontrar outra atividade para me divertir. Porque fotografia pra mim é diversão. Não pego a máquina por obrigação nunca, mesmo se ficar tempos sem dar um click. O que nunca aconteceu, ainda que só faça m*.
Eu sou historiadora e é nisso que trabalho, faça chuva, faça sol, tenha emprego ou não. Eu adoro pesquisar, eu adoro entrar num arquivo, mexer com papel velho, criar sistemas de seleção e organização, adoro ler os livros da área e refletir sobre o assunto, adoro trabalhar com um conjunto documental nunca antes abordado em trabalho nenhum, com fontes inéditas, enfim, amo o que faço, mas odeio a obrigação constante, a pressão sobretudo, a minha própria cobrança que é pior do que a qualquer outra pessoa.
Amo fotografia também e até já pensei em aliar as duas coisas. Na história, embora em menor escala, tem um segmento que alia fotografia & história, a exemplo do pai da matéria que é o Boris Kossoy, até redigi um projeto de pesquisa sobre o uso da fotografia como documento histórico, há mais de dez anos atrás, mas ainda bem que naquela época, as pesquisas (e também orientadores e metodologias) eram
tão incipientes, ainda mais numa universidade de médio porte como a UEL, que parti para outro assunto que amo igualmente: engajamento artístico.
Enfim, se for pra transformar a fotografia em trabalho, em fonte de renda, em compromisso formal, eu prefiro nunca ser tomada pela alcunha "fotógrafo".
Agora, numa ocasião, eu me incomodei com uma pessoa que não sabia nada de fotografia e só porque comprou uma câmera melhorzinha, dizia pra todo mundo que era "fotógrafa" e, pior de tudo, aceitava encomendas. (Aliás, eu julgo essa pessoa meio oportunista e ela me incomoda em várias outras coisas) Não bastasse, me mandou a "produção" dela para eu "examinar". Aliás, só me incomodei mesmo a partir disso. As fotos de pôr-do-sol e silhuetas eram medonhas, mas eu não soube como dizer isso pra uma pessoa é muito amiga do meu melhor amigo (hahaha Deve ter um pouco de ciúme nessa minha implicância). Se dissesse ia dar m*. Então, procurei a tangente. Disse a ela que procurasse alguém mais experiente para lhe dar uns toques. Além disso, do que adiantaria eu dizer, olha sua foto não tem isso, não tem aquilo, é assim, é assado, pra alguém que não domina nem o jargão, ao menos. Mas, enfim, foi apenas um caso, depois deixei isso pra lá porque há tanta coisa maior para se preocupar e o que é de gosto regalo da vida. Se ela se contenta em se autodenominar "fotógrafa", se isso faz bem a ela, mesmo não dominando nenhuma instância do assunto, que seja feliz, é uma opção dela.
Bem, vamos fotografando, pensando fotografia, praticando se achar necessário, fazendo o que gosta que é isso que importa.