O Bucephalus,
aqui no fórum, perguntou: "quando teremos uma câmera digital compacta com sensor full-frame"? Pois é. Câmeras compactas são as digitais mais comuns, pequenas, leves, não trocam lentes e são voltadas ao fotógrafo amador casual. Fotógrafos amadores avançados geralmente usam câmeras reflex, maiores, mais caras e pesadas e que trocam suas objetivas. Uma das maiores diferenças entre as compactas e as reflex é o tamanho do sensor, sendo que as últimas os têm maiores.
Quais as principais implicações de um sensor mais amplo? Primeiro, a qualidade de imagem tende a ser melhor, especialmente em fotos com pouca luminosidade, pois há uma concentração menor dos pixels que captam a luz para formar a fotografia. E o outro, que está mais relacionado à linguagem fotográfica, é que a
profundidade de campo tende a ser menor, ou seja, é mais mais fácil desfocar o fundo de uma foto, por exemplo.
Conversations - Savara Nas câmeras de filme, o quadro tem 43mm de diagonal, o que permite uma boa faixa de trabalho com a profundidade de campo usando lentes mais claras. Nas câmeras digitais, apenas os modelos mais caros têm um sensor desse tamanho. Uma das câmeras mais baratas a usar um sensor de 35mm, ou full-frame, é a Canon 5D, que, sem nenhuma lente, sai por US$ 2700. Com lente, o preço sobe para US$ 3500. As reflex abaixo dela usam um sensor chamado APS, com área menor, consequentemente com menor possibilidade de trabalho da profundidade de campo, requerendo lentes de abertura maior para obter o mesmo efeito. As câmeras compactas mais comuns usam sensores ainda menores, praticamente inviabilizando trabalhar com esse aspecto da linguagem. Elas são desenhadas para que quase tudo saia no foco.
Então, para se trabalhar a profundidade de campo na digital como se fazia no filme, é preciso uma câmera caríssima e enorme. Daí o desejo por uma compacta com sensor full-frame, coisa que ainda não existe. Ou seja, para sair na rua com um equipamento pequeno, silencioso e discreto e fazer fotos como as que ilustram esse artigo só é possível ainda, usando câmeras de filme. Que, além de tudo, ainda custam baratíssimo. Uma Canonet com "sensor" de 35mm e uma fantástica lente de abertura f/1.7, ou seja, boa e clara, pode ser encontrada por menos de R$ 200. A foto abaixo foi feita com uma Yashica Linx, câmera que custa menos de R$ 100 e conta com uma lente de abertura f/1.4. Uma combinação entre sensor 35mm e uma lente dessa claridade no sistema digital seria absurdamente cara.
Hanoi BW3 - Tony TranUma outra questão em relação ao tamanho dos sensores no sistema digital é o fator de crop. Significa que uma lente de 50mm tem um ângulo de visão com um sensor de 35mm e outro, mais estreito, com o sensor APS. Para se ter o mesmo ângulo de visão no APS, a lente precisaria ter outra distância focal, e não se tem uma combinação de lente tão boa, versátil, clara e barata como a objetiva de 50mm com o sensor de 35mm. E em qualquer câmera analógica minimamente razoável essa combinação está presente.
Não quero ser tomado como um defensor do filme. Longe disso, o que me interessa é poder fazer o máximo com o mínimo. A questão é que acho extremamente intrigante que para fazer esse tipo de foto a escolha seja entre o filme, com câmeras pequenas e baratíssimas e o digital, com um trambolho barulhento de cinco mil reais. Algo parece fora de ordem.
Jura - SavaraPublicado também no
Câmara Obscura.