Interessante rodrigo. Neste ponto remeto a um questionamento que trago inclusive da minha experiência na área de gestão.
O que se perde com uma inovação? Na verdade a substituição tecnológica provoca perdas caso alguma necessidade atendida seja prejudicada ou até deixe de ser atendida em relação à tecnologia anterior.
Pode-se dizer então, que o que importa não é se uma película ou um sensor farão o trabalho, o que importa são as possibilidades que cada um trás. Quando um consegue abranger tantas possibilidades quanto o outro este se torna um substituto perfeito e a relação pode se dar entre um e outro sem dominâncias, quando estas possibilidades ainda superam as anteriores (como ocorreu com o digital em relação ao filme) o universo de possibilidades é ampliado e a nova tecnologia se mantém substituta perfeita da enterior, enquanto a anterior não é capaz de substituir a atual.
No caso da fotografia de filme observa-se que em termos de necessidade a substituição ocorreu de forma integral, faz-se hoje com uma digital exatamente o mesmo que se fazia com o filme, com pelo menos as mesmas possibilidades, quando não bem mais possibilidades, como na maioria dos casos. Não há uma necessidade (no conceito real da palavra), que a fotografia digital não cumpra e o filme cumpra (o contrário já não é verdadeiro).
Esta nova gama de possibilidade leva à diferenças na educação dos fotógrafos, que obviamente vão diferir diante de um cenário com mais possibilidades, como o digital, e com menos possibilidades como o filme. Quando isso ocorre a substituição é questão de tempo, porque quem foi educado diante de um universo maior de possibilidade não consegue retroagir sem se sentir limitado, enquanto quem foi educado em um universo com menos possibilidades cedo ou tarde tende a tocar o universo com maiores possibilidades e expandir seus horizontes.
Pensar através de posições, tecnologias ou produtos (e não de necessidades) leva ao que chamamos de miopia estratégica, pois apenas uns poucos consumidores saudosistas farão escolhas através do medo do novo e de ter que enfrentar a maior amplitude por ele oferecida. A maioria esmagadora das pessoas fazem escolhas pensando em suas necessidades e objetivos e estas não se preocupam com o tipo de tecnologia, se preocupam apenas com as possibilidades.
Agora chegamos à questão da fotografia instantânea. Volto à mesma afirmação anterior, o que temos ai não é uma questão se a foto está sendo feita sobre o papel ou sobre um sensor, o que importa neste caso é a possibilidade de se fazer fotografias instantâneas, de ter o resultado pronto e crú na mão poucos segundos após a execução da foto. As possibilidades de linguagem, da muldura, são todas factíveis dentro de um universo digital, o grande questionamento entre a fotografia instantânea e a fotografia digital é relativo aos fabricantes não ofereceram a própria fotografia como possibilidade em uma câmera digital. Quando uma necessidade é podada, como na relação entre a Polaroid e o digital, isso tende a trazer uma real incapacidade de substituição, porque há aqueles que ainda buscam o instantâneo, assim certos tipos de clientes (ou adeptos) se sentirão orfãos dentro desta necessidade, uma vez que não existe substituição perfeita (parece claro para mim que ver a foto no LCD não é o mesmo que ter a foto na mão para vislumbrar o resultado final, comercializar, ou até mesmo presentear alguém).
Neste sentido a própria
Polaroid percebeu esta questão ao observar que o problema de seu negócio não era o digital em si (como ela imaginava) eram as limitações das possibilidades, dentro de um mundo de possibilidades. Seu negócio, a fotografia instantânea, deveria se adequar à esta nova realidade, abrindo um novo leque de possibilidades sobre o que já existia, porque os clientes da polaroid não estavam pensando em uma câmera com sensor, eles queriam saber de
fotos instantâneas com um novo universo de possibilidades, coisa que poderia ser originada por qualquer tecnologia que fosse, desde que fossem trazidos este novo universo de possibilidades, sem se perder a essência que estes consumidores buscam. Quando a Polaroid abandonou o instantâneo para se esforçar no digital ela se esqueceu da principal necessidade que atendia, aquela que havia construído sua marca e seu nome. Em decorrência disso ela sofreu com fortes perdas, por não ter compreendido a necessidade que a tornava diferente, por ter acreditado que o produto era a questão e não as possibilidades deste produto.
Agora em 2009 parece que ela acordou para esta questão e está trazendo uma instantânea digital, que carrega as possibilidades do digital, associadas às possibilidades do instantâneo. A
Polaroid PoGo é uma tentativa da marca de voltar a atender seu público diante do novo universo de possibilidades do digital.
Até que ponto esta câmera vai trazer de volta o espírito do instantâneo ainda é cedo para dizer, mas observa-se que as poucas marcas que trabalhavam com instantâneo demoraram a perceber que seu negócio era oferecer a foto pronta na hora (independentemente da tecnologia usada), o que de fato complicou bastante a vida daqueles que tinham como necessidade de uma foto pronta de forma imediata.