O Sebastião Salgado lançou uma belíssima polêmina, não? Mas, lendo mais atentamente a entrevista, não entendi que ele está decretando a superioridade definitiva do filme, simplesmente abordou o conjunto de técnicas novas que está utilizando num novo trabalho, frente a um conjunto de adversidades que o impedem de usar o filme.
A questão central, na minha opinião, é a possiblidade que o artista tem de continuar expressando sua arte. É preciso aguardar o resultado do trabalho, mas nada pode garantir agora que será melhor ou pior.
E como sociólogo e professor, gosto muito da linguagem do Sebastião Salgado, apesar das críticas sobre a suposta exploração comercial da imagem da miséria, vejo-o como um artista extremamente consciente e engajado.
Pra terminar, percebi na intrevista uma grande coerência, quando ele justifica o uso da digital como uma decorrência das políticas de segurança pública após o 11 de setembro. Ele foi anti-moderno, criticando o contexto em que vivemos, para afirmar sua posição moderna. Como sou chato, vou deixar aqui um fragmento de Marshall Berman, do livro "Tudo que é sólido se desmancha no ar", com o intuito de refletirmos mais sobre a questão Filme Vs Digital.
“Dir-se-ia que para ser inteiramente moderno é preciso ser antimoderno: desde os tempos de Marx e Dostoievsky até ao nosso próprio tempo, tem sido impossível agarrar e envolver as potencialidades do mundo moderno sem abominação e luta contra algumas das suas realidades mais palpáveis. Não surpreende, pois, que, como afirmou Kierkegaard, esse grande modernista antimodernista, a mais profunda seriedade moderna deva expressar-se através da ironia.”