Pois é, os manuais das câmeras são horrivelmente traduzidos. Os dos Flashs então...
Querer um rigor nesses manuais é dureza. Shutter Speed, realmente confere, como eu disse. Mas mesmo sendo eles assim colocados, vocês concordaram comigo que há um erro aí. Não há, em mim, vontade de ser mais papa que papa algum, mesmo porque, qualquer um aqui é mais conhecedor do assunto que um tradutor desses manuais de câmeras.
Mas como creio já me ter feito entendido, vou por outro lado. Tenho aqui uma preciosidade chamada "Wir Fotografieren", um livro alemão de 1957, escrito por Gert Lindner.
A obra de 1958, ou seja, a exatos 51 anos atrás é muito bem feita, com um conteúdo dirigido aos amadores. O interessante, contudo, é que ao lê-lo tive um choque temporal imenso ao perceber o cuidado (sem pressa) de se abordar temas complexos da fotografia, sempre acompanhado de um incrível respeito e gentileza poética muito diferente à crua abordagem sobre o assunto nos dias de hoje.
Outra coisa que impressiona é perceber que após 50 anos, a fotografia continua atemporal em diversos aspectos.
Procurando então compartilhar isso com os amigos, transcrevi alguns excertos curiosos:
"Essa inovação [o fotômetro] liberta, sem dúvida, o fotógrafo de proceder a cálculos e medições; mas se isto é verdade, não é menos verdade também que para muitos é um autêntico prazer fazer esses cálculos e essas medições. Não deixa de ser mais agradável dominar a técnica e o mecanismo de fotografar do que entregar ao automatismo do aparelho ultramoderno a resolução de todos os problemas."
"É evidente que devemos procurar escolher uma duração de exposição tão longa quanto possível, a fim de se poder aproveitar totalmente a luz de certos flashes, que levam mais tempo a atingir o máximo de sua intensidade luminosa. Tal é o caso das lâmpadas vulgares, que não se incendeiam total ou instantaneamente, pois levam um certo tempo até que a sua deflagração luminosa atinja o máximo."
"Em nossa casa, antes de partirmos para o teatro das nossas explorações fotográficas, devemos ensaiar e verificar o material, o que compreende igualmente os acessórios, as tabelas de exposição, filtros, etc."
"Com um pouco de gentileza e de cortesia, podemos sempre convencer qualquer, mesmo um estranho, a posar alguns instantes pra nós, logo que a sua presença seja útil para a nossa imagem. Quem não terá no íntimo de si mesmo um pouco de vocação para o teatro, para representar?"
"Evitai as simetrias muito monótonas!"
"Um bom instantâneo é quase sempre uma questão de acaso e sorte. Apesar do secreto desejo que nos atormenta de realizarmos um clichê excepcional, a fotografia inesperada, apesar de toda a nossa perseverança e das numerosas películas que sacrificamos para o conseguir, é preciso rendermo-nos à evidência: o acaso escapa, por definição, a todo controle humano, e tudo o que podemos fazer, em rigor, é dar-lhe um pequeno empurrão."
"O segredo de um bom instantâneo reside, por isso, numa extrema rapidez de manobra e no sacrifício voluntário de um certo número de películas."