Autor Tópico: Um desserviço a quem está começando.  (Lida 7327 vezes)

Kika Salem

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Resposta #30 Online: 12 de Setembro de 2009, 11:42:56
No caso dir-se-ia: "Ela é bem objetiva!". Significando que a Kika (é brincadeira , Kika) vai diretamente às questões, sem circunlóquios.

Ivan:
Fique à vontade para brincar, um ambiente muito sisudo torna-se um pouco chato de participar. Aliás, essa é minha bandeira: ser séria em assuntos que exigem seriedade, mas perder o humor jamais nem a ternura como diria "Meu amigo Che".

Elmo:
Entendi a seleção de textos do livro alemão e também a transcrição do poema, mas gostei mesmo de conhecer a música "Chopp em garrafa", mesmo que fuja um pouco desse verso do poema: "Fixai, amigos, na fotografia" e, portanto, fuja um pouco da objetividade tão perseguida por mim.

Mas rendendo-me à objetividade novamente, Leo, a idéia do UOL de intercalar imagens da câmera e textos curtos é bem interessante não fosse as incongruências mencionadas.

Vou terminar com uma citação do livro alemão, pois gosto do jogo das citações e de redesenhá-las sob novo cenário: "Com um pouco de gentileza e de cortesia, podemos convencer qualquer um, até mesmo um estranho".
É assim que eu faço quando peço pra alguém posar pra mim, uns aceitam de imediato, outros fazem charme, mas sempre consigo uma foto que seja.


« Última modificação: 12 de Setembro de 2009, 11:44:12 por Kika Salem »


Ivan de Almeida

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Resposta #31 Online: 12 de Setembro de 2009, 11:46:17
Caro Ivan, então, caso esteja correto, ao chamar de Lente o conjunto o qual indicou denominar-se "Lentes Objetivas" cai no erro de combinar o número à coisa, pois afinal seria Lentes, e não uma só. Que é o que eu disse no início dessa verborragia.

Dessa forma chamar de lente as "lentes montadas em um corpo cilíndrico" é levar pau no português.

Não deixa de ser verdade. Mas dentro do jogo de linguagem o sentido é claro. É isso que estou tentando lhe dizer, Elmo. Você como engenheiro (engenheiro não tem cura -risos), tam o vício de achar que os termos podem ser exatos, e eu lhe estou mostrando, ou tentando, que eles são contextuais, que cada palavra habita um jogo de linguagem e deve ser entendida, aceita, usada, dentro dele. A língua tem plasticidade, e isso torna o uso do singular como plural, normal.

A língua é construída pelo uso, não pela gramática nem pelo dicionário.

O problema da educação no campo das ciências exatas é que o camarada fica acreditando que a Natureza é exata, quando exata é somente a ferramenta analítica (a matemática). E assim começa a achar que existe uma linguagem precisa, etc. Por isso é que lhe disse que deve tomar cuidado com a porta da sala de aula. Ali termina a permissão para a exatidão ficta. No mundo dos homens, e é no mundo dos homens que transcorre nossa existência, o que importa é o acordo humano.
« Última modificação: 12 de Setembro de 2009, 11:53:46 por Ivan de Almeida »


Ivan de Almeida

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Resposta #32 Online: 12 de Setembro de 2009, 11:50:13
Mas seu caso, Ivan, é o seguinte. Caso morra afogado em um rio, deveremos procurar seu corpo rio acima, pois não fará sentido encontrá-lo a favor da natureza, mas sim ao seu favor.  :D

Quem me dera, Elmo...

Seria um atestado de santidade, sem dúvida... Seria como o monge mestre do Aliócha que não apodreceu depois de morrer, tão santo era. Não é o meu caso.


Elmo

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Resposta #33 Online: 12 de Setembro de 2009, 11:54:20
Ivan, combinaremos um dia de encontrarmos, tenho sincera curiosidade em conhecer você.

Quanto ao que disse por último, sugiro, caso tenha tempo e vontade, ler o livro 1984 de George Orwell, caso não o tenha feito.

Lá consta, filosoficamente, um bom motivo pra se evitar a fazer isso, ou seja, reduzir ou aproveitar palavras para se referir às coisas. É a tal Novilingua.


Ivan de Almeida

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Resposta #34 Online: 12 de Setembro de 2009, 12:19:07
Ivan, combinaremos um dia de encontrarmos, tenho sincera curiosidade em conhecer você.

Quanto ao que disse por último, sugiro, caso tenha tempo e vontade, ler o livro 1984 de George Orwell, caso não o tenha feito.

Lá consta, filosoficamente, um bom motivo pra se evitar a fazer isso, ou seja, reduzir ou aproveitar palavras para se referir às coisas. É a tal Novilingua.
Você é do Rio, Elmo?

Por que se for é fácil, basta nós marcarmos algo e sei que dará uma interessantíssima conversa.

Li o 1984 antes de... 1984 -risos. Sim, a Novilíngua era algo como um uso seletivo de significados, por vezes os invertendo.

Acontece que o Orwell tomou um processo natural de desenvolvimento linguístico, caricaturou-o e fez dele ferramenta de dominação. mas em si o processo linguístico não é senão o contrário, uma anti-dominação, visto ser brotadouro das bases da língua, isto é, da comunicação interpessoal comum. É preciso não confundir truques ficcionais, de um escritor preocupado com totalistarimos baseados na propaganda (nazismo, stalinismo) com a coisa ser em si nociva.

Mas nós não temos sobre isso qualquer capacidade de impedir ou coisa assim. A língua é viva. Outro dia joguei fora um livro do Carl Sagan onde ele tinha essa ilusão de ser a ciência uma "vela acesa na escuridão", exatamente essa ilusão de haver uma esfera do pensamento humano que se distingue das demais pelo rigor, pela não poluição, etc. Esse é uma visão neo-positivista, somente. A cultura humana é assim mesmo, misturada, ambígua, interpenetrada em suas partes por conceitos vindos de outras partes, ou, dizendo muito mais simplesmente: não existe chão firme algum.

O problema é acreditar que existe chão firme. Uma crença consoladora, de fato, mas não muito mais que uma crença. Seria de fato sensacional se o homem dispusesse de uma vela acesa na escuridão. Mas não há. Tudo que há é um bando de indivíduos em intersção, construindo formas de cooperar para sobreviver e unidos por laços libidinais, em um universo que é gentil e hostil ao mesmo tempo.


Formel

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Resposta #35 Online: 12 de Setembro de 2009, 12:56:38
Rapaz, esse papo está bom. Outro dia discuti com um amigo sobre Heisenberg, é como se tudo que antes fosse apenas argumentação filosófica e até meta-física repentinamente se tornasse uma verdade concreta e praticamente indiscutível. Pois até o baluarte da lógica desaba, finalmente temos a certeza da incerteza.

Esse papo não pode ser a seco, os neurônios começam a ranger, isso pede um Chopp em Garrafa.  :ok:

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Ivan de Almeida

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Resposta #36 Online: 12 de Setembro de 2009, 13:27:31
Rapaz, esse papo está bom. Outro dia discuti com um amigo sobre Heisenberg, é como se tudo que antes fosse apenas argumentação filosófica e até meta-física repentinamente se tornasse uma verdade concreta e praticamente indiscutível. Pois até o baluarte da lógica desaba, finalmente temos a certeza da incerteza.

Esse papo não pode ser a seco, os neurônios começam a ranger, isso pede um Chopp em Garrafa.  :ok:

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Você leu o sensacional "A Parte e o Todo" do Heisenberg? UYm dos livros mais sensacionais que já li na vida, um livro que deixa claras as questões epistemológicas em uma narrativa extraordinária desde seu início.


Francisco

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Resposta #37 Online: 12 de Setembro de 2009, 14:34:55
O problema da educação no campo das ciências exatas é que o camarada fica acreditando que a Natureza é exata, quando exata é somente a ferramenta analítica (a matemática). E assim começa a achar que existe uma linguagem precisa, etc. Por isso é que lhe disse que deve tomar cuidado com a porta da sala de aula. Ali termina a permissão para a exatidão ficta. No mundo dos homens, e é no mundo dos homens que transcorre nossa existência, o que importa é o acordo humano.

Ivan, eu sou formado em ciência da computação e ainda luto para me libertar do tal do "rigor científico". Durante muitos anos eu achava que a lógica era capaz de responder a todas as perguntas a que se propunha com precisão; que o desenvolvimento preciso de uma prova matemática era capaz de estabelecer verdades irrefutáveis. A matemática é capaz de nos incutir essa fé por ser internamente consistente. Ou seja, a partir de um conjunto de axiomas inventados pelo homem, consegue-se criar um mundo onde tudo se encaixa e não há lacunas.

A ideia de criar um método científico suficientemente consistente para confrontar a religião foi muito útil e subversiva nos tempos de Descartes, mas hoje sabe-se que o homem dispendeu uma energia tal para defender a ciência que hoje ela já ocupa o papel de religião. Ou seja, trocamos um dogma por outro.

Na faculdade onde fiz meu curso - que, por sinal, ocupa o segundo lugar no último ENADE - não tive nenhuma cadeira de epistemologia; nem os meus professores devem ter tido. Somos educados a ser devotos de um Deus abstrato chamado Ciência. Muitos realmente acreditam que exista um método capaz de produzir conhecimento inédito. Tem um livro do filósofo da ciência Paul Feyerabend chamado "Contra o Método". Através de exemplos da história da ciência, ele mostra como algumas das grandes descobertas científicas do mundo moderno vieram ao acaso ou estão a serviço de um contexto político/social.

Há inúmeros exemplos de pesquisas científicas que isolam variáveis escolhidas a dedo e dão-nos a resposta que se quer ouvir. A ciência é tão contaminada pelo desejo do homem quanto a religião. A engenharia pode construir uma câmera fotográfica (leia-se: consistência interna), mas quando o homem se põe a explicar certos fenômenos (por que a luz incide de forma tal, por que o ruído é assim ou assado; eis aqui a interação com a natureza), esses porquês são consensuais: é a capacidade daquele que explica convencer aquele que busca uma explicação.

O próprio DPReview, talvez o site mais rigoroso de reviews de equipamentos fotográficos, procura explicar toda a sua metodologia, seus pressupostos, etc. Quando eles dizem que tal câmera é mais ruidosa ou tem latitude pior, eles procuram explicar o contexto a que essas afirmações estão atrelados, e certamente eles não cobrem todas as possibilidades. Para não correrem o risco de serem rigorosos demais, até dizem que tal ou qual problema não deverá ser percebido no uso diário.

Enfim, rigor científico é visto como sinônimo de "rigor com a verdade", enquanto deveria significar "vontade de explicar todos os fenômenos sem, no entanto, ter a pretensão de esgotar o assunto".
« Última modificação: 12 de Setembro de 2009, 14:39:56 por Francisco »
Francisco Amorim
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Resposta #38 Online: 12 de Setembro de 2009, 14:49:08
Você leu o sensacional "A Parte e o Todo" do Heisenberg? UYm dos livros mais sensacionais que já li na vida, um livro que deixa claras as questões epistemológicas em uma narrativa extraordinária desde seu início.

Li, tem algum tempo (alguns anos). Tem pouco tempo, acho que umas duas ou três semanas passou no cine conhecimento um filme contando a história do encontro entre Heisenberg e Bohr, antes da segunda guerra e depois extrapolando para um segundo encontro fictício no pós guerra. Achei esse filme interessantíssimo e isso me levou a relembrar do Heisenberg. O filme se concentra na relação dos dois, o conflito que surge na amizade deles por causa da guerra. Vou ver se acho o livro aqui na minha bagunça  :D

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Resposta #39 Online: 12 de Setembro de 2009, 15:43:52
putzzz

 :clap:


Ricardo Lou

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Resposta #40 Online: 13 de Setembro de 2009, 00:33:34
Lendo este "post" desde o começo, não posso deixar de anotar que seu assunto principal quase se perdeu, digo quase, pois, Ivan e Elmo trouxeram à baila assuntos pertinentes ao estudo da fotografia, mas permitam-me dizer, ambos se divorciaram da essencia do tema central.

Com o pequeno intróito aciam, tive apenas a intenção de chamar a atençao para como podemos escrever páginas e páginas com linguajar técnico usado em outras ciências ou estudos. Gostaria, então, apenas de dizer que cada profissão tem sua forma própria de comunicação; cabendo aos docentes de cada uma daquelas ensinar seus dicentes como se fala e escreve naquele meio.


Acredito que o Elmo tem, em partes razão e não, pois como disse cada profissão tem o seu jargão, portanto, algumas considerações sua, Elmo, creio não ser cabíveis, pois compõem o mundo fotográfico, não é por ser docente que você se torna chato, como asseverou, mas sim quando quer empregar termos outros a um estudo diferente dos demais.

Ao Ivan, não concordo quando disse que o "contrato ensino termina na porta da sala de aula", pois aqui você mesmo assume por diversas vezes este status, o de professor, dado seu grande conhecimento de fotografia e assuntos afins; portanto, aquele que tem por profissão a de professor é sempre um profissional 24 horas por dia, receber ouu não vantagem pecuniária para ensinar, é outro lado da moeda! Veja que eu não assinei nenhum contrato ou aderia aos contratos não escritos formalmente quando deste forum decidi participar, apenas concordei com um contrato de adesão que se refere a normas de condutas, mas salvo engano meu, ou lapso de minha mente, lá não havia nada mencionando tratar-se de contrato de estudo, ainda que uma lista de discussão ou fórum, como queiram, pode assumir tal postura, mas nunca se poderá reclarmar direitos sobre o que se aprendeu de certo ou de errado.

Bem como disse no início, há muito se perdeu a essencia deste post e voltando à ela, realmente o Léo Terra fez um grande serviço à fotografia ao trazer aquela coisa mau elaborada sobre o artifício de ensinar alguém sobre alguma coisa de fotografia.

Parabéns Léo pela postagem.
Que a arte (me) aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Oswaldo Montenegro (adaptação nossa)


Kika Salem

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Resposta #41 Online: 13 de Setembro de 2009, 11:39:31
No fórum há um recurso de divisão dos tópicos quando estes abrem compartimentos específicos.

Se os participantes Elmo, Ivan e os demais que interagiram com a discussão semântica não se importarem, posso dividi-lo com outro nome. P. ex.: Vocabulário fotográfico, Jargão fotográfico, A natureza das palavras, aceito sugestões que abarquem tanto a discussão exata dos termos quanto a construção de um jargão fotográfico.

Quanto ao encontro dos dois, tenho certeza que será uma conversa interessantíssima. Em BH, no Rio, onde quer que seja. Quem sabe em Diamantina naquele encontro que estamos planejando sem nada concreto. Na verdade é só uma idéia vaga.
« Última modificação: 13 de Setembro de 2009, 11:41:38 por Kika Salem »


Ivan de Almeida

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Resposta #42 Online: 13 de Setembro de 2009, 11:46:13
Kika;
Eu prefiro não dividido, porque lido bem com a deriva das conversas, na verdade acho que a boa conversa precisa de certo grau de deriva. Sem isso ela fica seca.


Kika Salem

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Resposta #43 Online: 13 de Setembro de 2009, 11:53:32
Kika;
Eu prefiro não dividido, porque lido bem com a deriva das conversas, na verdade acho que a boa conversa precisa de certo grau de deriva. Sem isso ela fica seca.

Tudo bem, por isso perguntei.


Elmo

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Resposta #44 Online: 13 de Setembro de 2009, 17:06:26
Oi, Kika. Tudo tranquilo, precisa segmentar não.


Mas Diamantina não. Ouro Preto que é o lance.
« Última modificação: 13 de Setembro de 2009, 17:06:49 por Elmo »