Só pra tentar ilustrar de maneira mais intuitiva o que o Leo Terra e o Ivan estão falando, um teste interessante de se fazer é fotografar com digital uma parede branca fotometrada para -4, -2, 0, +2 e +4. Quem fizer esse teste e olhar os histogramas vai perceber que o "morrinho" formado é mais gordinho no "0", e vai se afinando ao chegar mais perto das pontas do histograma. O motivo disso é que perto do "zero" o sensor apresenta a sua melhor capacidade de resposta, com mais tons dentro de um mesmo "EV"; e nas pontas, ao contrário, o contraste é mais rápido, menos tons para cada EV. É o contrário do filme, que vai preservar mais tons nas pontas e ser rápido no contraste dos meios tons.
Interessante reparar, por exemplo, que na maioria das fotos uma curva de contraste clássica, em S, trará bons resultados justamente por corrigir essa "característica" do digital: o menor número de tons nas pontas do histograma.
Estou falando tb em filme porque isso não é novidade do digital. Ampliações analógicas são feitas usando filtro de contraste, ou seja, a rigor não se revela a latitude inteira de um negativo (a não ser que seja essa a intenção), da mesma maneira que não se revela a latitude inteira de um RAW. Aliás, a grande sacada do Sistema de Zonas não é conseguir espremer 12 EVs num negativo, pois é muito difícil, muito difícil mesmo, vc arrumar uma cena com 12 EVs pra fotografar. A sacada é justamente contar os EVs da cena, e conhecendo a curva de contraste do filme (ou agora, a do sensor), colocar os EVs na "altura" da latitude desejada de forma a otimizar os contrastes da maneira desejada.
Rodrigo, vc disse que "Adicionar contraste, que é uma prática comum, significa, de certa forma, diminuir a latitude."
Não tem "de certa forma", é isso mesmo: são inversamente proporcionais.
Agora, concordo com vc, Rodrigo, que mais importante do que todo esse blablablá analógico/eletrônico é a possibilidade prática que ele oferece.
Pra mim (e pra muita gente
) a aplicação prática é vc poder capturar tons que estariam fora da sua curva de contraste original e depois trazê-los de volta através de ajustes localizados (o que tb não é "novidade digital", ajuste localizado faz parte da linguagem fotográfica clássica).
Um exemplo:
Aqui eu tive que escolher entre fotometrar pro céu e levantar o castelo e a modelo na pós, ou fotometrar pra modelo e pro castelo e abaixar o céu depois. Tipo quando o pessoal faz aqueles HDR de um RAW só.
Escolhi fotometrar pra modelo e estourar o céu pra recuperar depois, pois era mais importante ter detalhe nela e em todos esses tons de cinza do castelo e deixar "posterizar" o céu do que "posterizar" o castelo e a modelo e ter um monte de tons no céu.
Quanto a 16 bits X 8 bits, num arquivo finalizado de fato não há diferença. Agora, pega um Tiff de 16 bits, salva uma cópia em 8 bits, e aplica o mesmo tratamento nos dois, que vc vai ver que o de 16 bits responde muito mais limpo.