Ivan é o que eu sempre digo...
A nova geração de fotógrafos criada pelas câmeras digitais é a geração dos "clicadores" e não uma geração de fotógrafos.
O princípio da criação de da fotografia como forma de expressão se perdeu completamente para princípios de qualidade associados a fatores de respostas perfeitas da mídia e acima de tudo para uma geração que não sabe ABSOLUTAMENTE NADA sobre fotografia e arte e sustenta sua produção fotográfica com uma ENORME escala de cliques.
O bom fotógrafo é aquele que consegue uma produção expressiva com menos cliques do que a média, que consegue resultados finais que sejam fiéis ao que se imaginou como objetivo e que acima de tudo tenha uma imaginação livre de conceitos restritivos, mesmo porque, como eu sempre digo, a fotografia é a arte de fazer sacrifícios, não adianta esperar que conseguirá um ambiente completamente perfeito para fazer uma foto onde todos os preceitos técnicos e criativos se encontrem, você terá que privilegiar um ou outro, terá que sacrificar um ou outro ponto, nos tempos dos filmes isso era mais evidente, as pessoas não podiam clicar desesperadamente e isso gerava uma necessidade de conhecimentos técnicos e de discernimento para que os indivíduos fizessem os sacrifícios corretos para obter uma boa imagem, hoje a preocupação é clicar e procurar encontrar algo que tenha saído com os preceitos padrão para uma boa qualidade de imagem, é praticamente como uma busca por uma imagem com um padrão de perfeição que nem sempre é inspiradora e muitas vezes acaba sendo uma barreira para a criatividade do fotógrafo, a verdade é que diferente do que sempre foi dito o fotógrafo da era digital é terrivelmente pior e menos preocupado com o conhecimento por trás da fotografia do que o fotógrafo da era da película.
Quando discutimos uma câmera com certas qualidades nós nos referimos a isso buscando entender qual é o máximo de fatores de qualidade de imagem que ela lhe proporcionaria, mas isso não deve ser feito como forma de criar uma prisão ou padronização do que seria uma boa imagem, é apenas um fator que lhe possibilita chegar a mais resultados, uma câmera com tons equilibrados lhe possibilita tanto tons desequilibrados como equilibrados, já o contrário não é verdadeiro, pois as perdas para se atingir os tons equilibrados seriam bem drásticas e nem sempre desejáveis para uma oportunidade onde se busque o equilíbrio, ou seja, o erro não está na escolha de algo preciso (ainda mais em um mundo onde não se troca a mídia como no digital) está no fato de se aprisionar a isso e não buscar o conhecimento necessário para fazer os sacrifícios e obter resultados diferentes do padrão de “máxima qualidade” que buscamos na escolha de um equipamento, ou seja, não podemos escolher o que e como fotografamos da mesma forma que escolhemos nosso equipamento.
Esse assunto veio mesmo a calhar, eu já vinha observando isso a muito tempo cheguei até a comentar com muitos aqui (acho que inclusive em Workshops) essa tendência terrível da fotografia. A maioria dos clicadores que conheço sequer sabe puxar adequadamente um balanço de branco, sequer sabem manipular o ISO e pesar o sacrifício em relação aos benefícios proporcionados, muitos ficam atrelados à cultura da visualização em 100% na tela (que nunca será usada para exibição) e se esquecem de disponibilizar resultados para visualização. Muitos se prendem ao que chamamos de defeitos em uma imagem (que seria especialmente grave para um equipamento pois causariam limitações ao mesmo) e acabam criando limitações para o próprio uso, ou seja, no lugar de se ampliar o leque de possibilidades fotográficas, aumentando a precisão e a qualidade do equipamento, as pessoas acabam por reduzir tal leque a se limitarem a usar sempre o extremo que se pode ser obtido em termos de fator qualidade.
Isso tudo é fruto de 3 fatores básicos, intensa falta de conhecimento sobre fotografia, que provoca uma incapacidade de manipular corretamente os fatores envolvidos em uma boa fotografia, a falsa impressão de que se está fotografando bem só porque consegue uma foto bonita, mesmo que para isso se tenha que fazer mil fotos e acima de tudo ao vício pelo conceito de qualidade estabelecido pelo parâmetro de máxima qualidade que os fabricantes buscam em seus sensores, que quando aliamos à extrema falta de capacidade de discernimento e de conhecimento que vemos na maioria esmagadora dos que se dizem fotógrafos (vulgo clicadores), obtemos uma classe de clicadores totalmente limitada, ignorante e o pior de tudo, fechada para o conhecimento, que não busca freqüentar bons cursos, boas palestras e adquirir conhecimentos realmente úteis para se libertar das limitações de mercados e criar algo que realmente seja fruto da imaginação e da força humana e que possa ser expressado corretamente desde que o equipamento lhe possibilite essa exposição.
Só como exemplo, eu tenho o equipamento que, na minha opinião, é um dos mais equilibrados, e com melhores fatores de qualidade de imagem no mercado hoje e minhas imagens raramente são feitas de forma a garantir uma imagem certinha, muito pelo contrário, trabalho com imagens estouradas, com contrastes e saturações altamente desequilibradas. Esse é o objetivo de minhas imagens, não busco o realismo, busco o imaginário dos quadrinhos, esse é o objetivo das minhas fotografias e é assim que desenvolvo minhas imagens, ou seja, mesmo sabendo que meu equipamento tem potencial para me dar uma imagem praticamente perfeita eu gosto de fazer com que ele erre, mas é claro, isso só é possível quando se sabe exatamente o que provoca a perfeição e o que provoca o erro para que se busque gerar o que se espera.
Foi um ótimo assunto Ivan, legal ter tocado nisso.