Autor Tópico: Sobre câmeras e seus donos  (Lida 710 vezes)

Robson Dombrosky

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Online: 07 de Novembro de 2012, 22:26:03
Olá pessoal! Sei que o tema já bem dominado por todos aqui, mas apesar de ser um conteúdo destinado a um público mais iniciante, resolvi compartilhar este texto de minha autoria, que apresenta uma abordagem um pouco diferenciada sobre uma velha questão que aflige muitos "fazedores de fotos" por aí. Aí está:

Qualquer fotógrafo bem sucedido, seja ele profissional ou entusiasta, só atinge a excelência após percorrer uma boa trajetória no mundo da fotografia. O início é quase sempre o mesmo: em algum momento da vida, não necessariamente na juventude, o indivíduo começa a tirar fotos descompromissadas, geralmente utilizando um equipamento limitado, mas suficiente para colocá-lo em contato com o mundo da fotografia. Aí, aos poucos, à medida que ele vai tirando fotos e mais fotos e toma gosto pela coisa, começa a manifestar um desejo de ir mais longe, de tirar fotografias cada vez melhores, de não mais fazer meros registros, mas sim produzir imagens capazes de levar adiante a sua identidade como fotógrafo. Quando esse momento chega, o indivíduo eventualmente se dá conta da existência de uma certa redoma de vidro sobre sua cabeça impedindo-o de voar mais alto. É a sua câmera que precisa ser substituída por um equipamento fotográfico que acompanhe sua evolução.


Minha primeira câmera, uma Kodak Instamatic, fabricada entre 1971 e 1977

Hoje em dia, com a popularização das câmeras digitais, esse primeiro contato com o mundo da fotografia foi imensamente facilitado, e com ele o aprendizado, já que contamos com um feedback instantâneo daquilo que fazemos, além da possibilidade de realizar milhares de testes sem gastar com revelação de filme.  E de tão acessível, fala-se muito na banalização do ato de fotografar, onde qualquer pessoa tira centenas de fotos sem qualquer preocupação com a qualidade do material e, não satisfeito, distribui estas mesmas centenas nas redes sociais. Mas apesar desses reflexos dos “tempos modernos” da fotografia, uma coisa não vai mudar nunca: fotos de qualidade diferenciada sempre vão requerer conhecimento e talento do fotógrafo, pelo simples fato de que, independente de quão modernas e eficientes as câmeras fotográficas se tornem, elas sempre serão máquinas, apenas máquinas. E a boa fotografia captura não só uma imagem, mas um momento vivido por um ser humano, coisa que máquina nenhuma jamais será capaz de processar.



Praia Grande – Ilha do Marajó: uma fotografia “humanizada” tem a capacidade de transformar em coisa bela o que poderia ser um mero entulho na areia

E se hoje, ao contrário do passado, tirar fotos por vezes nos parece um ato extremamente simples e até banal, que caminho os novos fotógrafos de sucesso tem percorrido para adquirirem competência na área? Tal como antes, o cenário se repete bastante: a pessoa carrega consigo uma câmera fotográfica compacta e inteiramente automática (cada vez mais se usam os celulares), com a qual faz fotos casuais do dia-a-dia com família e amigos. A câmera é bonitinha e cumpre sua função. Mas eis que, dentro deste meio, surgem uns quantos que começam a gostar um pouco mais da brincadeira, e ficam com vontade de tirar fotos iguais àquelas da National Geographic. O que fazer para chegar lá? Investir em uma câmera profissional? Isto é o que muitos pensam, e para fala à verdade, é um raciocínio de certa forma válido, desde que haja uma boa contrapartida por parte do operador dessa câmera. Isso porque um equipamento mais avançado, tal como uma câmera DSLR, exigirá conhecimentos e habilidades bem além daquelas necessárias para apontar a máquina para um objeto e pressionar um botãozinho prateado.


O que ela tem que eu não tenho? Se não souber responder não compre.

O que poucos sabem e muitos duvidam, é que a maioria das câmeras disponíveis no mercado hoje tem condições de tirar boas fotos, seja ela uma máquina simples, semi profissional ou uma reflex das mais avançadas. A diferença só começa a se tornar evidente quando a fotografia é realizada sob circunstâncias e situações mais específicas. E nessas situações, uma câmera profissional pesada e volumosa, além de uma potencial dor nas costas, não faz nada mais do que facilitar o trabalho de alguém capacitado para usufruir dos recursos que esse tipo de equipamento oferece. Neste caso, o fotógrafo fica livre para canalizar todo seu esforço na produção de uma fotografia criativa e de alta qualidade, mesmo em situações mais desafiadoras. Em outras palavras, uma câmera avançada dá asas ao pacote talento+conhecimento+prática, pacote este que necessariamente precisa existir no fotógrafo para que consiga extrair do equipamento todo o seu potencial.

Façamos agora uma analogia envolvendo o desempenho de carros distintos nas mãos de diferentes motoristas. Entregue um Fusca ao Nelson Piquet e um Porsche a um aprendiz de autoescola e coloque-os a competir em uma pista sinuosa. O aprendiz fará tempos semelhantes com ambos os carros, porque sua competência como motorista é limitada e não permite que ele tire o devido proveito das vantagens do Porsche. Por outro lado, o Nelson Piquet terá um desempenho infinitamente superior quando tiver o Porsche em suas mãos, pois sua grande competência como piloto lhe permite explorar a superioridade do carro esportivo frente ao competente, porém tímido Fusquinha.

Algo semelhante ocorre com o fotógrafo e sua câmera. Da mesma forma como o Piquet será capaz de andar a 140 km/h com um Fusca desde que esteja dirigindo ladeira abaixo, o bom fotógrafo também vai conseguir tirar excelentes fotos com uma câmera de bolso se as condições do ambiente forem favoráveis. Já com uma câmera profissional, o bom fotógrafo terá mais recursos para contornar condições desafiadoras, desde que esses recursos sejam dominados por ele. O aprendiz de autoescola com um Porsche nas mãos, em contrapartida, não vai conseguir manter alta velocidade em uma pista sinuosa, pois provavelmente vai errar o tempo das marchas e o traçado da pista, isso se não se esborrachar em alguma curva antes.

Mas voltando às câmeras, onde fica cada uma delas nessa nossa analogia automobilística? Vamos dividir todo o segmento do mercado em três grandes grupos considerando os quesitos desempenho e “prazer de dirigir”:


Da esquerda para a direita: um Fusca, um Opala e um Porsche

Para aqueles que querem algo mais do que fotos casuais da família e dos amigos e que dominam a teoria básica da fotografia, as câmeras “Opala” e “Porsche” permitem que você assuma o controle de diversos parâmetros de qualidade de uma fotografia, situação que permitirá explorar mais livremente sua capacidade criativa e também contornar condições fora do padrão para o qual as câmeras automáticas estão preparadas. Nesse sentido, uma câmera “Opala” já nos serve muito bem, pois mesmo sem oferecer o desempenho de um “Porsche”, já conta com os recursos necessários para que você consiga começar a ditar as regras de como sua foto será feita, ao invés de ficar à mercê das vontades de uma câmera totalmente automática, nesse caso, nosso Fusquinha.

Digamos então que você ainda não domine a teoria básica da fotografia, mas já foi fisgado por esta arte e sabe muito bem que vai passar a se dedicar ao assunto: chegou a hora de começar a considerar a aquisição de alguma câmera que te ofereça controles manuais de exposição (ISO, tempo de exposição e abertura do obturador), pois em outros artigos serão abordados mais especificamente a utilização desses controles manuais. Caso contrário, não há razão para aposentar seu simpático Fusquinha que, pensando racionalmente, sempre te levou onde você quis ir, sempre coube em qualquer vaga e nunca te deixou na mão.

Este artigo foi originalmente publicado em:
http://www.viajenaimagem.com/2012/10/cameras-digitais-e-seus-donos.html