Eu acho que o fotógrafo tem um pouco de DJ imagético. Escolher as fotos que serão apresentadas é um aspecto tão importante quanto a composição e a exposição. Até acho sacanagem quando resolvem apresentar a público "negativos perdidos" do Capa, do Ansel Adams ou Bresson, por exemplo. Se eles não mostraram, é porque foram fotos rejeitadas. É como se não tivessem sido clicadas - não passaram pelo controle de qualidade.
Assim, o olhar crítico do fotógrafo envolve o processo de seleção sobre o que será mostrado. Mostrar uma foto indesejada vai quebrar o conceito do ensaio, vai dizer mais do que o que você quer dizer. Talvez você deixe de fora uma foto que o cliente acharia o máximo, mas não importa. Você precisa ter convicção de que o seu trabalho reproduz o que o cliente pede. Se você acreditar, o cliente também vai.
Eu não ganho a vida como fotógrafo, sou amador, mas quando apresento fotos aos meus amigos, parentes, contatos do Facebook, etc, eu canso de descartar fotos "boas" que não encaixam no resto da proposta. Para mim, mostrar uma única foto é como uma frase vaga ou uma poesia concreta; mostrar duas fotos é como um parágrafo em prosa; três fotos já é um argumento um pouco mais elaborado. Fotos demais podem demonstrar uma linguagem prolixa ou insegura, excessivamente descritiva, realista demais, ainda que uma fotografia represente sempre uma realidade delimitada.
Claro que posso me propor a fazer 1000 fotos e apresentá-las numa exposição. Isso também é possível, desde que você esteja consciente das consequências em termos de leitura e significado que uma proposta dessas provoca no observador.
Já tirei fotos em sequência que produziram resultados que eu nem imaginava, como por exemplo, surgir uma pessoa numa pose inesperada que só fui descobrir olhando no computador. Portanto, a seleção também faz parte do processo, a fotografia ainda está sendo "revelada" nesta etapa.